JUSTIÇA: Policiais Civis que balearam Juiz do Trabalho em blitz, em 2010, são expulsos da corporação
Mesmo baleado, o juiz conseguiu dirigir até o Hospital Cardoso Fontes
Foto: Marcelo Piu / O Globo
Dois policiais civis que participaram da blitz na qual o juiz do Trabalho Marcelo Alexandrino da Costa Santos, de 41 anos, foi baleado, em outubro de 2010, na Grajaú-Jacarepaguá, serão expulsos da corporação. A Corregedoria Geral Unificada (CGU) concluiu o processo contra os policiais ontem. Bruno Souza da Cruz e Bruno Rocha Andrade serão demitidos por transgressão disciplinar. A decisão deve ser publicada hoje no Diário Oficial.
Pensando se tratar de uma blitz falsa, o juiz deu ré, e foi baleado. Os policiais que participavam da blitz confundiram o carro com o de bandidos, e abriram fogo contra Marcelo e sua família. Além do juiz, foram atingidos o seu filho, de 13 anos, e sua enteada, de 10. Ainda estavam no carro a mulher do magistrado e sua sogra, que não foram atingidas. Perícia da Polícia Civil feita na época confirmou que os policiais Bruno Souza e Bruno Rocha é que fizeram os disparos.
Afastado do trabalho, por conta de dores fortíssimas que ainda sente, o juiz trava agora uma batalha contra a morosidade da Justiça. Com gasto mensal de quase R$ 4 mil com remédios, médicos e psicólogos, já conseguiu decisão favorável, da 5ª Vara de Fazenda Pública, para que o estado reembolse os gastos. Mas a quantia ainda não foi liberada. O estado chegou a entrar com dois recursos contra a decisão, mas ela foi mantida. João Tancredo, advogado do juiz, acredita que o dinheiro saia em breve.
- Eu, fazendo parte do poder do estado, hoje sofro com essa perversidade, de ficar protelando o pagamento. E quem não tem condições de pagar, para depois ser reembolsado? Meu padrão de vida já caiu muito - conta Alexandrino.
Gastos
Por mês, Marcelo gasta R$ 800 de remédios. As consultas médicas comprometem mais R$ 450 do orçamento, em média, todo mês. Só com psicólogos para os quatro (o juiz, sua mulher e as duas crianças), o gasto é de R$ 2,4 mil por mês. Têm ainda as despesas com combustível devido aos deslocamentos constantes, que aumentaram.
- Logo após o acidente, era ainda pior. Tínhamos que fazer fisioterapia respiratória (R$ 1.920 por mês) e, por ordem médica, natação e pilates para as crianças. Além disso, estou afastado do trabalho devido às dores que sinto na costela, reduzindo em 5% a minha renda - conta a esposa de Marcelo, a farmacêutica Sunny Lucas Mariano, de 30 anos.
Procurado para falar sobre os recursos o governo do estado disse que "irá pagar o tratamento psicológico dos autores do processo mediante a apresentação de recibos com valores de mercado, de acordo com a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro".
Na ação judicial, além dos gastos com o tratamento da família, o advogado João Tancredo pede que o estado pague uma pensão para o juiz, além de dano estético, moral e material.
Relembre o caso
O juiz trabalhista Marcelo Alexandrino da Costa Santos passava, pouco antes das 19h, na Estrada do Pau Ferro, próximo à Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, a caminho de uma festa. O juiz, que dirigia um Kia Cerato, tentou retornar ao ver uma blitz da Polícia Civil, que pensou ser falsa. Nesse momento, o carro foi atingido por tiros de fuzil.
Baleado no tórax e com pulmão perfurado, Marcelo permaneceu consciente e dirigiu até o Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, batendo o carro no muro do setor da emergência. Natália, sua enteada, foi atingida no tórax por uma bala que se alojou no abdômen. Já seu filho, Diego, levou um tiro no tórax, que perfurou o pulmão, o diafragma e o fígado.
Também estavam no veículo do juiz sua mulher, Sanny Lucas, de 28 anos, e a mãe dela, Arlete Castro Aragão, de 53, que sofreu um corte na boca. Sanny, que é mãe de Natália, não se feriu, mas ficou em estado de choque.
Em função das eleições, a Polícia Civil realizava, no dia, blitzes em diversas localidades, entre elas a subida da Grajaú-Jacarepaguá.
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