Rio de Janeiro - O secretário estadual deSegurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, negou ter sido avisado do motivo de afastamento do coronel Fábio Almeida de Souza do comando do Batalhões de Operações Especiais (Bope) - ter postado mensagens incitando a violência, com teor nazista, num grupo de Whatsapp formado por oficiais da PM - antes de tê-lo nomeado para chefiar sua guarda pessoal.
Beltrame disse ter ficado "horrorizado" com a revelação das mensagens, neste fim de semana pela revista Veja, e anunciou a exoneração do coronel Fábio do comando do Batalhão de Choque, cargo que ele ocupava desde novembro.
Em entrevista à publicação, o ex-comandante geral da PM coronel José Luís Castro afirmou que, quando decidiu afastar o coronel Fábio do comando do Bope, em março de 2014, comunicou o motivo a Beltrame. O oficial ficou nove meses na guarda do secretário até ser novamente promovido: de volta ao comando do Choque.
"Estive pessoalmente na sala do secretário de Segurança e informei o que tinha ocorrido. Ele só me pediu que o transferisse para a Secretaria de Segurança", disse Castro, tirado do comando da PM em novembro por Beltrame.
"Eu não tenho o teor daqueles diálogos", disse hoje Beltrame. "Isso só foi para dentro do inquérito em novembro. Vendo aquilo ali eu exonerei o coronel Fábio (nesta segunda) e o deixei sem função porque fiquei horrorizado com o que consta ali", afirmou o gaúcho minutos após ser empossado para o próximo mandato (seu terceiro seguido) como secretário estadual de Segurança.
Beltrame negou ter sido informado do teor das mensagens pelo ex-comandante da PM: "Se ele sabia, não só deveria ter me comunicado o teor, como ele mesmo de pronto abrir processo disciplinar contra o coronel Fábio, o que só está acontecendo agora e a pedido meu".
No lugar de Castro como comandante-geral da PM, Beltrame anunciou em novembro o coronel Alberto Pinheiro Neto, que só tomou posse hoje. O oficial, entretanto, já vinha desde então promovendo mudanças na corporação.
Logo após ser anunciado, Pinheiro Neto determinou a volta do coronel Fábio ao Choque - ele já havia chefiado o Batalhão durante os protestos de junho de 2013, mas foi afastado devido ao excesso de violência com os manifestantes e transferido para o comando do Bope.
Em março do ano passado, após inquérito da Corregedoria da PM apurar a troca de mensagens com incitação à violência (dizia aos PMs para atirarem até com fuzil em manifestantes) e teor nazista ("Padrão Alemanha de 1930", escreveu o coronel numa mensagem), o oficial foi afastado e transferido para a guarda de Beltrame.
Segundo o secretário, os outros oficiais que participavam do grupo também serão investigados. Na prática, o coronel Fábio está "sem função": não é mais comandante do Choque, mas seguirá recebendo normalmente o salário, enquanto corre o processo administrativo que poderá, ou não, resultar em sua expulsão.
A investigação da Corregedoria da PM que chegou às mensagens teve início em janeiro de 2014 após uma tentativa de assassinato ao então comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Márcio Rocha, que havia assumido o lugar do coronel Fábio, seu desafeto, no comando da tropa.
Com a exoneração do coronel Fábio, hoje, a Polícia Militar informou em nota que assumirá o comando do Choque o coronel Wilman Rene Gonçalves Alonso, que temporariamente acumulará a função com o Comando de Operações Especiais (COE).
A PM não informou, entretanto, qual dos dois cargos deixará o coronel Alonso. Por conta da polêmica, a posse do novo comandante-geral da corporação, coronel Pinheiro Neto, não foi aberta à imprensa.
Antes da revelação do escândalo, estava prevista para hoje uma entrevista coletiva do oficial, que não deve mais ocorrer.
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