Manipulações, ameaças, interesses e panos quentes. Cinco anos após os assassinatos, caso Pesseghini permanece repleto de perguntas sem respostas. Família leva à OEA provas para reabrir inquérito
Família Pesseguini
16/AUG/2018 ÀS 14:23
A investigação sobre a chacina da família Pesseghini pode ser reaberta.
No início deste mês de agosto, os advogados dos avós paternos de Marcelo Pesseghini acionaram a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington (EUA), para reabrir o inquérito.
O caso havia sido arquivado após a polícia concluir que o menino Marcelo, de 13 anos, foi o responsável pelos assassinatos.
O crime aconteceu em 2013, em São Paulo. Na época, segundo a versão oficial, o menino teria matado o pai e a mãe (policiais militares), a avó materna e a irmã dela, tia-avó do adolescente. Horas depois, ele se suicidou com um tiro na cabeça.
O motivo do crime, de acordo com a polícia, foi uma doença mental que levou Marcelinho a acreditar que era o personagem de um videogame. Curiosamente, nenhum dos vizinhos afirma ter ouvido os disparos que tiraram a vida de todos.
Maria José Uliana Pesseghini, 68, e Luís Pesseghini, 69, respectivamente avó e avô de Marcelinho, não acreditam na versão oficial. “É lógico que não foi meu neto. Já faz cinco anos e ainda choro muito. Ele jamais iria fazer isso com a mãe dele, o pai dele e os avós”, afirma Maria.
“Desde o primeiro momento, a investigação só se preocupou em acusar o menino ao invés de procurar quem seria o verdadeiro assassino”, completou o avô, Luís.
A advogada Roselle Soglio, contratada para de defender os interesses dos avós paternos, afirma que já encaminhou documentos à CIDH da OEA que comprovariam a inocência do neto deles na tragédia que comoveu o Brasil e ainda gera dúvidas, segundo ela.
“Nesses cinco anos que se passaram, a população toda sabe que houve uma injustiça em relação ao caso Pesseghini”, diz Roselle. “A única solução nesse caso é a comissão internacional da OEA.”
De acordo com a advogada, o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) apontou Marcelinho culpado desde o início e deixou de investigar outros prováveis suspeitos pela chacina.
Segundo Roselle, caso o órgão internacional aceite os documentos, uma comissão deverá ser criada para vir ao país investigar a morte da família.
Roselle espera que a CIDH encaminhe o caso Pesseghini à Corte Interamericana de Direitos Humanos. “O objetivo é que a Corte condene o Brasil por ser omisso às provas do caso, além de pedir que interceda para retirar o nome de Marcelinho como culpado e que a investigação seja reaberta”.
À época do crime, Roselle comentou que a mãe de ‘Marcelinho’ pretendia revelar a seus superiores na Polícia Militar a descoberta de um esquema de corrupção envolvendo policiais militares.
Uma reportagem da revista IstoÉ publicada no ano passado revelou que o caso é repleto de perguntas sem respostas. Confira os principais trechos:
MARCELINHO É INOCENTE?
Um laudo feito pelo perito norte-americano Mark Andrews, da Law Enforcement and Emergency Services Video Association, aponta que as as imagens da câmera de segurança que mostram Marcelo saindo do carro da mãe e indo à escola foram manipuladas. De acordo com o laudo, faltam trechos no período marcado em 6:24:41. Além disso, o relógio pula de 6:24:41 para 6:24:43. À época, o vídeo não foi periciado. A polícia fez apenas um reconhecimento fotográfico e concluiu que era Marcelinho, mesmo a imagem tendo uma qualidade duvidosa.
Um vulto que aparece ao lado do garoto foi totalmente ignorado. Este, inclusive, foi o motivo que levou a advogada dos avós, Roselle Soglio, a procurar por um perito nos Estados Unidos para analisar os cinco minutos gravados. “Já se passaram quatro anos, fica muito difícil encontrar realmente quem é ou são os autores do crime, mas a família quer que Marcelinho seja considerado inocente. Ele também é vítima”, diz Roselle sobre os avós do garoto.
A versão da polícia não convenceu os avós de Marcelinho nem os vizinhos da família. Falhas e omissões durante a investigação colocam em xeque a conclusão da DHPP. Para a advogada, a polícia ignorou várias pistas, como as câmeras de segurança em frente de uma escola infantil que ficava em frente ao colégio de Marcelo. Uma responsável pelo local chegou a admitir que nas imagens aparece um homem ao lado do garoto, mas elas não foram anexadas ao processo.
Há também contradições no depoimento da testemunha que encontrou os corpos, mas estas foram desconsideradas. Além disso, a polícia não investigou se a chacina não estaria relacionada ao fato de que Andréia teria denunciado um esquema de furto de caixas eletrônicos envolvendo policiais militares. O DHPP, no entanto, nega omissão e afirma ter depoimentos e laudos de balística que comprovam ser Marcelo o autor do crime.
O que não ficou esclarecido:
1. Imagens de câmeras de segurança, incluindo as gravadas por uma escola infantil em frente ao colégio em que Marcelinho estudava, não foram incluídas no inquérito
2. Uma página do Facebook em homenagem a memória do sargento Luis Marcelo Pesseghini foi criada às 16h48 do dia 5 de agosto, antes de a família morta ter sido encontrada, após as 18 horas
3. De acordo com a polícia, Marcelinho matou a família em dez minutos. O cadáver de Luis Marcelo, porém, estava em adiantado estado de putrefação, diferentemente dos demais
4. Ligações e mensagens recebidas no celular de Luis Marcelo antes de o corpo ser encontrado foram totalmente apagadas. A única mensagem que ficou no celular foi enviada pelo irmão de Marcelo após a PM já estar no local
5. O sargento Luís Marcelo teria que estar às 5h no Batalhão da ROTA para uma operação. Ele não apareceu e ninguém foi atrás
6. Testemunhas afirmam que viram uma moto com dois indivíduos em frente da casa de Luis pulando o muro no dia do crime, mas a situação foi ignorada
7. As manchas de sangue encontradas nas paredes são incompatíveis com tiros efetuados por alguém da altura de Marcelinho
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