Para promotor Hidejalma Muccio, PMs são responsáveis por forjar perseguição policial em 2015. Nesta terça-feira (2), ele pediu a prisão preventiva de todos os envolvidos.
Por Glauco Araújo, G1 São Paulo
Ministério Público (MP) de São Paulo denunciou, nesta terça-feira (2), pelo crime de homicídio e fraude processual 14 policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) envolvidos na morte de dois rapazes durante um suposto tiroteio ocorrido em 6 de agosto de 2015, em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo.
As vítimas são Hebert Lúcio Rodrigues Pessoa e Weberson dos Santos Oliveira. Segundo os policiais militares informaram à época dos fatos, três suspeitos em um carro teriam reagido durante uma perseguição e os PMs atiraram, provocando a morte de Hebert e Weberson, em Pirituba. O terceiro rapaz conseguiu fugir e acabou ajudando a elucidar o caso.
Os 14 policiais militares denunciados pelo promotor Hidejalma Muccio, do V Tribunal do Júri da Capital, nesta terça-feira (2), são: Luis Gustavo Lopes de Oliveira, Erlon Garcez Neves, Renato da Silva Pires, Moisés Araújo Conceição, Luis Fernando Pereira Slywezuk, Emerson Bernardes Heleno, Tiago Belli, Marcelo Antonio Liguori, Elias Sérgio da Câmara, Eduardo de Oliveira Rodrigues, Leandro Augusto de Souza, Marcos Gomes de Oliveira, Arthur Marques Maia e Tiago Santana Oliveira.
“Esses réus simularam uma perseguição policial ao veículo que seria ocupado pelos ofendidos, quando, na verdade, as vítimas sequer se conheciam. Uma delas (Hebert) foi levada de Osasco para ser executada em Pirituba, a uma distância de 29,4 km entre os dois extemos. O ofendido Weberson foi detido em outro local, porém desconhecido”, disse o promotor Hidejalma Muccio.
O promotor enviou pedido de prisão preventiva dos réus “como garantia da ordem pública e por conveniência inexorável da instrução criminal”. Ainda segundo Muccio, “os crimes imputados são de extrema gravidade. Não se pede a preventiva deles, contudo, tão só pode força da gravidade dos delitos. Plantaram armas de fogo de uso restrito junto às vítimas e no veículo que supostamente perseguiam. Não há, assim, ordem pública que, com os réus em liberdade, se mantenha incólume.
A Polícia Militar informou que "não comenta as decisões do Ministério Público". A Corregedoria da PM informou, em nota, que os policiais estão afastados do serviço operacional. Eles respondem em liberdade por decisão judicial. A Corregedoria acompanha o trâmite judicial e, caso sejam condenados, responderão a procedimento administrativo demissório.
Imagens obtidas com exclusividade pelo SPTV reforçaram as suspeitas contra os policiais da Rota presos pela morte dos dois rapazes. Uma testemunha ouvida pela Corregedoria da corporação também desmontou a versão do caso apresentada pelos PMs
Em 2015, a SSP informou que durante a ação foram apreendidos uma submetralhadora 9mm, um revólver, um colete balístico e duas bananas de dinamites. Segundo o major Cássio, coordenador operacional da Rota, à época, o esquadrão antibombas precisou ser acionado para coletar os explosivos encontrados no carro dos três suspeitos - o veículo não consta como roubado. Também foram encontrados coletes balísticos e armas.
“Chegaram a depositar no veículo Fiat do ofendido Hebert um explosivo próprio daqueles que são utilizados ara roubos à caixas-eletrônicos. Anote-se, uma vez mais, que os réus, em grande número, forjaram a prática de crimes pelos ofendidos, e todos mancomunados, depois de matarem as vítimas, simularam situação que, fosse de fato verdadeira, implicaria em legítima defesa deles, e insistiram nessa ridícula versão mesmo depois de desmascarados pelas testemunhas, mas principalmente por prova material, levadas à efeito pela Corregedoria da própria instituição Militar”, disse Muccio, na denúncia.
Câmeras
Imagens mostram que o carro da Rota não estava fazendo uma perseguição. “Essa viatura que foi flagrada pelo projetor radar, ela estava, na nossa análise, escoltando esse veículo numa via que dava acesso ao local que ocorreu esse confronto”, disse Levi Anastácio Félix, coronel corregedor da Polícia Militar em 2015.
Foi a família de Hebert que avisou a Corregedoria que ele tinha sido abordado em Guarulhos, na Grande São Paulo, e não em Pirituba, na capital.
Uma testemunha, que viu o momento da prisão reforçou as suspeitas da Corregedoria de que não houve confronto. “Ela nos revelou tudo isso, nos prestou depoimento, essa prova fortaleceu mais ainda o conjunto probatório que nós já tínhamos e que subsidiou pedido de prisão temporária”, afirmou o corregedor à época.
O advogado que representa dois dos policiais presos alegou que eles agiram dentro da lei. "São 14 policiais militares, nem todos atiraram, então tem que se individualizar a conduta para saber efetivamente o que aconteceu ali nos fatos, mas a posição dos PMs, é a posição da verdade", disse João Carlos Campanini, em 2015
Família
O pai de Hebert, que prefere não ter o nome divulgado por temer represálias, disse esperar por Justiça. “A sede de matar deles é maior que qualquer coisa. Temos gente muito boa na PM, mas esses não são. Eles fizeram uma montagem do crime, forjaram os armamentos. A única coisa que resta é a Justiça, colocar os policiais na cadeia. No Brasil a impunidade sempre prevalece, mas a gente acredita que possa ser feita a Justiça.
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