Por Dagmara Spautz
19/11/2019 - 15h37 - Atualizada em: 20/11/2019 - 12h30
Um dado em especial chama atenção na pesquisa da antropóloga Adriana Dias, que mapeou grupos neonazistas no Brasil: a identificação de duas células da "Ku Klux Klan" em Santa Catarina. Não há meias palavras para designar o que representa a organização, que nasceu nos Estados Unidos no século 19. É um grupo que prega a supremacia branca. Uma organização racista.
Racismo é crime no Brasil desde a Constituição de 1988. Foi regulamentado em lei, que prevê pena de prisão. Integrantes de um grupo que defende “superioridade e pureza racial” em SC são muito mais do que uma associação de mau gosto. São criminosos.
A imagem de um membro da Ku Klux Klan foi usada para ilustrar os cartazes colados em 2017 em um poste e na parede da casa de um ativista e advogado negro, Marco Antônio André, Blumenau. Dois anos depois, o Ministério Público ainda não denunciou ninguém pelo crime – embora a Polícia Civil tenha identificado e prendido suspeitos.
Marco Antônio disse à coluna que saber da existência de células da Ku Klux Klan em Santa Catarina – mais especificamente em Blumenau, onde ele mora e atua – não o surpreende. Estamos em um país profundamente racista, lembra o advogado.
Intolerância levada a sério
É necessário que as autoridades tratem a existência de organizações de supremacia racial em Santa Catarina com a seriedade que o assunto merece.
Em 2017, nos Estados Unidos, a pequena cidade universitária de Charlottesville assustou o mundo ao sediar uma marcha de centenas de homens e mulheres gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus. Uma cena “surreal”, como descreveu o repórter da BBC Brasil, Ricardo Senra.
A marcha neonazista de Charlottesville surpreendeu porque deu cara a um movimento que rondava pelas sombras. E que jamais foi extinto.
Temos no Brasil um racismo e preconceito enraizados e uma tarefa hercúlea, para superar séculos de intolerância. Não se deve amenizá-los sob o discurso da liberdade de expressão.
Ao discorrer sobre democracia, o filósofo Karl Popper falou no paradoxo da tolerância. Disse ele que, ao aceitar os extremos da intolerância alheia, podemos ter como resultado final o aniquilamento da própria tolerância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário