Prefeito é acusado de acionar a policia para retirar moto-niveladora retida em protesto.
A administração da prefeitura de Cruzeiro do Sul se notabilizou por ter verdadeira aversão ao diálogo com as comunidades quando essas se mobilizam para reivindicar, solução de muitos problemas por eles vividos.
Os habitantes do Passo Fundo, que mobilizados em protesto aguardaram por toda a quinta-feira (03) pela presença de algum secretário municipal ou assessor na comunidade que pudesse negociar uma pauta de reivindicações, foi surpreendida com a presença de homens da Policia Militar, logo bem cedinho, na manhã da última sexta-feira (04). Os policiais haviam sido acionados pelo Assessor da prefeitura Neto Vitalino, segundo uma fonte da PM de Cruzeiro do Sul.
Vitalino teria, em nome do prefeito, solicitado do comando da Policia Militar que uma patrulha policial, acompanhasse o operador de uma máquina, até a comunidade do Passo Fundo, com o propósito de garantir a retirada de uma moto-niveladora do local. Alegava o assessor da prefeitura que um morador estava criando problemas e ameaçando o operador da máquina de agressão, caso removesse a mesma da comunidade. O assessor omitiu da PM a realidade sobre o motivo da retenção do equipamento. Não informou que se tratava de um protesto da comunidade contra o péssimo estado da estrada de acesso, bem como pelo serviço de recuperação do ramal, considerado deficitário.
A equipe de policiais, comandada pelo Ten. Emilson, chegou no inicio da manhã à comunidade Passo Fundo. Os policiais esperavam que o assessor da prefeitura estivesse no local, mas o mesmo não compareceu conforme prometera na véspera. Segundo o Tenente Emilson, apenas um automóvel, parado junto da máquina, impedia sua retirada. Ele teria indagado sobre o proprietário do veículo. Identificado o dono do carro, conforme relato do PM, o mesmo recusou-se a retirá-lo.
Nesse momento, Genival de Araújo Monteiro recebeu voz de prisão por desobediência e desacato a autoridade policial. A partir desse momento outros moradores, que ainda dormiam ou encontravam-se no interior de suas residências, saíram em defesa do morador preso. Houve então, muito tumulto e bate-boca entre policiais e moradores. Francisco Geneilson de Araújo Monteiro também recebeu voz de prisão. Várias pessoas denunciaram, na Delegacia Geral de Polícia da cidade, abuso de autoridade e violência por parte da PM. Mulheres e homens idosos afirmam terem sofrido agressões físicas.
A jovem Estefani dos Santos Monteiro, 16 anos, que alega ter sido agredida fisicamente pelos policiais, relatou que a única coisa que fez no momento do ocorrido foi ir para frente do carro dos policiais para impedir que o pai, brutalmente imobilizado, saísse da comunidade. “A policial me agrediu, me enforcou e me arranhou! Achando pouco, ainda, os outros policiais apontaram a arma para todos nós que estávamos ali”, se emocionou a jovem.
Jeferson da Silva Gaspar, 14 anos, afirma que teve uma arma apontada em sua direção por um dos policiais. “Eu estava apenas pedindo para soltarem o morador, que estava sendo preso injustamente, quando o policial pediu para eu afastar apontando a arma na minha cara”, contou.
Tainá Santos, 18 anos, mãe de uma criança de colo, com apenas 1 mês, confessou ter sido agredida física e verbalmente pelos PMs. “Eu estava com minha filha no colo, quando apenas me aproximei para pedir que os policiais parassem de agir com tanta violência contra o meu vizinho. Eles me empurraram e ainda nos chamaram de vagabundas”, disse Taína.
Nelinho Lima da Silva, presidente dos moradores no ramal Passo Fundo há três anos, contou que toda a ira do prefeito se deu pelo fato dos moradores terem em protesto e para chamar atenção para os problemas enfrentados pela comunidade, retido à máquina de terraplanagem. Nelinho diz que essa foi a forma encontrada para pressionar a administração municipal para comparecer na comunidade, abrindo uma negociação que levasse a solução de muitos problemas por eles vividos, inclusive a necessidade de pavimentação da estrada de acesso.
“Não queremos briga, queremos melhorias para a comunidade. Infelizmente, nossas reivindicações nunca foram atendidas. Vivemos numa república democrática em que podemos lutar por nossos direitos, porém, ao que nos parece, o prefeito se comporta como um coronel de barranco, tentando resolver os problemas administrativos com polícia e violência”, enfatizou Nelinho.
“É lamentável o episódio. Essa não é a orientação dada pela Secretária de Segurança e pelo Governo do Estado, para a polícia Militar. Infelizmente observamos nos vídeos, excessos. Mas o que nos deixa mais indignado, é saber que ontem a comunidade passou o dia inteiro numa manifestação, esperando por um representante municipal ou Prefeito e ninguém apareceu, para dialogar as melhorias no local. E hoje, pela manhã, os moradores são surpreendidos com a polícia, a mando do prefeito, intermediado pelo assessor direto, Neto Vitalino, que induziu a policia há tal barbárie. Isso é uma vergonha!”, disse o vereador Valdemir Neto.
Um representante da Defensoria Pública do Acre acompanhou os moradores na Delegacia de Polícia, ocasião em que mais de uma dezena de pessoas, entre homens e mulheres, registraram queixas contra os policiais militares envolvidos na operação. A máquina que o prefeito pretendia retirar com ajuda da polícia continua retida no Passo Fundo. Os dois homens presos foram colocados em liberdade no início da tarde de sexta-feira. Segundo o presidente da associação, os moradores continuarão em mobilização e, até que o prefeito compareça pessoalmente para negociar, a comunidade manterá a moto-niveladora no local.
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