28 DE MAIO DE 2001
Maranúbia Barbosa De Londrina
A insatisfação dos policiais militares com alguns oficiais do 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Londrina é um barril de pólvora pronto para explodir. A constatação é da esposa de um PM, Márcia Elias Marton, que procurou a Folha para denunciar abuso de autoridade por parte de alguns oficiais e perseguição a policiais, que se agravou depois do movimento de mulheres.
Conforme declarações de Márcia Marton, ‘‘a virada de costas dos PMS’’ ao comandante do 5º BPM, Robenson Máximo Fim, tem custado caro. ‘‘Foi uma demonstração de descontentamento com a forma de tratamento dispensado aos policiais.’’ Márcia informou que no quartel comenta-se que alguns oficias estão preparando uma lista com nomes de policiais que apareceram em reportagens na imprensa durante o protesto das mulheres. ‘‘Eles querem arranjar um culpado para retaliar’’, acusou.
Segundo Márcia, uma das formas de castigo imposta aos PMs é a apresentação compulsória deles no batalhão todos os dias, por volta do meio-dia, mesmo que a função seja exercida em outro local da cidade. ‘‘Justificaram que é para passar a tropa em revista, mas isso tem dificultado a vida de algumas pessoas’’, explicou Márcia. Ela disse que os PMS precisam se deslocar até o quartel e depois assumir o trabalho em pontos opostos da cidade, gerando custos que, com os salários baixos, poucos têm condições de arcar. Alguns PMs que estudam, relatou Márcia, também enfrentam problemas com o horário, já que para ir até ao 5º BPM eles gastam muito tempo. ‘‘Eles vão até o quartel somente para dizer presente’’, reclamou.
Outra situação grave, que compromete a integridade física dos praças, disse Márcia, é o policiamento sem segurança. ‘‘A maioria fica nos postos sozinha sem colete e rádio, quando o certo seria trabalhar em dupla’’, afirmou. Márcia relatou que o marido, poucos dias antes do protesto, estava trabalhando nessas condições em um ponto na área central da cidade. ‘‘Sem respaldo que oferecesse garantia a ele (o marido), se sentiu inseguro e atravessou a rua num trecho menor do que 50 metros, ficando próximo a outro soldado que estava no local.’’ Por essa atitude Marton foi notificado, sem punição naquele momento, continuou a esposa. Semana passada, após o movimento das mulheres, ele teria sido convocado para se apresentar no batalhão para ouvir a punição, junto aos demais praças. Ainda segundo Márcia, Marton apresentou-se mas levou advogada. ‘‘Eles recuaram e a punição, que seria de dois dias de prisão, não foi lida’’, contou.
O fim do movimento das esposas não acabou com as reivindicações, garantiu Márcia. ‘‘Continuamos pleiteando tratamento digno para eles e investigação rigorosa sobre o abuso de poder de alguns oficiais, que humilham e reprimem os praças.’’ Ela também alertou para o nível insustentável de descontentamento dos policiais. ‘‘Os que ficam calados tornam-se alcoólatras ou partem para as drogas, numa atitude de autodestruição. Podem acontecer tragédias’’, disse. Márcia lembrou que a vida pessoal dos PMs é afetada com a falta de reconhecimento, não apenas financeiro. ‘‘Falta apoio psicológico’’, salientou.
Oficiais preparam lista para punição
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