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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Soldado denuncia tortura durante trote do Exército no Rio



O soldado paraquedista não quer se identificar: denúncia gerou inquérito e está sendo investigada pelo Exército - Alexandre Cassiano / Agência O Globo
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JUSTIÇA FEDERAL CONSIDEROU LESÃO CORPORAL
OITO CABOS ENVOLVIDOS NA AGRESSÃO FORAM AFASTADOS
Em nota, o Exército afirmou que o caso do militar foi apurado em um Inquérito Policial Militar (IPM nº 04/2016) instaurado pelo comandante da 27ª Brigada
 de Infantaria Paraquedista e que gerou o indiciamento
 de oito cabos envolvidos. "Todos os militares indiciados
no referido IPM foram licenciados em 28 de fevereiro de
 2017”, diz o texto da nota. A Justiça Militar da União,
 por outro lado, recebeu a denúncia feita pelo Ministério
Público Militar em 14 de março de 2017, o que gerou um
 processo em curso na 3ª Auditoria da 1ª Circunscrição da
 Justiça Militar. A audiência de conhecimento está agendada
 para o próximo dia 10 de maio de 2017.
‘Ser agredido por 18 militares durante dois minutos pode parecer pouco para quem bate, mas é uma eternidade para quem apanha’
- SOLDADO DO EXÉRCITOMilitar da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista
O Comando Militar do Leste (CML) ressaltou ainda
que o Exército “não compactua com qualquer tipo de
irregularidade, repudiando veementemente atitudes
 relacionadas a maus-tratos, que contrastam com a
imagem de uma instituição conhecida e respeitada
pela seriedade e transparência no trato de assuntos
ligados à atividade militar”. Revelou ainda que todos
os casos dessa natureza são imediatamente apurados
pelos comandantes de organizações militares, em Inquéritos
Policiais-Militares (IPMs): “O envolvimento de militares do Exército em delitos
de maus-tratos ocorre de forma pontual e isolada. Sempre que há denúncias,
a instituição investiga e encaminha à Justiça Militar, a quem cabe julgar e aplicar
penas”.
O soldado contou que se alistou no Exército como voluntário em 2015 e queria
servir na Brigada de Infantaria Paraquedista. Depois de passar nos testes físicos
 e práticos, foi aceito na unidade como soldado. O engajamento foi efetivado em
maio de 2016.

— Foi aí que começou meu inferno. Fui avisado do trote, conhecido como ‘‘baco”.
 Comecei a sofrer terror psicológico e todo dia fugia do trote, até que um grupo me
 agarrou e me levou ao alojamento dos cabos. Fecharam as portas e todas as janelas
— disse o militar.
Imobilizado, teve os pés e mãos amarrados até ser levado para o centro do alojamento.

O espancamento começou com um grito e 18 militares portando pedaços de paus, cordas e fios.
— Quando acabaram, disseram que era para eu ficar calado e não denunciar ninguém —
 relatou.
Segundo o advogado, o militar foi mais visado por ter porte físico avantajado:
— Ele sofreu mais que os outros por ser muito forte. Chegaram a avisar antes que com ele
 seriam mais severos do que de costume.
O militar é lotado na 2ª Companhia da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista, em Deodoro, onde há 60 soldados. Todos deveriam ser submetidos ao trote.
— No dia que me espancaram, outros soldados também passaram pelo mesmo castigo. Ser agredido violentamente por 18 militares durante dois minutos pode parecer pouco para quem bate. Para quem apanha parecia uma eternidade — afirmou.
As agressões sofridas pelo militar foram comunicadas no ano passado como um caso de tortura ao Ministério Público Federal do Rio (MPF). A denúncia acabou gerando um processo na 6ª Vara Federal do Rio, mas não chegou a ser julgado. A juíza titular, Ana Paula Vieira de Carvalho, considerou que o caso se trata de lesão corporal e declinou a competência da Justiça Federal, encaminhando o processo à Auditoria Militar. Procurada pelo GLOBO, a procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues, do MPF, não se manifestou.
Em 2015, um levantamento do GLOBO nos processos da Justiça Militar do Rio mostrou que em dez anos, 299 casos em unidades militares das Forças Armadas do Rio foram julgados. Eram relatos graves de maus-tratos e lesão corporal nos quartéis do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, todos praticados por instrutores durante treinamentos. As seguidas denúncias de excessos, que já levaram militares à morte durante treinamento, provocou reação: a Procuradoria-Geral da Justiça Militar, em Brasília, publicou uma recomendação nacional sobre o treinamento e os cursos dados a tropas especiais, bem como os treinamentos especiais destinados às tropas. Nela, lembra aos militares que eles deveriam evitar o castigo físico e o trote durante os exercícios.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/soldado-denuncia-tortura-durante-trote-do-exercito-no-rio-21170306#ixzz4daHmRLWz 

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