DOM, 17/08/2014 - 12:14
ATUALIZADO EM 17/08/2014 - 12:15
Jornal GGN - O cineasta Glauber Rocha foi vítima de espionagem e perseguição pela ditadura. Neste sábado (16), a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro revelou documentos produzidos pelas Forças Armadas contra o diretor. Ele foi acusado de difundir calúnias contra regime militar e classificado como "um dos líderes da esquerda no cinema". As informações são da Agência Brasil.
A entrega do dossiê militar à família de Glauber foi feita com uma série de atividades que marcam os 50 anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, completados no último dia 10. Oficialmente, Glauber morreu de septicemia (infecção), na década de 1980.
Produzidos pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), os documentos compilam atividades do cineasta, declarações dadas aos jornais fora do país e lista artistas ligados à Glauber e que criticavam o regime militar, como, também o cineasta Luiz Carlos Barreto, apontado como "porta-voz da esquerda cinematográfica nacional".
Presidenta da Comissão da Verdade, Nadine Borges destacou que os documentos encontrados no Arquivo Público do Estado do Rio contém marcas que expressam a intenção dos militares de eliminar Glauber. Ela se referia as palavras "morto", em lápis, no alto do dossiê, na primeira página.
"Recebemos a informação de um agente da repressão que atuou na época, que, em geral, era hábito escrever à mão um indicativo de ordem. Então, isso nos faz pensar que ele estava marcado para morrer. Por sorte, ele se exilou antes", comentou.
A presidenta cobra que o general José Antonio Nogueira Belham, que assina um dos documentos, preste depoimento para esclarecer esse e outros casos.
No dossiê, estão transcritos ainda trechos de artigos de Glauber. Entre eles, uma justificativa para sua atuação, contra o regime. "O cinema não será para nós uma máscara, porque, o cinema não faz revolução - o cinema é um dos instrumentos revolucionários e para isto deve(-se) criar uma linguagem latino-americana, libertária e revelador", disse à revista Cine Cubano, em 1971, segundo SNI.
Com informações da Agência Brasil
Na terra do Sol.
dom, 17/08/2014 - 21:33
Elogiar um dos maestros da ditadura militar e em seguida elogiar um intelectual progressista é álibi.
Glauber foi MESTRE em criar "polêmicas" e polêmicas como ninguém (Caetano também é).
Mas era bom cineasta, sim.
Agora, essa que saiu aqui, que os militares golpistas eram na maioria "oriundos das classes populares", foi de lascar.
Você não entendeu o que o
dom, 17/08/2014 - 22:26
Você não entendeu o que o colega disse sobre o Glauber, que se referiu não "aos militares golpistas" como "oriundos das classes populares", mas aos soldados em geral. Quanto à sua primeira afirmativa, Glauber era realmente um polemista, mas a referência a Darcy depois de Golbery não era "álibi". Interessava a Glauber, em sua alegoria do Brasil, o pensamento sobre o Brasil, os projetos de nação, à esquerda e à direita porque ambos compunham dialeticamente esse quadro, sendo intelectuais que eram também homens de ação. Veja abaixo o que o "álibi" disse sobre Glauber.
Enterro de Glauber Rocha - discurso de Darcy Ribeiro
Em Câncer, experimento
dom, 17/08/2014 - 22:28
Em Câncer, experimento filmado em 1968 e montado em Havana e Roma, em 1972, Glauber fala do processo ditatorial, da resistência e chega a dizer (ou gritar) que nesse último momento "tinham matado Marighela, tinham matado o Capitão Lamarca e reinavam os integralistas, o partido integralista e o terceiro ditador se chamava Médici, o torturador" (1.13). As falas do próprio Glauber, LOGO no início do filme, também são muito esclarecedoras.
Publicado em 11/09/2012
Câncer - Filme Completo de Glauber Rocha
FICHA TÉCNICA
Ficção, longa-metragem, 16 mm, preto e branco. Rio de Janeiro/Roma, 1972, 950 metros, 86 minutos; Lançamento: 2 de setembro de 1982, São Paulo, Centro Cultural São Paulo; Coprodutores: Gianni Barcelloni, RAI - Radiotelevisione Italiana; Diretor: Glauber Rocha; Diretor de fotografia e câmara: Luis Carlos Saldanha; Som direto: José Antonio Ventura; Sincronização: Raul Garcia; Montadores: Tineca e Mireta; Laboratório de imagem: Lider Cine Laboratórios; Elenco: Odete Lara - mulher; Hugo Carvana - marginal Branco; Antonio Pitanga - marginal negro; Eduardo Coutinho - ativista; Rogério Duarte, Hélio Oiticica, José Medeiros, Luís Carlos Saldanha, Zelito Viana e o pessoal do morro da Mangueira (Rio de Janeiro).
