EstadaoPolitica Cenário: Reação à morte do capitão Adriano faz parte de uma guerra de narrativas
Círculo próximo do presidente avalia que ele se adiantou a uma possível exploração política do caso por parte dos governadores adversários Rui Costa (PT), da Bahia, e Wilson Witzel (PSC), do Rio
(PT), classificou o presidente como uma “metralhadora giratória disparando agressividade”. Desde o fim de semana, Costa tem se posicionado contra declarações de Bolsonaro sobre a operação que matou o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega , no dia 9, no interior baiano. Bolsonaro disse que “a polícia do PT” executou o ex-capitão do Bope, que já teve a mãe e a ex-mulher empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro quando o hoje senador era deputado estadual no Rio. Nóbrega também era um dos alvos da investigação sobre suposta prática de rachadinha no gabinete de Flávio. O governador negou ter dado ordens antes da operação que resultou na morte de Nóbrega e disse que só soube dela depois. “Talvez seja um problema tão grave que ele (Bolsonaro) deve acordar, almoçar, jantar e dormir pensando 24 horas nisso. Só pode ser, porque ele está há quatro, cinco dias obcecado”, afirmou Costa. O Estado conversou com o governador da Bahia nesta terça-feira, 18. Além das críticas ao presidente, ele falou ainda da dificuldade que os governadores têm em estabelecer diálogo com o Palácio do Planalto e de receber ajuda de Brasília. Costa foi um dos 20 signatários de uma carta aberta de governadores que questiona recentes declarações de Bolsonaro. Como foi a concepção da carta dos 20 governadores? Os governadores têm um fórum de WhatsApp em que trocam ideias todos os dias. Quando saiu aquela polêmica (declarações de Bolsonaro culpando a PM baiana pela morte de Adriano e dizendo que o governador é"amigo de bandidos"), houve uma manifestação generalizada. Não teve um, dois ou três que puxaram. É um grupo e, portanto, o posicionamento foi quase generalizado dos governadores, se mostrando indignados. Todo mundo está querendo trabalhar. A conjuntura no Brasil é muito difícil, a crise não passa, e os governadores querem representar e cuidar da população, da Educação, da Saúde. Querem ajudar a gerar empregos para o País. A maioria não tem ajuda do governo federal. E nós temos recebido, tanto governadores quanto prefeitos, constantes agressões do governo federal. Então a ideia da carta foi todos os governadores manifestarem isso publicamente? O documento foi não só uma solidariedade à Bahia, mas para chamar a atenção do País para que é preciso restabelecer relações republicanas, de respeito. Quais são as prioridades do momento no País? Não podem ser agressões ou resolver problemas familiares. As prioridades são as dificuldades vividas pelo povo. Há uma inquietação grande dos governadores por causa dos sucessivos ataques. Em um ano, o presidente já atacou a Paraíba, o Maranhão, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo. Enfim, é uma metralhadora giratória disparando agressividade. Não é possível isso. Nunca se viu isso na história recente do País. Não tem o mínimo de comportamento civilizatório, ético, que se quer de um presidente da República. Espero que, com o documento, o presidente possa repensar suas atitudes. O documento solicita também mais uma audiência com o presidente para que o diálogo se restabeleça. Por que o sr. acha que ele está insistindo na tese de que Adriano da Nóbrega foi executado? Não sei, não sou analista. Mas isso, talvez, não saia da cabeça dele e dos filhos dele. Talvez seja um problema tão grave que ele deve acordar, almoçar, jantar e dormir pensando 24 horas nisso. Só pode ser, porque ele está há quatro, cinco dias obcecado falando disso. É como se estivesse com receio de alguma coisa ser descoberta. Hoje (quarta-feira), ele falou dos telefones (os aparelhos apreendidos pela polícia na operação que levou à morte de Adriano). O material todo foi enviado judicialmente ao Rio de Janeiro, usando os meios legais, e quem irá apurar isso é o Ministério Público do Rio. O que toma conta dos brasileiros é a perplexidade: todo mundo perplexo com um presidente da República que há uma semana só pensa nisso. O País não tem problemas, não tem dificuldades? É falta do que fazer, do que cuidar? Que caminho o sr. enxerga para o PT? Acho que o PT precisa restabelecer sua capilaridade com a sociedade. Nós perdemos muito nos últimos anos. Precisamos reaproximar, ter núcleos nas comunidades. Eu vou completar 600 viagens como governador da Bahia ao interior. Isso significa um estilo de governar próximo à população. No plano nacional, como deve ser construída uma oposição a Bolsonaro? É preciso construir uma unidade – não artificial, mas de valores. Um governo tem que se propor a solucionar os problemas mais graves, aqueles que alcançam a maioria do País. Segurança Pública é um problema gravíssimo, então precisamos discutir e apontar problemas que não passem apenas pela área policial, militar, mas por uma discussão mais ampla que passa por todo o sistema judicial brasileiro. No Brasil, infelizmente, o sucesso das investigações é muito baixo e o das condenações, menor ainda. Acha que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é um bom nome para protagonizar essa unidade? Tenho dito que acho prematuro a discussão de nomes para 2022. Até porque não estamos precisando de salvadores da pátria, não é isso que o Brasil precisa. O que nós precisamos é de um conjunto de políticas, de uma ampla unidade da sociedade. Eu acho que precisamos de um projeto de Nação. Não é primeiro o nome, depois o projeto. O nome vem depois, para discutir quem vai implementar o programa. Precisamos construir essa unidade mais ampla possível da sociedade, para evitar uma excessiva fragmentação, que tem sido outro problema. Acho que todos os nomes cotados podem e devem descer um pouco o degrau de sua vaidade pessoal e, juntos, irmos construindo uma unidade de Nação, programática, para depois definirmos quem é o nome mais apropriado para implementar o programa que for elaborado. Tudo o que sabemos sobre: Consulte Mais informação: EstadãoReação de Bolsonaro à morte de 'capitão Adriano' faz parte de guerra de narrativas - Política - Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário