RESUMO DA NOTÍCIA
- PM começou a investigar casos internos após lei sancionada há 2 anos
- Neste período, cinco batalhões tiveram ligação com a milícia detectada
- Vídeos obtidos pelo UOL mostram propina paga dentro de unidade da PM
A corregedoria da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) investiga denúncias de parcerias entre policiais e criminosos em pelo menos cinco batalhões na capital e na Baixada Fluminense. Ao todo, a região possui 23 unidades deste tipo da PM.
Há dois anos, após permissão por lei, a corregedoria passou a instaurar inquéritos sobre PMs ligados a grupos paramilitares clandestinos. Os casos são acompanhados pelo MPM (Ministério Público Militar).
"Existem indícios fortes de envolvimento de batalhões com a milícia. A suspeita é de que policiais lotados nas áreas de atuação desses grupos estariam dando apoio a atividades criminosas. Isso é grave", comentou o promotor Paulo Roberto Mello, do MPM.
Apoio à milícia na guerra contra o CV
Um inquérito aberto nos últimos meses investiga a participação do subcomandante de um batalhão da zona norte do Rio dando apoio à milícia em uma disputa por território contra traficantes do CV (Comando Vermelho), uma das principais facções criminosas do país.
Segundo a corregedoria, o oficial ordenou operações do batalhão em uma favela com o pretexto de intensificar o combate ao tráfico. Mas, na verdade, a ideia central seria enfraquecer a facção para facilitar a entrada da milícia.
Há um ano, grupos paramilitares intensificaram uma aliança com criminosos do TCP (Terceiro Comando Puro) para expandir o seu domínio com ajuda de traficantes rivais do CV.
"O mais grave é que não há investigações contra a contravenção [jogo do bicho], uma das principais aliadas da milícia", criticou um agente da corregedoria, que não se identificou.
Luiz Antônio Ayres, promotor do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que atua em processos contra a milícia desde o seu surgimento, em 2005, acredita que as investigações abertas pela corregedoria da PM podem representar um avanço no combate aos grupos paramilitares.
"Mas os policiais precisam se sentir protegidos para denunciar a milícia. É preciso ter muito cuidado e sigilo para conduzir esse tipo de investigação".
Vídeos mostram propina em batalhão
Vídeos obtidos pelo UOL com exclusividade registram um flagrante feito pela 3ª DPJM (Delegacia de Polícia Judiciária Militar), que mostram um caso de pagamento de propina pelo jogo do bicho na Baixada Fluminense.
Uma sargento desce do carro para entregar 12 envelopes com dinheiro dentro do 20º BPM (Mesquita), em novembro de 2017. Na ação, os agentes apreenderam mais de R$ 16 mil em espécie. Dois PMs foram autuados em flagrante.
Segundo a investigação, os valores eram destinados ao 3º CPA (Comando de Policiamento Intermediário), órgão da Polícia Militar responsável pelos seis batalhões da Baixada. Os envelopes possuíam códigos que podem indicar a patente dos suspeitos.
Após o flagrante de corrupção, a coronel Cláudia Lovain, então comandante da unidade lotada em Nova Iguaçu, foi exonerada pela PM.
No mês anterior, o tenente-coronel Marcelo Moreira Malheiros, que estava à frente do 20º BPM, também já havia sido exonerado por causa das suspeitas de envolvimento dos policiais da unidade com a contravenção.
Furto de petróleo da Petrobras
Um outro caso que chegou a ser investigado pela corregedoria envolvendo participação de um policial militar em uma organização criminosa veio à tona na manhã desta terça-feira (5), quando a Polícia Civil organizou uma operação para desarticular uma quadrilha acusada de furtar petróleo e derivados de dutos da Petrobras.
Um dos cinco presos na ação, o sargento Paulo Roberto Ramos Júnior, que estava lotado no 8º BPM (Campos dos Goytacazes), se beneficiava do cargo para garantir a segurança das ações da quadrilha.
"Ele [o policial militar preso] fazia a vigilância. Os furtos aconteciam nos dias em que ele estava de serviço. Se tivesse alguma ação, ele informava os comparsas para que eles pudessem sair do local", disse o delegado Júlio da Silva Filho, titular da DDSD (Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados), responsável pela operação.
Com base em interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, a DDSD constatou desvios de mais de R$ 700 mil em combustíveis em apenas quatro furtos. Segundo a polícia, os criminosos localizavam os dutos, faziam a perfuração e retiravam o produto.
A operação, que contou com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-RJ, foi feita nos municípios de Carapebus, Macaé, Cabo Frio, Armação de Búzios e Casimiro de Abreu, onde o grupo agia.
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