SINOPSE:
"O filme não tem história. São três personagens dentro de uma ação violenta. O que eu estava buscando era fazer uma experiência de técnica, do problema da resistência de duração do plano cinematográfico. Nele se vê como a técnica intervém no processo cinematográfico. ...Resolvi fazer um filme em que cada plano durasse um chassi, e estudar a quase-eliminação da montagem quando existe uma ação verbal e psicológica dentro da mesma tomada."
Observação: O filme foi rodado antes das filmagens de "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", cujos negativos importados, tinham sido retidos na Aduana.
COMENTÁRIO
Em l968, lembra Glauber Rocha, num trecho de seu livro Revolução do Cinema Novo, alguns diziam: "O caminho do cinema é o filme a cor, de grande espetáculo." Outros discordavam: "O caminho do cinema é o filme de 16mm, underground." Mas o caminho do cinema, escreveu Glauber, "são todos os caminhos". Câncer -- filme de 16mm em preto e branco -- tenta provar isso. (...)
Nenhuma história em particular, somente três atores (Odete Lara, Hugo Carvana e Antônio Pitanga) metidos durante 90 minutos numa situação de violência psicológica, sexual e racial. No comando, a improvisação total. (...)
Filmado em quatro dias, com parte da equipe técnica de O Dragão de Maldade Contra o Santo Guerreiro, levou quatro anos para ser montado. Foi visto na época, ainda em fragmentos, pela "cotérie" do autor, e certamente fecundou a escola marginal de que Rogério Sganzela e Júlio Bressane se tornaram mestres absolutos.
Isa Cambará e Sérgio Augusto, Folha de São Paulo, 22/08/84
" Se Glauber é precursor do underground brasileiro com"Câncer" filmado em 1968 , no Rio, é por sua aproximação com a cultura dos morros cariocas. Relação Sertão/Favela que cria uma linha de continuidade entre o mundo do sertanejo e o imaginário urbano das favelas. A marginália social e artística dos morros ganha um sentido existencial e estético a partir dos anos 70. "Câncer" é uma encruzilhada entre a pedagogia da violência glauberiana, seu impulso sádico-paternalista e o desejo de uma arte que atravessasse as fronteiras de classe, status, cultura. Nele, a classe média artística -- Rogério Duarte, Odete Lara, Hugo Carvana, Pitanga, Hélio Oiticica -- freqüenta a marginália dos morros, sambistas, punguistas, o submundo das delegacias. Discutem com o povo à respeito de comunismo, sexo, miséria, revolução. Glauber descobre a vanguarda pelo submundo, como se Godard subisse o morro. Numa carta à Alfredo Guevara, pondera: é mais positivo fazer estes filmes do que falar de revolução nos bares e nas praias " Ivana Bentes
Filmado em quatro dias, com parte da equipe técnica de "O Dragão de Maldade Contra o Santo Guerreiro", levou quatro anos para ser montado. Foi visto na época, ainda em fragmentos, pela "cotérie" do autor, e certamente fecundou a escola marginal de que Rogério Sganzerla e Júlio Bressane se tornaram mestres absolutos. Isa Cambará e Sérgio Augusto, Folha de São Paulo, 22/08/84
FICHA TÉCNICA
Ficção, longa-metragem, 16 mm, preto e branco. Rio de Janeiro/Roma, 1972, 950 metros, 86 minutos; Lançamento: 2 de setembro de 1982, São Paulo, Centro Cultural São Paulo; Coprodutores: Gianni Barcelloni, RAI - Radiotelevisione Italiana; Diretor: Glauber Rocha; Diretor de fotografia e câmara: Luis Carlos Saldanha; Som direto: José Antonio Ventura; Sincronização: Raul Garcia; Montadores: Tineca e Mireta; Laboratório de imagem: Lider Cine Laboratórios; Elenco: Odete Lara - mulher; Hugo Carvana - marginal Branco; Antonio Pitanga - marginal negro; Eduardo Coutinho - ativista; Rogério Duarte, Hélio Oiticica, José Medeiros, Luís Carlos Saldanha, Zelito Viana e o pessoal do morro da Mangueira (Rio de Janeiro).
SINOPSE:
"O filme não tem história. São três personagens dentro de uma ação violenta. O que eu estava buscando era fazer uma experiência de técnica, do problema da resistência de duração do plano cinematográfico. Nele se vê como a técnica intervém no processo cinematográfico. ...Resolvi fazer um filme em que cada plano durasse um chassi, e estudar a quase-eliminação da montagem quando existe uma ação verbal e psicológica dentro da mesma tomada."
