MARCELO GOMES - O ESTADO DE S. PAULO
23 Abril 2014 | 13h 49
A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Silva presta depoimento nesta quarta-feira; corpo do filho foi encontrado em creche do Morro Pavão-Pavãozinho
RIO - A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Silva, de 56 anos, mãe do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, de 26 anos, está prestando depoimento na tarde desta quarta-feira, 23, na 13ª Delegacia de Polícia (Ipanema), responsável pelas investigações. Antes de depor, ela disse ter certeza de que o filho foi torturado e morto por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Pavão-Pavãozinho.
"A UPP é um farsa, uma mentira. Meu filho não morreu de queda. Tenho certeza que (os policiais) torturaram e mataram ele. A morte dele não vai ficar por isso mesmo, vou processar o Estado."
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Maria de Fátima disse ainda que, quando Douglas foi encontrado no pátio de uma creche no alto da favela, seu corpo e seus documentos estavam molhados. "Não choveu entre a noite de segunda e a madrugada de ontem (terça, quando o crime teria acontecido). Meu filho teve afundamento na cabeça, um corte no supercílio e está com o nariz machucado, com uma mancha roxa".
Ela disse que não quer que o corpo de Pereira seja maquiado pela funerária para ser velado. O enterro está previsto para as 15h desta quinta-feira, 24, no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio. "Quero que ele seja enterrado sem maquiagem para que todos vejam o que fizeram com meu filho".
Laudo. A auxiliar de enfermagem mostrou o laudo preliminar que atestou que a causa da morte do dançarino foi "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax devido ou como consequência de ação pérfuro-contundente". O laudo definitivo deverá sair em até 30 dias. "Se esse laudo não apontar exatamente o que aconteceu com meu filho, eu mando desenterrá-lo e fazer outro laudo."
Segundo Maria de Fátima, moradores do Pavão-Pavãozinho contaram terem visto policiais militares usando luvas cirúrgicas. Para ela, a cena do crime foi desfeita propositalmente para dificultar as investigações. "Lavaram a cena do crime. Eu fui militar e sei disso. Tem sangue na parede. Além disso, a ex-namorada dele, mãe de sua filha, disse que ele estava em posição de defesa quando foi encontrado. E para que os PMs estavam de luva cirúrgica? Desde quando PM é perito?"
A mãe de Douglas contou que seu filho tinha uma rixa com policiais da UPP desde 2011, quando estava de moto e foi parado em um blitz. "Quando foi parado, ele respondeu mal a um policial. Por isso, foi levado à sede da UPP, ficou sentado lá dentro e me ligaram. Depois que meu filho foi liberado, o tanque da moto dele estava cheio de areia e tivemos que arrastá-la. A moto foi um presente meu para ele".
Ela disse que sua última lembrança foi vê-lo vestido de coelhinho da Páscoa no programa 'Esquenta' da TV Globo veiculado no último domingo, 20. "Eu até brinquei com ele porque a fantasia era rosa. E ele disse que era uma homenagem para a filhinha dele. Meu filho era muito, muito alegre".
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