13/11/2012 15h48 - Atualizado em 13/11/2012 15h48
Vítimas dias antes, relatam parentes
Irmão de servente de pedreiro e pai de ajudante falaram nesta terça ao G1.
Parte da ação foi gravada por um cinegrafista amador em Campo Limpo.
Cinco PMs estão detidos disciplinarmente na Corregedoria da PM por suspeita de execução, após um cinegrafista amador flagrar parte da ação que deixou dois mortos e um preso. As imagens mostram a morte do servente Paulo Batista do Nascimento, de 25 anos.
A Polícia Civil deverá pedir à Justiça a prisão preventiva do grupo. Nesta terça-feira (13), o delegado Jorge Carrasco, diretor do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) disse que há provas de que os policiais militares tiveram intenção de matar o servente. "Com certeza, já está comprovada essa simulação. Não aconteceu resistência. Foi um crime doloso contra a vida", disse o diretor.
Familiares dele e do ajudante Gefferson Oliveira Soares do Nascimento, de 22 anos, relataram ao G1 que os amigos foram assassinados cerca de 15 dias após serem “esculachados” e “zoados” pelos PMs na favela de Paraisópolis. No local, acontece a Operação Saturação, a ocupação da PM por tempo indeterminado de regiões com altos índices de criminalidade. A ação ocorre em meio à onda de violência que assola do estado, com aumento de assassinatos, inclusive de policiais e criminosos.
O irmão de Paulo contou à equipe de reportagem que policiais militares procuraram o servente porque ele já tinha cumprido condenação por crimes e teria sido investigado pela morte de um PM há alguns anos. O rapaz, de 23 anos, pediu para não ter o nome divulgado, por temer pela sua própria vida. "Meu irmão ligava todos os dias dizendo que estava sendo ameaçado de morte por PMs. Ele me falava que, se um dia ele sumisse, era porque um PM o matou", afirmou.
Para o jovem, o irmão morreu por causa "desse fogo cruzado". “Diziam para mim que iriam pegar meu irmão e zoar muito com ele porque ele tinha matado PM, o que não é verdade. Ele já foi inocentado dessa acusação. E quando esteve preso foi porque empurram um roubo para ele. Quer saber a verdade? Mataram meu irmão porque ele é pobre, ex-preso, morava na favela e foi colocado no meio desse fogo cruzado da briga entre a PM e os bandidos”, disse. Segundo ele, outro irmão foi morto por PMs há quatro anos.
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O pai de Gefferson contou ao G1 que o filho nunca teve passagens pela polícia, mas mesmo assim policiais o pegaram há duas semanas. “Perguntei o que meu menino havia feito e não me responderam. Depois tiraram fotos dele. Quinze dias depois ele é morto pelos mesmos policiais. Coincidência? Duvido. Meu filho foi executado porque conhecia alguém que os policiais militares não gostavam”, disse o pedreiro de 52 anos sobre a relação do ajudante com Paulo. Ele também só aceitou falar sob a condição de não dizer o nome.- Provas mostram que PMs tiveram intenção de matar, diz delegado
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PMs presos
O tenente Halstons Kay Yin Chen e os soldados Francisco Anderson Henrique, Marcelo de Oliveira Silva, Jailson Pimentel de Almeida e Diógenes Marcelino de Melo foram levados disciplinarmente para a Corregedoria da PM após imagens de um cinegrafista amador flagrarem parte da ação. As cenas, que foram exibidas pelo Fantástico, mostram o momento em que o homem é detido. Em seguida, mesmo rendido, é possível escutar um disparo.
Os mesmos PMs mencionados acima também são investigados pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de assassinarem o ajudante Gefferson Oliveira Soares do Nascimento. “O DHPP investiga toda a resistência seguida de morte. Existe presunção de que funcionário público fale a verdade, mas o departamento investiga tudo. As duas vítimas estavam juntas no dia da ação da PM e um outro suspeito foi preso. Está sendo investigado se houve execução no caso das duas mortes”, disse Carrasco.
A investigação do departamento tem provas de que policiais militares tiveram intenção de matar o servente Paulo, segundo o delegado Jorge Carrasco. “Nós temos um inquérito aqui que se iniciou como uma resistência [à prisão seguida de morte], e, posteriormente, dadas as provas já colhidas nos autos, depreendeu-se que se trata um homicídio doloso [quando há intenção de matar] contra a vida. Ou seja: homicídio", disse o diretor do DHPP.
O soldado Francisco Anderson Henrique foi ouvido pelo DHPP nesta segunda. Os outros devem prestar depoimento nesta terça-feira. “Posteriormente, será pedida a prisão preventiva de todos”, disse Carrasco.
O caso
Ao registrar a ocorrência, os policiais alegaram que abordaram suspeitos em um carro roubado, houve troca de tiros e o corpo do servente foi encontrado depois em uma viela. Entretanto, um cinegrafista amador registrou os policiais prendendo o servente em uma casa e o levando para o carro da corporação. Neste momento, o vídeo registra o barulho de um disparo. "Os autores são essa guarnição. Todos tomaram conhecimento daquela imagem", disse o delegado.
"As provas estão nos autos já dão, inconteste, que houve um crime doloso contra a vida, homicídio”, argumentou. “Todos os casos de resistência são investigados no DHPP e já tivemos casos em que houve uma simulação de resistência e os seus autores foram responsabilizados perante a Justiça”, comentou.
O que diz a defesa
O advogado José Miguel da Silva Júnior, que defende o tenente Halstons Chen, afirmou nesta terça que o servente já estava ferido quando seu cliente chegou ao local. Em seguida, de acordo com o defensor do oficial, o detido tentou retirar a arma de seu cliente durante a revista no caminho até o hospital e houve um disparo.
Para a defesa, a imagem não é clara quanto ao tiro. “Meu cliente não atirou em nenhum momento. Ele foi chamado para a ocorrência e quando foi socorrer o servente, que estava ferido, o sujeito tentou tirar a arma dele e alguém disparou. Ele não viu quem foi. Depois, quando o detido era colocado no carro, foi ouvido mais outro disparo, mas ele não soube dizer de onde partiu”, afirmou.
O G1 não obteve contato com os advogados dos demais policiais detidos.
Governo lamenta morte
Em nota, a Polícia Militar informou, após a divulgação das imagens do caso, que o comandante geral "considera lamentável a ocorrência, que não reflete a conduta da maioria dos policiais de São Paulo".
Ainda na segunda, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu que houve crime na ação dos PMs. “Nós tivemos um caso de execução de um preso por parte de um PM [policial militar] e isso é intolerável", afirmou.
Alckmin disse que esse não é o comportamento padrão da tropa e que ações excepcionais como essa devem ser investigadas e punidas. "A Polícia Militar já prendeu toda a equipe. Poucas horas depois da descoberta do fato, cinco policiais foram presos e responderão a processo. Aqueles que forem responsabilizados, serão expulsos da polícia. Não há nenhuma tolerância.", afirmou.
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