PMs que atuaram em Paraisópolis prestaram depoimento em dezembroImagem: Ronaldo Silva - 1º.dez.2019/Futura Press/Estadão Conteúdo
RESUMO DA NOTÍCIA
- Corregedoria considerou ação legal, mas as investigações continuam
- 32 policiais que atuaram na ação, que deixou 9 mortos, continuam afastados
A Corregedoria da PM (Polícia Militar) de São Paulo considera, até o momento, legal a atuação de PMs em Paraisópolis em uma ação que resultou em nove pessoas mortas em dezembro do ano passado. À época, policiais cercaram o baile da DZ7 e encurralaram centenas de jovens que participavam do evento na rua.
Dias depois do caso, os 32 policiais que estavam presentes na ação foram afastados —eles permanecem na mesma situação, segundo apurou o UOL.
A reportagem apurou que, apesar de a Corregedoria considerar a ação dos policiais legítima, as investigações vão continuar.
Uma fonte ligada à investigação afirmou que, até agora, a interpretação para a ação dos policiais é de "legítima defesa". Na versão dos agentes, eles foram recebidos com pedras e garrafas dos frequentadores do baile. As pessoas que estavam no local, no entanto, negam que isso tenha acontecido.
A mesma fonte afirmou à reportagem que a Corregedoria interpreta que "não houve controle de distúrbio civil, e sim legítima defesa por parte dos policiais".
Famílias questionam
Para familiares de vítimas, a posição da Corregedoria é uma "tentativa de amenização da culpa dos policiais". "Temos total segurança que o inquérito da Polícia Civil apontará que há, sim, responsabilidade dos policiais militares nas mortes", diz Danylo Amílcar, irmão da vítima Denys Henrique Quirino.
O comerciário Vagner dos Santos Oliveira, 55, tio da única menina morta em Paraisópolis, Luara Victoria de Oliveira, questiona o relatório da PM. "Será que nenhum dos PMs envolvidos na ocorrência teve a consciência de que esta ação sem planejamento poderia gerar vítimas fatais?", indaga Oliveira.
Para Amílcar, "a PM não tem como se eximir da responsabilização pelas nove mortes, porque foi a ação policial que ocasionou as mortes". "Os PMs já assumiram em seus depoimentos, publicamente, que cercaram o baile da DZ7 e isso é contra os protocolos."
"Para mim não há dúvida que a PM agiu fora da lei", afirmou Fernanda Santos, irmã da vítima Dennys Guilherme dos Santos Franco.
OAB critica relatório
A Comissão de Direitos Humanos da OAB São Paulo criticou o relatório da Corregedoria da PM e frisou que o Inquérito Policial Militar não foi arquivado e poderão ser pedidas novas provas e diligências.
Para a comissão, que tem atuado no caso desde o primeiro dia e acompanha o inquérito na Polícia Civil "para que não haja impunidade", o relatório divulgado preocupa, "porque houve, efetivamente, uma operação policial sem aparente planejamento que, mesmo sem ter usado forças letais, redundou em 9 mortes".
Para a comissão, que tem atuado no caso desde o primeiro dia e acompanha o inquérito na Polícia Civil "para que não haja impunidade", o relatório divulgado preocupa, "porque houve, efetivamente, uma operação policial sem aparente planejamento que, mesmo sem ter usado forças letais, redundou em 9 mortes".
O caso
Na madrugada do dia 1º de dezembro, policiais cercaram o baile da DZ7, na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, e impediram a dispersão dos frequentadores. O cerco teria levado quem estava na rua a correr para duas vielas —e o resultado foi a morte de pelo menos nove pessoas pisoteadas. A PM negou ter encurralado os frequentadores.
À época, jovens que estavam no baile declararam ao UOL que aquela noite foi uma "cena de horror".
Na versão da polícia, eles realizavam a Operação Pancadão na região e, durante ela, dois homens em uma motocicleta atiraram contra os policiais. A PM diz que os suspeitos fugiram em direção ao baile efetuando disparos. Isso teria ocasionado um "tumulto generalizado" entre os frequentadores do evento. A polícia diz que duas viaturas foram depredadas. Ninguém foi preso.
Os policiais e o governo do estado, no entanto, não explicaram os vídeos que mostram agentes dando socos, pontapés e pisando em dois garotos que já estavam dominados. Outras imagens apontam um agente agredindo pessoas que estavam sendo dispersadas do baile; elas foram atingidas com golpes de cassetete na cabeça e nas costas. Cenas divulgadas também mostram correria e a PM usando bombas contra os frequentadores.
Uma das vítimas disse que foi agredida por um policial com uma garrafada na cabeça e com cassetete nas costas.
Familiares querem transparência
Ontem, o MP (Ministério Público) de São Paulo mediou uma reunião em que familiares das vítimas e o Condepe (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) pediram transparência nas investigações e a revisão de protocolos policiais, promessa do governador João Doria (PSDB) em reunião realizada com familiares no final do ano passado.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), não falta transparência no caso. De acordo com a pasta, a reunião de ontem "é prova da transparência com que o assunto está sendo tratado pelo governo de São Paulo". Sobre a revisão de protocolos, a PM afirma que os "revê constantemente (...), de acordo com as demandas da sociedade em ações de segurança pública"
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