O coronel reformado da PM Pedro Chavarry Duarte, de 63 anos, preso neste domingo por estupro de vulnerável, tinha uma lista com nome de crianças, de acordo com Izabela Pimenta dos Santos, de 30 anos. Ela é irmã de Thuanne Pimenta dos Santos, de 23 anos, que foi presa nesta segunda-feira, acusada de ter deixado a criança de 2 anos com o militar reformado.
— Ele perguntava quantas crianças tinha na comunidade e qual o tamanho de fralda que elas precisavam. Tinha uma lista com os nomes de todas crianças. Só na (favela) Uga-Uga eram umas dez. Tinha outras favelas em Bonsucesso que ele também ajudava — conta Izabela.
A testemunha foi ouvida pela delegada Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), que investiga o caso.
De acordo com Izabela, Pedro Chavarry é conhecido há pelo menos 20 anos pelos moradores da comunidade Uga-Uga, em Ramos, onde mora a criança que foi flagrada nua dentro do carro dele, no último domingo. O coronel ia pelo menos uma vez por mês ao local.
— Eu o conheci há 11 anos, quando uma pessoa que trabalhava para ele soube que eu era mãe solteira, com dois filhos, e contou que conhecia um homem muito bom, que a ajudava. Eu até perguntei por que ele ajudava, se queria fazer alguma coisa. Mas ela disse: "Não, Izabela, o caso dele é profissional". A gente faz faxina para ele, ele paga a gente. Enquanto a gente trabalha, ele tem uma ONG de criança para ficar ficar com as crianças enquanto as mães trabalham. Era isso que ele dizia — conta.
Assim como Thuanne, Izabela fazia serviços de faxina para o coronel. De acordo com ela, as faxinas eram feitas no Mercadão das Fraldas, em Madureira, e em imóveis da Caixa Beneficente da PM, instituição da qual o militar é presidente. Segundo Izabela, enquanto as mães trabalhavam Pedro Chavarry buscava as crianças e dizia que as deixaria com uma babá. Ao final do serviço, ele trazia as crianças de volta.
— Trabalhei para ele até semana passada e sempre funcionou assim. Ninguém nunca desconfiou de nada. Meus dois filhos nunca falaram nada. Ninguém nunca falou nada. Vocês acham que se alguém tivesse comentado alguma coisa a gente ia estar com ele até agora? — diz Izabela, referindo-se à caçula, de 4 anos, e ao mais velho, de 10, que tiveram contato com o promotor.
Segundo Izabela, toda a comunidade tinha confiança no coronel.
— Pegou todo mundo de surpresa (a prisão). Todo mundo tinha confiança nele. Agora eu acredito em tudo o que está vindo. Meus filhos e eu também fomos vítimas, assim como as outras mães. Assim como a minha irmã também, porque ela confiava nele. Esse histórico do Pedro está sendo uma surpresa para todo mundo — diz.
Izabela contou ainda que ela e a irmã trabalharam para o coronel na campanha de 2014, quando ele concorreu a deputado estadual pelo PSL. De acordo com ela, cerca de 15 pessoas distribuíram panfletos na Praça das Nações, em Bonsucesso, durante um mês.
Novas vítimas
Outras cinco vítimas de Pedro Chavarry, também moradores da favela Uga-Uga, compareceram à DCAV na manhã desta terça-feira. Entre elas, X., de 36 anos, mãe de três filhos, e Y., de 34 anos, mãe de sete filhos.
— Assim como nós, outras mães foram vítimas. E se isso não viesse à tona agora, outras mais seriam vítimas. Muitas outras crianças iam passar por ele. Isso é o que mais está me doendo — diz X.
A mãe de Thuanne, Vera Lúcia Pimenta, compareceu à delegacia, no Centro do Rio, onde a acusada está detida.
Justiça decreta prisão
A juíza Cristina de Araújo Goes Lajchter, do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio, aceitou o pedido feito pela Polícia Civil e converteu em prisão preventiva o auto de prisão em flagrante, lavrado na noite de sábado, contra o coronel reformado da PM Pedro Chavarry Duarte, de 63 anos. O oficial foi acusado de crime de estupro de vulnerável, após ser encontrado com uma criança de 2 anos, que estava seminua, dentro de um carro, no estacionamento de uma lanchonete, em Ramos na Zona Norte do Rio.
Casado e pai de uma filha maior de idade, o oficial compareceu algemado, a uma audiência de custódia, realizada nesta segunda-feira, no Tribunal de Justiça. Na ocasião, o coronel declarou morar com a esposa e ter uma renda mensal de R$ 10 mil.
Atualmente, Pedro Chavarry está preso no Batalhão Especial Prisional, no Fonseca, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
Nesta terça-feira, a polícia apreendeu o celular de Thuanne. A acusada usou o aparelho para trocar mensagens com o coronel. De acordo com a delegada Cristiana Bento, na conversa Chavarry dizia que gostaria de ver uma criança de 2 anos.
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