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Grupo de extermínio de Ribeirão lembra esquadrão da morte

16/03/2003 - 10h42

Grupo de extermínio de Ribeirão lembra esquadrão da morte

da Folha de S.Paulo, em Ribierão Preto

Para o advogado e atual vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo (PT), somente uma investigação da Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público do Estado de São Paulo seria capaz de punir os policiais suspeitos de formar um grupo de extermínio em Ribeirão Preto (314 km a norte de SP).

"Enquanto as corregedorias das polícias estaduais estiverem à frente do caso, não vai dar em nada porque eles sempre acobertam tudo", disse.

Bicudo fala sobre o caso com o conhecimento de quem combateu de frente os desmandos do esquadrão da morte comandado por Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979), delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social). 

À época, o advogado era procurador de Justiça do Estado e começou a estranhar alguns assassinatos ocorridos na cidade de São Paulo. Alguns tinham bilhetes com mensagens de vingança do esquadrão.

O grupo surgiu em 1968, quando policiais de São Paulo viajavam para o Rio de Janeiro para aprender a "técnica" de eliminar bandidos com a Scuderie Le Cocq, esquadrão criado quatro anos antes para vingar a morte do detetive Milton de Oliveira Le Cocq por um bandido carioca.

O esquadrão paulista era formado por cerca de 35 policiais, sob o comando de Fleury. Em três anos, mataram cerca de 500 pessoas, a maioria traficantes.

Segundo Bicudo, em troca de dinheiro, os policiais agiam como mercenários, protegendo quadrilhas do narcotráfico. É exatamente dessa forma que a Promotoria de hoje acha que age o grupo de Ribeirão.

Bicudo começou as investigações sobre o grupo ainda em 68. Em 70, denunciou os 35 policiais. Mas somente cinco foram punidos _todos da base da corporação. Fleury saiu ileso. Continuando as apurações, Bicudo conta que já estava conseguindo provar o envolvimento do então governador Abreu Sodré com o esquadrão, quando foi destituído do cargo por pressão política.

O esquadrão de Fleury serviu de base para outras organizações policiais semelhantes que a sucederam, como a que se supõe que exista em Ribeirão. "As características são as mesmas, só que agora os métodos empregados são mais aperfeiçoados que os da época, o que dificulta a descoberta das quadrilhas", disse.

O advogado aponta que, por uma questão cultural, dificilmente organizações desse tipo vão deixar de existir. "As pessoas aplaudem, acham que é bom matar bandido. Porém, no transcorrer do tempo, elas também podem ser vítimas desse vale-tudo", afirmou Bicudo. O advogado relançou no ano passado seu livro "Meu Depoimento sobre o Esquadrão da Morte" (editora Martins Fontes), originalmente publicado em 1976.

O esquadrão da morte dos anos 70 foi o trampolim para Fleury se tornar um dos policiais mais poderosos na repressão aos oposicionistas ao regime militar. Em 1971, por ordem do Exército, os policiais do grupo passaram a ser usados na luta contra comunistas e membros da luta armada.

A estrutura do Dops de Fleury acabou originando também a Oban (Operação Bandeirantes). Criado secretamente em São Paulo em julho de 1969, o órgão teve presença de militares e civis e se tornou um dos principais grupos do regime militar na luta contra opositores. Foi idealizado pelo general José Canavarro Pereira, a partir de experiências com a OPS (Seção de Segurança Pública), órgão norte-americano que treinou polícias estrangeiras.

Folha Online - Cotidiano - Grupo de extermínio de Ribeirão lembra esquadrão da morte - 16/03/2003





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