Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Casos foram registrados em Goiás nos últimos cinco anos. Procurador aponta que crimes têm relação com tortura.

 PM
garante que desaparecimentos
são investigados com rigor
INSEGURANÇA

Ver um filho desaparecido nas mãos da Polícia Militar é um sentimento inexplicável, que só quem já passou por isso sabe o que significa. Este é o drama de pelo menos 12 famílias goianas, que nos últimos cinco anos tiveram seus filhos arrancados do seio familiar após abordagem policial.

A PM tem desaparecido com os corpos, segundo o procurador-geral de Justiça de Goiás, Saulo de Castro Bezerra, para acobertar casos de tortura ou para eliminar testemunhas. O comando da PM, no entanto, entende que o número de casos é pequeno, se comparado com o tamanho do efetivo policial, e que a transparência tem sido a marca das investigações sobre os casos, com todos os envolvidos afastados das ruas até a elucidação e a expulsão quando há comprovação.

O caso mais recente de desaparecimento foi do estudante Murilo Soares Rodrigues, de 12 anos, no dia 22 de abril deste ano, na Vila Brasília. O garoto estava acompanhado do servente de pedreiro Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, 21, que dirigia o carro do pai de Murilo, um Pálio. Testemunhas contaram que os dois foram abordados por uma equipe da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam). Depois de deixarem o local no Pálio, seguido pelo carro da Rotam, os dois nunca mais foram vistos. O veículo foi encontrado carbonizado, no Setor Alto do Vale.

O caso está sendo apurado em duas frentes : no Grupo de Investigações de Homicídios de Aparecida de Goiânia e na Gerência de Correições da PM. Desde 31 de maio estão presos os sargentos Fabiano Marcelo de Jesus, Cleiton Rodrigues da Silva e Fernando Gabriel Pinto, o cabo Marcelo Alessandro Capinam Macêdo e o soldado Thiago Prudente Escrivani.

Os militares negam a abordagem, apesar de provas técnicas comprovarem o que testemunhas já haviam apontado. Eles serão indiciados por homicídio ou latrocínio e ocultação de cadáver se os corpos forem encontrados. Caso contrário, segundo o delegado Rener de Sousa Moraes, eles podem responder apenas pelos crimes de seqüestro e roubo qualificado.

Os pais de Murilo – o comerciante Orton Rodrigues e a dona de casa Maria das Graças Soares Lucena Rodrigues – e o único irmão, Orton Júnior, tentam retomar a vida enquanto acompanham de perto as duas investigações. A família reconhece que PM e Polícia Civil estão fazendo de tudo para punir os culpados. “Gostaria de ver as pessoas que fizeram isso punidas adequadamente”, desabafa Maria das Graças.

Sem provas
O procurador-geral de Justiça de Goiás, Saulo de Castro Bezerra, relator de um mapeamento que está em curso em todo o País sobre a aplicação da Lei de Tortura, acredita que o número crescente de pessoas desaparecidas vitimadas por policiais militares pode estar relacionado a uma nova forma da polícia para esconder indícios de torturas praticadas. O objetivo, frisa, é deixar a Justiça de mãos atadas, sem testemunhas ou elementos para punir os envolvidos.

Para que as pessoas denunciem a polícia que pratica crimes, ele propõe a criação de programas eficientes de proteção às vítimas e às testemunhas. Além disso, defende que haja discussões com a sociedade para não deixar que se banalize a execução de pessoas que já tiveram passagens pela polícia.

Para o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Marciano Basílio de Queiroz, o fato de 12 pessoas terem desaparecido depois de abordagens policiais em Goiás, num período de cinco anos, demonstra que os casos de desvio de conduta são poucos, se for le vado em consideração o efetivo de 13 mil homens. “Nós investigamos cada caso com isenção, transparência e seriedade”, disse.

Basílio de Queiroz reforça que a intenção do comando agora é a de trabalhar melhor a questão doutrinária com as tropas de elite da corporação, tidas como as melhores em índices de combate à criminalidade, mas consideradas as de abordagens mais violentas.

“O Ministério Público reconhece a eficácia dessas tropas de elite, mas possui grande número de reclamações sobre a violência adotada por elas, principalmente a Rotam. Há uma institucionalização da truculência da Rotam, a tal ponto que a população tem medo de ser abordada por ela nas ruas”, informou um alto membro do MP goiano.

