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sexta-feira, 20 de julho de 2018

'Menos dois', diz PM acusado de executar menor de idade no Rio

27/07/2014 22h03 - Atualizado em 28/07/2014 01h26

Fantástico mostra momentos inéditos do vídeo que levou para a cadeia o cabo Fábio Magalhães e o cabo Vinicius Lima, da PM do Rio. 












O Fantástico mostra trechos inéditos do vídeo que incriminou dois PMs, acusados de executar um adolescente, no Rio de Janeiro.
Cabo Lima: Tem que matar os três.
Cabo Lima: Tô ouvindo nada.
Cabo Lima: Pô, mas o seu foi muito perto!
Cabo Magalhães: Quando eu vi que tu botou ele assim e tirou a mão, falei toma. Toma que é de graça. Não vai ter como fazer balística nem nada. Perdeu tudo no mato.

O Fantástico mostra momentos inéditos do vídeo que levou para a cadeia o cabo Fábio Magalhães e o cabo Vinicius Lima, da PM do Rio. Eles são acusados de executar o menor Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, no dia 11 de junho.

O diálogo entre os policiais foi captado por câmeras instaladas na viatura e exibido com exclusividade pelo Fantástico, domingo passado (20).

As imagens mostravam a conversa entre Fábio e Vinícius depois de capturar três adolescentes suspeitos de cometer furtos. Eles levaram os jovens até o Morro do Sumaré, um lugar isolado, de difícil acesso. Segundo a investigação, foi lá que eles atiraram em dois dos três garotos.

Neste novo trecho do vídeo, sozinhos no carro, os policiais dizem:
Cabo Lima: Menos dois.
Cabo Lima: Menos dois. Se a gente fizer isso toda semana dá pra ir diminuindo.
Cabo Lima: A gente bate meta.
Para a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que acompanha o caso, não resta dúvida:
“As imagens já evidenciam ali a execução. Embora no momento exato dos disparos, nós não tenhamos essa filmagem porque, segundo as explicações oficiais, a filmagem não teria acontecido porque o carro estava desligado naquele momento. Ela mostra o antes e o depois do crime”.

O vídeo foi interrompido por cerca de dez minutos durante a ação. Nesse intervalo, de acordo com o inquérito, Matheus foi assassinado pelos policiais. O segundo garoto baleado pelos PMs sobreviveu e testemunhou contra eles. O terceiro menor tinha sido liberado antes pelos PMs, mas esta semana disse à polícia que ouviu disparos quando descia o morro.

Na semana passada, o corregedor da PM, coronel Sidney Camargo, disse que a falta desse momento específico do vídeo, o da suposta execução, dificultou a investigação. “Nós não temos condição de dizer o que efetivamente eles fizeram e como eles fizeram”, afirmou o corregedor.

“Quando desliga a viatura esse equipamento desliga também por um tempo, voltando a ser ligado, a câmera filma, depois que a viatura liga”, explicou o relações públicas da PM, Cláudio Costa.

A empresa responsável pelo sistema afirmou em nota que é impossível editar ou manipular as imagens.

Na última sexta-feira (25), o carro usado pelos PMs apareceu depenado no pátio da Delegacia de Homicídios. O Ministério Público quer saber de onde partiu a ordem. “Eu fiquei chocada porque essa viatura é uma prova importante nos autos e totalmente descaracterizada”, disse a promotora.

O HD com as imagens, porém, foi preservado e entregue aos investigadores. A Corregedoria da PM explica que já estava previsto tirar o carro de circulação, para renovar a frota. Só que isso aconteceu no mesmo dia em que os policiais estiveram no Morro do Sumaré. Para a Corregedoria, nada que tenha atrapalhado a investigação.

“A Corregedoria, em 12 horas, conseguiu encontrar, identificar os policiais, a viatura, as imagens da viatura e o GPS, e levamos esses policiais presos para DH. Essa viatura foi feita perícia pela Polícia Civil, os equipamentos foram retirados e ela voltou para empresa”, disse o relações públicas da PM.

