Ustra foi chefe do DOI-CODI, acusado de inúmeros crimes pela Comissão da Verdade28.fev.2018 às 17h00
Rubens Valente
BRASÍLIA
No seu discurso de despedida do Exército, nesta quarta (28), o general do Exército Antonio Hamilton Mourão, chamou de "herói" o coronel Carlos Brilhante Ustra (1932-2015), ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos principais órgãos da repressão durante a ditadura militar e acusado de inúmeros crimes pela Comissão Nacional da Verdade.
O general Mourão deixou a Secretaria de Economia e Finanças do Comando do Exército nesta quarta e passou à reserva, após ter dado declarações públicas com sugestão de uma intervenção militar e críticas ao presidente Michel Temer.
Após a solenidade, indagado pela Folha sobre a menção a Ustra, Mourão disse que ele foi seu comandante, "combateu o terrorismo e a guerrilha, por isso ele é um herói”.
Na entrevista, Mourão atacou a intervenção determinada pelo governo no Rio e disse que o interventor, o general Braga Netto, é "um cachorro acuado" porque a intervenção deveria ter também afastado o governador Luiz Pezão (MDB).
"A intervenção no Rio de Janeiro é uma intervenção meia-sola. Vamos lembrar do século 19, houve várias intervenções nas províncias. O interventor era o ‘Caxias’. Assumia o quê? O poder político e o poder militar. O [general interventor] Braga Netto não tem poder político. O Braga Netto é um cachorro acuado, no final das contas. Não vai conseguir resolver o problema dessa forma. E nós só vamos apanhar", disse Mourão.
O general afirmou que, agora que deixou o Exército, será candidato a presidente do Clube Militar, no Rio, e vai trabalhar na candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro. Disse que, "se preciso", "subirá no palanque" em prol do candidato.
Mourão disse que o "regime que nós vivemos" é frágil, "onde a moral e as virtudes foram enxovalhadas. As pessoas entram na política não para servir, mas para se servir, esse é o recado. Se não mudarmos a moral do nosso regime, o nosso país não vai ter futuro".
O general disse que o Judiciário deveria "expurgar da vida pública aquelas pessoas que não têm condições de participar". Indagado se ele incluiria o presidente Michel Temer (MDB) nesse cenário, Mourão respondeu que sim. "O [cineasta] José Padilha foi muito feliz ao definir que existe um mecanismo nesse país. Esse mecanismo tem que ser desmontado. Se não for, nós vamos continuar eternamente a ser o cachorro comendo o rabo."
Em dezembro, Mourão irritou Temer ao dizer que o presidente "vai aos trancos e barrancos" e tenta se equilibrar no governo "mediante o balcão de negócios". Três meses antes, ele havia dito em uma palestra promovida pela maçonaria em Brasília que seus "companheiros do Alto Comando do Exército" entendem que uma "intervenção militar" poderia ser adotada se o Judiciário "não solucionar o problema político" do país.
A saída de Mourão do posto havia sido oficializada em ato de Temer três dias após as declarações sobre o presidente. Em 2015, Mourão foi exonerado do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, e transferido para Brasília após também fazer críticas ao governo de Dilma Rousseff.
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comentários
MAURICIO GRABOIS
28.fev.2018 às 17h37TAMOTSU KASHINO
28.fev.2018 às 17h54EDUARDO DE LIMA
1º.mar.2018 às 1h02