Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica
Esqueceram os anos de chumbo do regime de exceção
Crescimento e corrupção
Durante as duas décadas de ditadura, uma eficiente máquina de propaganda e marketing tratou de construir a imagem de um País pulsante, abençoado por Deus, bonito por natureza e rumo à liderança mundial. Sob o slogan de “Brasil Ame-o ou Deixe-o”, enquanto nos porões do regime centenas de pessoas eram seviciadas e mortas, a propaganda oficial mostrava uma Nação em crescimento nunca visto anteriormente. De fato, no início dos anos 1970 o Brasil mostrou crescimento perto de 10% ao ano. Tornou-se uma espécie de paraíso das multinacionais – principalmente as do setor automobilístico – mas graças a uma monumental dívida externa, cuja conta até hoje nos atrapalha. Quando deixaram o poder em 1984, os militares registravam uma dívida equivalente a 54% do PIB, valor quatro vezes superior ao que encontraram em 1964. Um crescimento que, se de um lado contribuiu de forma inquestionável para a industrialização do País, de outro propiciou uma concentração de renda absurda. Em 1965 os 1% mais ricos do Brasil recebiam 10% da renda média do País. Em 1968 esses mesmos 1% abocanhavam 16% da renda nacional. Quando a desigualdade se tornava visível, a ditadura se justificava dizendo que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. “Embora o regime tenha aparelhado muito bem grande parte de nosso parque industrial, melhorado técnica e tecnologicamente nossa infraestrutura, quando veio a conta, veio muito alta”, afirma Guilherme Grandi, professor da FEA/USP.
Outra percepção tão falsa quanto recorrente é a de que no período da ditadura não havia corrupção. “Vários estudos já comprovaram que existia corrupção no regime militar, sem que houvesse qualquer tipo de investigação”, diz Grandi. Segundo ele, a promiscuidade entre os interesses privados e os órgãos públicos foi aprimorada no regime militar. E, de fato, mesmo com a censura e com os órgãos de fiscalização sob absoluto controle dos generais, escândalos como o caso Lutfalla, que propiciou o desvio de recursos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico para a família de Paulo Maluf, um aliado de primeira hora dos militares, não passaram despercebidos, embora ninguém tenha sido responsabilizado por eles. O mesmo ocorreu com o caso da quebra do grupo Coroa-Brastel, que teria sido favorecido com empréstimos irregulares concedidos pela Caixa Econômica Federal e deixou milhares de investidores a ver navios.
“Depois de tudo o que passamos, defender a intervenção militar é agredir a sociedade, é querer tirar do brasileiro o direito de escolher seus governantes e o destino do País. Quem faz esse discurso é abutre da democracia”, diz o ministro da Segurança, Raul Jungmann. Já entre os ministros do STF e na Procuradoria Geral da República, a defesa da intervenção militar vem sendo tratada como um crime, definido pela Lei de Segurança Nacional, uma das heranças da ditadura.
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