Roberto Alvim, o Goebbels de araque, caiu. Mas é preciso ficar atento à estética autoritária do governo Bolsonaro. Foto: André Coelho, Folhapress
Em 1968, Caetano Veloso fez um memorável discurso durante sua apresentação no Festival da Canção, interrompendo a execução de É Proibido Proibir para responder às vaias de uma plateia que exigia uma arte engajada à esquerda como forma de combate ao regime militar. Uma das frases do discurso é, para mim, marcante:
— Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos.
Lembrei da frase imediatamente assim que vi o lamentável Roberto Alvim emular Joseph Goebbels para lançar um prêmio de cultura destinado a valorizar a arte nacional. Tudo ali estava encharcado da estética nazista, não apenas os trechos do discurso decalcado de uma fala do ministro da propaganda de Adoph Hitler. O espírito de um prêmio em que o Estado guia o que é a cultura nacional, o enquadramento da câmera, o cenário, a música do compositor alemão Wagner ao fundo, a postura soturna na atuação do canastrão (agora) ex-secretário nacional de cultura.
Alvim caiu diante da reação imediata das forças vivas da sociedade, das instituições, da repercussão negativa gerada por algo que passou de qualquer limite aceitável. Nem o padrinho Olavo de Carvalho saiu em defesa do pupilo. Mas a queda do inadequado Alvim não pode varrer para baixo do tapete a tentação autoritária que ronda setores governo do presidente Jair Bolsonaro.
Ela surge de tempos em tempos. Ano passado, coube ao filho zero-três e deputado federal Eduardo Bolsonaro citar um revival do Ato Institucional nº 5 como possibilidade diante de protestos de militantes de esquerda contra o governo. Uma das peças mais autoritárias da história brasileira, o AI-5 deu ao regime militar o poder de sufocar qualquer forma de contestação — o terror de Estado. Não se invoca nem por brincadeira, como o nazismo. Qual será a próxima invocação?
Há uma estética no bolsonarismo. Algo meio truculento, meio improvisado, com referências grotescas ao passado — Alvim e o nazismo, Eduardo e o AI-5, o próprio Bolsonaro e seus elogios ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ponta-de-lança da repressão no regime militar, apontado como torturador. Se eles forem em política como são em estética, estaremos a postos. A democracia e as instituições brasileiras vão colocar limites em toda tentação autoritária — como demonstrado nesta sexta-feira.
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