Ditadura militar usou pelo menos sete centros de tortura no Brasil, aponta relatório da CNV
Pelo menos sete centros de tortura foram usados para interrogar, torturar e matar opositores do regime militar (1964-1985) em vários Estados do Brasil. Os dados que apontam nessa direção foram divulgados nesta segunda-feira (7) pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em São Paulo. Outros dez possíveis centros de tortura, localizados em nove Estados, estão sendo investigados.
O relatório, apresentado pela equipe coordenada pela professora Heloísa Starling, do Projeto República da CNV, apresenta imagens, depoimentos e uma construção esquematizada de como funcionavam esses sete centro de torturas já identificados, no período entre 1970 e 1975.
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O mais notório deles foi a Casa Azul, que ficava em Marabá (PA), às margens da Rodovia Transamazônica. O local foi usado durante o combate dos militares contra a Guerrilha do Araguaia, capitaneada pelo PC do B no início dos anos 70. Segundo Heloísa Starling, não foi possível colher depoimentos sobre a Casa Azul porque não há registro de sobreviventes dentre os que para lá foram enviados.
De acordo com o presidente da CNV, Pedro Dallari, o quadro registrado na Casa Azul foi recorrente durante a ditadura militar no País, com locais sendo destinados à violação de direitos humanos, de maneira sistemática. A localização de tais locais podia ser rural ou urbana, de acordo com a logística empregada em casa localidade do País.
Outro centro de destaque no relatório é a Casa de Petrópolis, também chamada de Casa da Morte, que foi cedida por um empresário simpatizante dos militares e que funcionou na cidade serrana do Rio de Janeiro. A sobrevivente Inês Etienne Romeu cedeu um depoimento dos horrores que viveu dentro do local nos anos de chumbo.
“Fui conduzida para uma casa [...] em Petrópolis. [...] O dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou-me pelo chão, segurando-me pelos cabelos. Depois, tentou me estrangular e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e deram-me pancadas na cabeça. [...] Fui várias vezes espancada e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. A certa altura, o dr. Roberto me disse que eles não queriam mais informação alguma; estavam praticando o mais puro sadismo, pois eu já havia sido condenada à morte e ele, dr. Roberto, decidira que ela seria a mais lenta e cruel possível, tal o ódio que sentia pelos ‘terroristas’”.
Ainda no RJ foi identificado outro centro: a Casa de São Conrado.
O Estado de São Paulo abrigou pelo menos três centros de tortura: a Casa do Ipiranga, que ficava próxima ao atual Museu do Ipiranga e que concentrava os militantes de esquerda que passaram a colaborar com os militares, na capital; a Fazenda 31 de Março, localizada próxima da Represa Guarapiranga; e a Casa de Itapevi, na região metropolitana da capital.
A Casa do Renascença funcionava em Belo Horizonte. Os demais centros em investigação ficam na região Nordeste (cinco), no Centro-Oeste (dois), no Sudeste (dois) e Sul (um).
Delegado nega torturas
Em sessão reservada a seu pedido, o delegado Dirceu Gravina, hoje no Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter), depôs à CNV e negou ter participado de torturas durante o regime militar. Dois momentos criaram contradição para Gravina: o primeiro quando ele afirmou que os gritos dos presos seriam “simulados”, sem saber explicar a diferença entre um grito verdadeiro e um simulado por vítimas de tortura.
O segundo foi quando confrontado por uma sobrevivente de torturas que teriam sido dirigidas por Gravina. A vítima declarou ter sido torturada pessoalmente por Gravina, que teria como prerrogativa durante as sessões violentas de se autoproclamar “deus”, por supostamente ter o poder de determinar quem viveria e quem morreria durante as torturas.
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