Observação: O filme foi rodado antes das filmagens de "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", cujos negativos importados, tinham sido retidos na Aduana.
COMENTÁRIO
Em l968, lembra Glauber Rocha, num trecho de seu livro Revolução do Cinema Novo, alguns diziam: "O caminho do cinema é o filme a cor, de grande espetáculo." Outros discordavam: "O caminho do cinema é o filme de 16mm, underground." Mas o caminho do cinema, escreveu Glauber, "são todos os caminhos". Câncer -- filme de 16mm em preto e branco -- tenta provar isso. (...)
Nenhuma história em particular, somente três atores (Odete Lara, Hugo Carvana e Antônio Pitanga) metidos durante 90 minutos numa situação de violência psicológica, sexual e racial. No comando, a improvisação total. (...)
Filmado em quatro dias, com parte da equipe técnica de O Dragão de Maldade Contra o Santo Guerreiro, levou quatro anos para ser montado. Foi visto na época, ainda em fragmentos, pela "cotérie" do autor, e certamente fecundou a escola marginal de que Rogério Sganzela e Júlio Bressane se tornaram mestres absolutos.
Isa Cambará e Sérgio Augusto, Folha de São Paulo, 22/08/84
" Se Glauber é precursor do underground brasileiro com"Câncer" filmado em 1968 , no Rio, é por sua aproximação com a cultura dos morros cariocas. Relação Sertão/Favela que cria uma linha de continuidade entre o mundo do sertanejo e o imaginário urbano das favelas. A marginália social e artística dos morros ganha um sentido existencial e estético a partir dos anos 70. "Câncer" é uma encruzilhada entre a pedagogia da violência glauberiana, seu impulso sádico-paternalista e o desejo de uma arte que atravessasse as fronteiras de classe, status, cultura. Nele, a classe média artística -- Rogério Duarte, Odete Lara, Hugo Carvana, Pitanga, Hélio Oiticica -- freqüenta a marginália dos morros, sambistas, punguistas, o submundo das delegacias. Discutem com o povo à respeito de comunismo, sexo, miséria, revolução. Glauber descobre a vanguarda pelo submundo, como se Godard subisse o morro. Numa carta à Alfredo Guevara, pondera: é mais positivo fazer estes filmes do que falar de revolução nos bares e nas praias " Ivana Bentes
Filmado em quatro dias, com parte da equipe técnica de "O Dragão de Maldade Contra o Santo Guerreiro", levou quatro anos para ser montado. Foi visto na época, ainda em fragmentos, pela "cotérie" do autor, e certamente fecundou a escola marginal de que Rogério Sganzerla e Júlio Bressane se tornaram mestres absolutos. Isa Cambará e Sérgio Augusto, Folha de São Paulo, 22/08/84
Glauber percebeu que os militares não eram todo esse mal
dom, 17/08/2014 - 16:49
Glauber foi talvez o 1º exilado a voltar ao Brasil, 2 ou 3 anos antes da anistia.
Em 1971, Brasil vivia o auge da repressão, mas em 1974 quando deu a famosa entrevista a Zuenir Ventura dizendo que Golbery (e Darcy Ribeiro) eram gênios da raça o Brasil iniciava a abertura.
O próprio João Goulart em um encontro com Glauber no exílio elogiou Geisel (pois o conhecia como chefe militar no Rio Grande Do Sul), isso o influenciou.
Em 1974 o Peru era governado por uma ditadura militar de esquerda (com assessoria de Darcy Ribeiro) e o próprio cineasta testemunhou a Revolução dos Cravos quando os militares restauraram a democracia em Portugal.
Glauber Rocha percebeu que os militares em sua maioria vinham das classes populares e previu o surgimento de Hugo Chávez com duas décadas de antecedência.
Glauber morreu difamado como
dom, 17/08/2014 - 15:42
Glauber morreu difamado como apoiador da ditadura, sendo que o que ele apoiou foi o fim da ditadura, a abertura democática, orquestrada por Golbery. Aliás, a citação feita de seu elogio a este, no célebe depoimento a Zuenir Ventura, em 1974,na REVISTA Visão, é sempre feita pela metade. Sempre "esquecem" a seguda metade da frase, que é a seguinte: Com “Para surpresa geral, li, entendi [o livro Geopolítica do Brasil] e acho o general Golbery um gênio – o mais alto da raça ao lado do professor Darcy [Ribeiro].”
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