O coronel Marciano Basílio de Queiroz concorda que é necessária uma intervenção junto a essas tropas para evitar tais problemas com a sociedade. Um estudo está sendo feito nesse sentido. Mas, de imediato, o comandante da PM afirma que sem as tropas de elite nas ruas dos municípios goianos, os bandidos ficariam tranqüilos para cometer crimes.

Familiares de vítimas sofrem à espera de notícias

O serralheiro Alair Ferreira Lima, de 26 anos, desapareceu na madrugada de 3 de março de 2003 depois de pegar uma carona com o soldado Geson Marques Ferreira, 33, na porta do 4º Distrito Policial do Jardim Garavelo, em Aparecida de Goiânia. Alair estava em um bar , quando foi levado preso por militares até o 4º DP sob a acusação de ter estuprado Maria Helena Ramos Cardoso, que seria moradora do Jardim Itaipu. O nome da mulher nunca foi encontrado no Instituto de Identificação da Secretaria de Segurança Pública e Justiça de Goiás. Também não existem no Jardim Itaipu a Rua W-11, a quadra 49 e o lote 2, que seria o endereço da vítima de Alair.

Ao ser liberado, Alair pegou carona com o soldado Geson e nunca mais foi visto. A família do serralheiro disse à polícia que ele tinha como desafeto apenas um ex-militar, com o qual envolveu-se numa briga por causa de uma namorada. Para o irmão de Alair, o vendedor João Edson Ferreira Lima, 34, o mais difícil é ver seus pais definhando dia após dia, consumidos com o sofrimento causado pelo desaparecimento do filho.

A sindicância que investiga o caso apontou como responsáveis pelo desaparecimento de Alair o tenente reformado Divino José de Oliveira, o cabo Gilvan de Oliveira e os soldados Geson Marques Ferreira e Rondinele Souza Oliveira. Todos responderam ao Conselho de Disciplina da PM, que aguarda decisão judicial sobre o caso.

O adolescente Hélio Barbosa da Silva, 13, desapareceu recentemente no Setor Mandu 2, em Luziânia, depois de ser colocado à força por dois homens em um Gol vinho. Hélio seria testemunha de acusação em um julgamento cujo réu é um militar da cidade. Uma sindicância para apurar um caso de lesão corporal contra Hélio já havia sido instaurada em 2003, mas foi arquivada. O Ministério Público estadual sugeriu à Gerência de Correições da PM que revise o caso e proceda uma investigação sobre o paradeiro de Hélio.

Medo
A costureira Eunice Mendonça Silva, 43, disse ter pavor de aparecer para denunciar o desaparecimento do filho, o pedreiro Marcelo Mendonça da Silva, 19. “Tenho medo de aparecer, porque quem deu sumiço no meu filho é da Polícia Militar”, diz. Marcelo desapareceu em 17 de fevereiro deste ano, quando andava com Anselmo Ceciliano Barbosa pela GO-040, no Setor Madre Germana 2.

De acordo com o inquérito do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Aparecida, dois homens armados de revólveres desceram de um Gol branco, sem placas, efetuaram vários disparos para o alto para intimidar as pessoas que estavam nos arredores e renderam Marcelo e Anselmo. Os dois foram algemados e colocados no veículo, que seguiu rumo a Aragoiânia. O corpo de Anselmo foi encontrado e o de Marcelo, não.

Marco Aurélio Carneiro da Costa, 35, e Rogério Gomes Souza, 22, estão desaparecidos desde 6 de outubro de 2004. Marco Aurélio estava em um ponto de tráfico de drogas comprando merla, no Setor Goiânia Viva, Região Leste de Goiânia. Ao voltar para casa, encontrou-se com Rogério. Segundo testemunhas, os dois foram rendidos por duas equipes da Rotam no percurso e colocados em carros separados. Os dois nunca mais foram vistos. Os supostos envolvidos estão trabalhando internamente na corporação.

O desaparecimento de Cristiano Bandeira da Silva, em 8 de julho de 2002, em Luziânia, terminou com a exclusão dos soldados Jorge Luiz da Conceição Silva e Geilson Souza Cardoso dos quadros da Polícia Militar de Goiás. A participação dos militares na abordagem do rapaz foi comprovada, mas eles nunca revelaram o paradeiro da vítima.

brazil.indymedia.org/content/2005/07/323233.shtml

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