- Luís Bulcão Pinheiro
- Direto do Rio de Janeiro
11 OUT2010
11h59
atualizado às 14h02
O juiz trabalhista Marcelo Alexandrino da Costa Santos, baleado no dia 3 de outubro durante uma blitz da Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmou nesta segunda-feira que a imperícia dos policiais não foi provocada por falta de treinamento. "Se não se bate pelas costas, não se atira pelas costas. Isso não depende de treinamento", disse o juiz nesta manhã em entrevista coletiva, após receber alta no Hospital Pasteur, no Méier, zona norte do Rio.
De acordo com o inquérito do caso, o juiz foi baleado quando trafegava, na companhia de familiares, em seu automóvel na Estrada do Pau Ferro, próximo à autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. Na ação, também ficaram feridos o filho do magistrado, Diego Lopes, 8 anos, e sua enteada, Natalia Lucas Cukier, 11 anos. Ambos seguem internados em um hospital na zona sul do Rio. Os policiais civis Bruno Rocha Andrade e Bruno Souza da Cruz estão presos preventivamente.
"A gente não viu policial nenhum. A gente viu bandidos sem qualquer identificação", afirmou o juiz, questionando a versão da Polícia Civil de que duas viaturas estavam no local, devidamente identificadas. Segundo o magistrado, sua família acreditou estar diante de uma falsa blitz montada por criminosos. "As crianças começaram a gritar 'vão nos sequestrar, vão nos fazer maldade'", disse, justificando sua decisão de fazer o retorno em direção à autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, o que teria motivado os disparos.
Providências
Marcelo disse ainda não ter pensado nas providências que tomará em relação ao caso. "Quando as crianças saírem do hospital e eu puder abraçá-las e conviver com elas, aí eu vou pensar na minha reação", afirmou. "Não tenho condições de pensar se é perdoável ou não. Não conheço os homens que fizeram isso, não sei se são bons pais, se são boas pessoas", disse.
Marcelo disse ainda não ter pensado nas providências que tomará em relação ao caso. "Quando as crianças saírem do hospital e eu puder abraçá-las e conviver com elas, aí eu vou pensar na minha reação", afirmou. "Não tenho condições de pensar se é perdoável ou não. Não conheço os homens que fizeram isso, não sei se são bons pais, se são boas pessoas", disse.
O juiz afirmou, no entanto, que medidas precisam ser tomadas para mudar o procedimento da polícia no Rio. "Quando você para em uma blitz da Polícia Civil, sabe que os policiais vêm de camisa aberta, com o cordão aparecendo. Chegam ao cidadão com a intenção de exercer o poder de autoridade exagerada", afirmou. Marcelo disse que tem uma relação próxima com integrantes da polícia, mas que nem por isso deixa de ver as falhas na instituição. "Dois dos meus melhores amigos são policiais civis. Pratiquei artes marciais na academia da Polícia Civil, convivo com diversos policiais", disse.
Segundo o magistrado, seu caso mostra que a violência ameaça a população como um todo. "Existem mudanças a serem feitas, não só no sistema policial. A sociedade tem no juiz um arquétipo distante. Nele também chegou a bala de fuzil. Todo mundo está exposto", disse.
Marcelo convocou ajuda da imprensa e da sociedade em geral para que o seu caso não volte a se repetir. "Tenho coisas na minha cabeça, mas sozinho não posso mudar tudo. O que você vai fazer como cidadão?", indagou. O juiz também fez um apelo aos policiais que atiraram em seu carro: "Deem a versão correta. A partir daí é outra história".
A fuga
O juiz, que mesmo baleado conseguiu conduzir o carro até o hospital, disse não se considerar um herói. "Foquei que ia chegar ao hospital. Pelo amor que tenho por eles (as crianças) e pelo amor que tenho pela minha mulher. Fui até o momento que aguentei. Depois apaguei", afirmou. O juiz desmaiou e bateu o carro na mureta da emergência do hospital Cardoso Fontes, onde ele e as crianças receberam o primeiro socorro.
O juiz, que mesmo baleado conseguiu conduzir o carro até o hospital, disse não se considerar um herói. "Foquei que ia chegar ao hospital. Pelo amor que tenho por eles (as crianças) e pelo amor que tenho pela minha mulher. Fui até o momento que aguentei. Depois apaguei", afirmou. O juiz desmaiou e bateu o carro na mureta da emergência do hospital Cardoso Fontes, onde ele e as crianças receberam o primeiro socorro.
Ao mesmo tempo em que tivemos um episódio lamentável envolvendo uma instituição pública, fomos atendidos de forma formidável nos hospitais públicos e gostaríamos de agradecer", disse.
Estado de Saúde
Durante o tempo em que ficou internado, Marcelo passou por cirurgia para a retirada da bala e precisou de uma drenagem torácica, para tirar líquido dos pulmões. Na manhã desta segunda-feira, o juiz recebeu alta e conversou com os jornalistas antes de ir caminhando até um carro, que o levou para o hospital onde estão internados seu filho e sua enteada, na zona sul do Rio. Denise Marzoni, médica responsável pelo tratamento do juiz, afirmou que o paciente foi liberado, mas "será acompanhado por um cirurgião torácico e por um clínico e fará revisão em duas semanas".
Durante o tempo em que ficou internado, Marcelo passou por cirurgia para a retirada da bala e precisou de uma drenagem torácica, para tirar líquido dos pulmões. Na manhã desta segunda-feira, o juiz recebeu alta e conversou com os jornalistas antes de ir caminhando até um carro, que o levou para o hospital onde estão internados seu filho e sua enteada, na zona sul do Rio. Denise Marzoni, médica responsável pelo tratamento do juiz, afirmou que o paciente foi liberado, mas "será acompanhado por um cirurgião torácico e por um clínico e fará revisão em duas semanas".
As crianças, de acordo com o juiz, não correm mais risco de morrer. "Por favor, não digam mais que elas estão em estado grave. As pessoas me ligam preocupadas. As crianças já falam, se locomovem, recebem visitas", afirmou Marcelo, que concedeu entrevista acompanhado de sua mulher, Sunny Alexandrino.
De acordo com o juiz, o pior para as crianças agora é enfrentar o trauma deixado pelo incidente. Marcelo disse se ver obrigado a inventar uma história para que o filho Diego criasse coragem para ser transferido de hospital. "Pai, estou louco para sair, mas não quero sair para a rua", teria dito o menino ao telefone. O juiz disse ao filho que um amigo acompanharia de helicóptero a ambulância que o levaria do Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, para o hospital da zona sul onde as crianças estão agora.
Sunny contou que sua filha, Nathália, acorda de madrugada chorando, lembrando do momento em que foram baleados. A própria mãe afirma que ficou traumatizada e não consegue mais dirigir. "Tenho pavor de sair de casa", disse.
Carro de juiz foi alvejados por tiros de fuzil
Foto: Alexandre Brum / O Dia
Fonte: Especial para Terra
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