O Fantástico fez um levantamento nacional e descobriu que só seis estados contam com câmeras em carros de polícia: Amazonas, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Roraima e Santa Catarina.

O Ceará faz esse monitoramento desde 2007. Hoje, 105 carros da Polícia Militar estão equipados com câmeras.

Uma viatura tem quatro câmeras. Uma delas fica posicionada para registrar todo o interior do veículo, a ação dos policiais. Há microfones também espalhados na viatura. Segundo o comando da PM, em locais estratégicos. Nem os policiais sabem, para que eles não interfiram nesse áudio.

A outra câmera fica bem na frente e registra tudo o que acontece num ângulo de 90 graus. As outras duas câmeras ficam na parte de trás da viatura. Uma delas vai registrar tudo o que acontece atrás e a outra câmera está posicionada num ponto e vai pegar todas as imagens de dentro, onde os presos são transportados

É só ligar o carro, que as câmeras começam a funcionar.

“O sistema é todo embutido sob o painel, teria que danificar o painel, arrebentar mesmo, então é impossível os policiais terem acesso, não tem como eles terem acesso à captação dessas imagens”, disse o coronel Paulo Mendonça, da Polícia Militar do Ceará,

A bateria da câmera é alimentada pelo motor do carro. E, mesmo com o veículo desligado, ainda garante mais trinta minutos de filmagem. Diferentemente do que aconteceu no caso do Rio de Janeiro.

As imagens captadas pelas câmeras vão para uma sala. É uma central de monitoramento. Os operadores conseguem acompanhar as gravações em tempo real.

Os registros têm ajudado a esclarecer crimes. Em junho de 2012, a câmera instalada na frente do carro da PM registrou a abordagem a um policial à paisana, que estava dentro deste carro. Ele foi parado porque se envolveu num acidente. O agente à paisana, que estava alcoolizado, atirou em um dos PMs e foi rendido. Terminou expulso da corporação.

Em outro flagrante, também no Ceará, as imagens ajudaram a inocentar dois PMs.
Atendendo a um chamado de roubo, David e um colega foram recebidos a tiros. E reagiram.

PM 1: Derruba, derruba de bala, derruba de bala
PM 1: Pede apoio, pede apoio, pede apoio
PM 2: Derrubou

O bandido morreu, e os policiais conseguiram provar que agiram em legítima defesa.

“Se nós não tivéssemos a imagem, provavelmente esses policiais teriam sido denunciados por homicídio”, disse o promotor do Controle Externo da Atividade Policial, Humberto Ibiapina.

“Se não fossem as câmeras, a gente não teria como provar inocência naquela situação”, disse o policial militar David Sousa Garcês.

“Não só serve ao policial, em razão de denúncias, de que ele fez o correto, mas como ao inverso serve para provar que ele se conduziu de maneira inadequada. Ou seja, em prol do cidadão”, disse o  secretário de Segurança Pública do Ceará, Servilho Silva de Paiva

Em Roraima, cada carro da Polícia Militar é equipado com seis câmeras.

“Na frente, atrás, atrás, nas laterais, internamente e uma câmera em cima de 360 graus.
Reduziu mais de 60% das denúncias que chegavam à Corregedoria e ao Ministério Público”, disse o coronel Ronan Marinho, da PM de Roraima.

Enquanto por aqui ainda são poucos os estados que contam com esse sistema, nos Estados Unidos câmeras em carros da polícia são comuns há muito tempo.

Na Flórida, policiais já usam uma nova tecnologia, como mostra o vídeo. Dois policiais rendem um rapaz que ameaçava a namorada com uma faca. Tudo foi registrado pelas câmeras instaladas nos coletes que eles usavam.

No Brasil, a promotora que acompanha o caso do Rio de Janeiro diz que só a tecnologia não adianta:“Tem um equipamento caro, ótimo, excelente, mas se não tiver monitoramento todo dia não resolve nada. Se demorasse mais tempo para elucidar o crime, provavelmente, poderia ter sido apagada a prova de um crime”.

Cabo Lima: Menos dois. Se a gente fizer isso toda semana dá para ir diminuind
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