Historiei a atuação dessa unidade da Polícia Militar, criada para combater a guerrilha urbana e que, depois de massacrados os combatentes da resistência à ditadura, passou a aplicar os mesmos métodos de torturas e assassinatos contra criminosos comuns.
Lembrei que o excelente livro Rota 66, do colega jornalista Caco Barcellos, documentara “4.200 casos de assassinatos cometidos pela Rota nas décadas de 1970 e 1980, tendo como vítimas, quase sempre, jovens pobres, pardos e negros (muitas vezes sem antecedentes criminais)”.
E cheguei ao fulcro da questão: a Rota continuava destacando, com indisfarçável orgulho, os atentados que cometeu contra a democracia (ver, aqui, os itens História do Batalhão e Os Boinas Negras).
Reproduzi vários trechos da página virtual, como este:
“Mais uma vez dentro da história, o Primeiro Batalhão Policial Militar ‘Tobias de Aguiar’, sob o comando do Ten Cel Salvador D’Aquino, é chamado a dar seqüência no seu passado heróico, desta vez no combate à Guerrilha Urbana que atormentava o povo paulista”.
Aliás, tal batalhão, antes mesmo de dar origem à Rota, já cumprira papel deplorável na quartelada de 1964, atuando como força auxiliar dos golpistas das Forças Armadas. E isto também era objeto de louvação virtual:
“Marcando, desde a sua criação, a história desta nação, este Batalhão teve seu efetivo presente em inúmeras operações militares, sempre com participação decisiva e influente, demonstrando a galhardia e lealdade de seus homens, podendo ser citadas, dentre outras, as seguintes campanhas de Guerra: (…) – Revolução de 1964, quando participou da derrubada do então Presidente da República João Goulart, dando início à ditadura militar com o Presidente Castelo Branco”.
Era, comentei, “a voz do passado que continua ecoando no presente, à custa dos impostos pagos pelos contribuintes paulistas”.
E conclui assim a carta ao Serra:
“…em nome do seu passado de exilado e em consideração ao passado de todos nós que permanecemos aqui e fomos barbarizados, peço-lhe que, pelo menos, determine que as peças de comunicação do seu Governo passem a ser as aceitáveis numa democracia. Isto se não lhe apetecer tomar a atitude mais pertinente, que já está atrasada em um quarto de século: desativar a Rota!”.
Comprovando que, na contramão do exemplo inesquecível do companheiro-presidente Salvador Allende, Serra agora trata os ex-companheiros com empáfia de governador, ele nem sequer se dignou a responder.
Recebi uma enxurrada de mensagens de defensores da Rota, incluindo ameaças ostensivas ou veladas, enviadas tanto ao meu e-mail quanto aos meus dois blogues.
Minha resposta a essa campanha articulada foi o artigo Não desviarei da Rota (ver aqui), de dezembro/2008. Reafirmei tudo que anteriormente dissera e acrescentei:
“…aconselho a Rota a apagar do seu site as loas a operações por ela desenvolvidas durante a ditadura, as quais, em todo o mundo civilizado, hoje têm uma imagem tão negativa quanto as chacinas da Gestapo”.
Em janeiro/2009, o portal Brasil de Fato fez uma reportagem na esteira de minhas denúncias (ver aqui), ouvindo o oficial de Planejamento e Operações da Rota, 1º Tenente Gerson Pelegatti, que qualificou as exaltações à ditadura militar como “um grande equívoco” e prometeu tirar a página do ar para que seja feita “uma limpeza geral”.
Disse que a identificação com a ditadura não correspondia mais ao pensamento dos policiais. E garantiu que as correções seriam feitas com a máxima rapidez possível.
Pois bem, um semestre depois continua tudo na mesma, com a página da Rota carecendo ainda de “uma limpeza geral” para removerem-se as imundícies denunciadas por mim e pelo Brasil de Fato.
O tenente Pelegatti faltou com a palavra, não cumprindo sua promessa de corrigir o “grande equívoco”. Aonde foi parar a honra militar?
Quanto a José Serra, não se mostrou à altura nem da sua posição atual de governador numa democracia, nem do seu passado de presidente da UNE e de refugiado político.
Para mostrar-se confiável ao grande empresariado, ele não hesita em renegar seus valores mais sagrados de outrora. Chegou ao ponto de autorizar a invasão do campus da USP por parte dos efetivos mais truculentos da PM!
Uma Presidência da República compensará essa completa descaracterização de quem já defendeu os ideais mais nobres e se norteava pelo espírito de justiça?
Prefiro ficar com o Evangelho:
“Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mateus, 16:26)
MILITANTE DO MOVIMENTO NEGRO NA BAHIA
E esse outro rapaz falar que a ROTA é racista?quantos negros,descendentes de nordestinos pardos etc trabalham na corporação?não só na ROTA como na PM em geral?então por favor,da próxima vez,comentem com descencia e com a inteligencia que Deus lhes deu.