Uma turista espanhola de 67 anos morreu após ser atingida por tiro da polícia na favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, na manhã desta segunda-feira (23).
Segundo a PM, ela estava, com outros turistas, em um carro de passeio que teria furado um bloqueio policial às 10h30 no Largo do Boiadeiro, área na parte alta da favela.
Sem saber quem eram os passageiros, policiais teriam disparado, atingindo a turista Maria Esperanza Jimenez –que, socorrida, já chegou morta ao hospital municipal Miguel Couto, na Gávea.
A Corregedoria da Polícia Militar prendeu em flagrante dois policiais envolvidos no ocorrido: um soldado e um oficial.
Essa versão ainda é alvo de investigação, segundo Fábio Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios. O motorista e uma turista que estava no veículo disseram que não viram nenhum bloqueio policial.
Em nota, a PM afirmou que seus procedimentos de abordagem não foram respeitados. "Em casos como o que ocorreu nesta data, os policiais não devem efetuar disparos, mas sim perseguir o veículo que não obedeceu a ordem de parar e bloquear sua passagem assim que for possível. A razão pela qual o procedimento não foi cumprido é também objeto da investigação em curso"
A morte ocorreu em uma manhã marcada por confrontos entre policiais e traficantes. Dois PMs e um suspeito ficaram feridos após troca de tiros por volta das 9h30.
PESCOÇO
Três PMs envolvidos na ação que resultou na morte da turista tiveram suas armas apreendidas para perícia.
Maria Esperanza morreu após levar um tiro de fuzil na região do pescoço. Ela era uma empresária do ramo imobiliário da cidade de Puerto de Santa María, em Cádiz, no sul da Espanha.
Segundo a delegada Valéria Aragão, titular da Delegacia de Atendimento ao Turista, havia cinco pessoas no carro no momento do disparo –três turistas espanhóis, um motorista com cidadania italiana e radicado no Brasil e uma guia turística brasileira.
Uma empresa espanhola teria contratado uma empresa de locação de carros com motorista e uma guia terceirizada para fazer esse tour. O Fiat Freemont em que estavam foi atingido por apenas um tiro na parte traseira.
Ainda de acordo com a delegada Valéria, os turistas deixaram um hotel em Botafogo e seguiram para a favela às 8h40 –cerca de uma hora antes do confronto entre policiais e traficantes.
A empresa turística não teria alertado os clientes sobre o risco da atividade, visto que a favela registra seguidos conflitos armados há mais de um mês.
A PM diz que a corregedoria da corporação investigará as circunstâncias do caso.
Não é comum carros de passeio fazerem serviço de transporte de turistas na favela. Em geral, as operadoras de turismo levam turistas para a comunidade em jipes abertos, e não em carros fechados.
O carro teria deixado os turistas na parte baixa da favela para um passeio a pé e, depois, acionado para buscá-los na região do Boiadeiro –conhecida por abrigar uma das dezenas de bocas de fumo da favela e também dar acesso a uma das rotas de fuga usadas por traficantes. A área não costuma estar entre os locais visitados por turistas.
Teria sido no momento da descida que o carro foi atingido. O cônsul da Espanha no Rio, Manuel Salazar, acompanhou os depoimentos, mas não falou com a imprensa.
A morte de turistas em favelas no Rio não é novidade. Em agosto, uma turista inglesa foi baleada por traficantes em uma favela de Angra dos Reis. Em dezembro, um turista italiano foi morto na favela dos Prazeres, em Santa Teresa, centro do Rio. Nos dois casos, os turistas entraram na favela por engano e foram atingidos por disparos de traficantes.
No caso da Rocinha, a turista foi morta por tiro disparado pela polícia, num caso ainda inédito no Estado.
TRAFICANTES
A Rocinha vive clima de guerra desde 17 de setembro devido à disputa entre traficantes. Tropas das Forças Armadas cercaram a comunidade por uma semana –e voltaram ao local para uma varredura no último dia 10.
Neste momento, a favela está ocupada por 550 policiais militares, que fazem incursões diárias na parte alta em busca de traficantes.
Os conflitos entre traficantes começaram depois de um racha na facção ADA (Amigos dos Amigos), que dominava a venda de drogas na favela.
O traficante Rogério Avelino, o Rogério 157, teria desobedecido uma ordem de Antonio Bonfim Lopes, o Nem, preso em Rondônia, para devolver bocas de fumo. Aliados de Nem foram mortos por bandidos ligados a Rogério 157, dando início ao conflito.
A despeito da presença policial, há indícios de que homens dos dois grupos rivais ainda permanecem na favela. Rogério 157 estaria se aliando a outra facção criminosa, o CV (Comando Vermelho), a maior do Rio. Desde o início dos conflitos, 44 pessoas foram presas e ao menos 11 pessoas morreram.
CAOS NA SEGURANÇA
O Rio enfrenta grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança.
Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico, perderam parte do efetivo.
Nos últimos meses, mortos e feridos por bala perdida têm sido rotina, além de motoristas obrigados a descer dos carros para se proteger dos tiros.
Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram mais de cem PMs assassinados no Estado.
Segundo a PM, ela estava, com outros turistas, em um carro de passeio que teria furado um bloqueio policial às 10h30 no Largo do Boiadeiro, área na parte alta da favela.
Sem saber quem eram os passageiros, policiais teriam disparado, atingindo a turista Maria Esperanza Jimenez –que, socorrida, já chegou morta ao hospital municipal Miguel Couto, na Gávea.
A Corregedoria da Polícia Militar prendeu em flagrante dois policiais envolvidos no ocorrido: um soldado e um oficial.
Essa versão ainda é alvo de investigação, segundo Fábio Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios. O motorista e uma turista que estava no veículo disseram que não viram nenhum bloqueio policial.
Em nota, a PM afirmou que seus procedimentos de abordagem não foram respeitados. "Em casos como o que ocorreu nesta data, os policiais não devem efetuar disparos, mas sim perseguir o veículo que não obedeceu a ordem de parar e bloquear sua passagem assim que for possível. A razão pela qual o procedimento não foi cumprido é também objeto da investigação em curso"
A morte ocorreu em uma manhã marcada por confrontos entre policiais e traficantes. Dois PMs e um suspeito ficaram feridos após troca de tiros por volta das 9h30.
PESCOÇO
Três PMs envolvidos na ação que resultou na morte da turista tiveram suas armas apreendidas para perícia.
Maria Esperanza morreu após levar um tiro de fuzil na região do pescoço. Ela era uma empresária do ramo imobiliário da cidade de Puerto de Santa María, em Cádiz, no sul da Espanha.
Segundo a delegada Valéria Aragão, titular da Delegacia de Atendimento ao Turista, havia cinco pessoas no carro no momento do disparo –três turistas espanhóis, um motorista com cidadania italiana e radicado no Brasil e uma guia turística brasileira.
Uma empresa espanhola teria contratado uma empresa de locação de carros com motorista e uma guia terceirizada para fazer esse tour. O Fiat Freemont em que estavam foi atingido por apenas um tiro na parte traseira.
Ainda de acordo com a delegada Valéria, os turistas deixaram um hotel em Botafogo e seguiram para a favela às 8h40 –cerca de uma hora antes do confronto entre policiais e traficantes.
A empresa turística não teria alertado os clientes sobre o risco da atividade, visto que a favela registra seguidos conflitos armados há mais de um mês.
Não é comum carros de passeio fazerem serviço de transporte de turistas na favela. Em geral, as operadoras de turismo levam turistas para a comunidade em jipes abertos, e não em carros fechados.
O carro teria deixado os turistas na parte baixa da favela para um passeio a pé e, depois, acionado para buscá-los na região do Boiadeiro –conhecida por abrigar uma das dezenas de bocas de fumo da favela e também dar acesso a uma das rotas de fuga usadas por traficantes. A área não costuma estar entre os locais visitados por turistas.
Teria sido no momento da descida que o carro foi atingido. O cônsul da Espanha no Rio, Manuel Salazar, acompanhou os depoimentos, mas não falou com a imprensa.
A morte de turistas em favelas no Rio não é novidade. Em agosto, uma turista inglesa foi baleada por traficantes em uma favela de Angra dos Reis. Em dezembro, um turista italiano foi morto na favela dos Prazeres, em Santa Teresa, centro do Rio. Nos dois casos, os turistas entraram na favela por engano e foram atingidos por disparos de traficantes.
No caso da Rocinha, a turista foi morta por tiro disparado pela polícia, num caso ainda inédito no Estado.
TRAFICANTES
A Rocinha vive clima de guerra desde 17 de setembro devido à disputa entre traficantes. Tropas das Forças Armadas cercaram a comunidade por uma semana –e voltaram ao local para uma varredura no último dia 10.
Neste momento, a favela está ocupada por 550 policiais militares, que fazem incursões diárias na parte alta em busca de traficantes.
Os conflitos entre traficantes começaram depois de um racha na facção ADA (Amigos dos Amigos), que dominava a venda de drogas na favela.
O traficante Rogério Avelino, o Rogério 157, teria desobedecido uma ordem de Antonio Bonfim Lopes, o Nem, preso em Rondônia, para devolver bocas de fumo. Aliados de Nem foram mortos por bandidos ligados a Rogério 157, dando início ao conflito.
A despeito da presença policial, há indícios de que homens dos dois grupos rivais ainda permanecem na favela. Rogério 157 estaria se aliando a outra facção criminosa, o CV (Comando Vermelho), a maior do Rio. Desde o início dos conflitos, 44 pessoas foram presas e ao menos 11 pessoas morreram.
O Rio enfrenta grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança.
Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico, perderam parte do efetivo.
Nos últimos meses, mortos e feridos por bala perdida têm sido rotina, além de motoristas obrigados a descer dos carros para se proteger dos tiros.
Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram mais de cem PMs assassinados no Estado.