Entidades condenam regalias de policiais militares
Associações e sindicato recomendam a bares, restaurantes, lanchonetes e padarias que denunciem ao comando da PM pedidos de agrados e intimidação em troca de segurança
postado em 18/09/2012 06:00 / atualizado em 18/09/2012 06:36
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/Minas), Lucas Pêgo, revelou ontem que muitos donos de bares e restaurantes começam a fornecer alimentos para os militares como forma de cortesia pelo trabalho prestado ou para se aproximar do policial. “Isso talvez possa virar um círculo vicioso. A gente sabe que o policial militar é um funcionário público, seja ele um PM ou uma pessoa que está dentro de um departamento, e que é responsável pela liberação de alguma licença, mas eles nunca podem receber agrados, cortesias ou propinas. Então, é uma prática que a Abrasel realmente não recomenda. No caso da intimidação por parte dos PMs, denunciada pela reportagem, o que a gente sugere é que o comerciante entre em contato com a companhia da PM responsável pelo bairro ou com o Comando de Policiamento da Capital. A PM deixa claro que não é uma prática correta”, afirmou.
Segundo Lucas Pêgo, há 10 dias a PM se reuniu com representantes da Abrasel para discutir o projeto de regionalização do policiamento da capital, que vai pretende deixar a polícia mais perto da população nos bairros. “Vamos ficar mais próximos do PM e vamos ter um policiamento mais eficaz. Realmente, a gente tem sentido falta de segurança em algumas regiões, mas com essa medida vai ser muito positivo”, disse o diretor-executivo da Abrasel. “A gente recomenda que os comerciantes fiquem próximos dos policiais, mas não através dessa prática, de fornecer agrados em troca de segurança”, reafirma.
O presidente da Associação Mineira de Bares Restaurantes e Lanchonetes (Amibar) e do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo César Pedrosa, disse ontem não ter recebido reclamações sobre os agrados a PMs, mas que ficou surpreso com a denúncia de permuta de alimentação por segurança . “Se há funcionários de estabelecimentos fazendo isso, ele faz autorizado pelo dono. A mesma coisa é eu ter hotel e uma pessoa me pedir diária de graça. Eu não dou. A PM, com certeza, vai coibir e punir essa prática. Se há empresário que faz isso, ele está sendo conivente com a irregularidade”, disse Pedrosa.
Para ele, os militares são servidores públicos e já são pagos para atender a população. “Se estão na PM é porque querem e fizeram concurso. Hoje, a PM de Minas não tem mais os piores salários do Brasil, pois já fomos os piores, e estamos entre os cinco melhores salários do país. Nada justifica essa irregularidade”, acrescentou Pedrosa.
Palavra de especialista
Marcos Vinícius Cruz
Pesquisador em Segurança da FJP
Planejamento fica prejudicado
“Ocorrem duas situações. Uma é a conivência do comerciante que fornece artigos para a polícia. Outra, o lojista se sente obrigado a dar refeições para não perder a segurança. É como a famosa carteirada. Uma questão institucional passa a ser pessoal. Os manuais de instituições policiais do mundo inteiro repudiam essa conduta. É uma questão que aflige organizações policiais do mundo inteiro e depende da socialização e do contexto social. Nos Estados Unidos, o debate aumentou em meados do século passado e as instituições resolveram isso com regras rígidas e maior conscientização da sociedade de que o policial não deve ser depositário desse tipo de regalias. A solução é a polícia dar condições salariais ou de outro tipo para que seus membros não precisem constranger a sociedade. O Estado já cobra da sociedade a subsistência de suas instituições. Quando o favorecimento ocorre, o cidadão é onerado duas vezes. Outro problema é que a segurança fica extremamente prejudicada. O policial tem um planejamento de modo a atender determinado tipo de ocorrência no território ao longo da jornada de trabalho. Se ele se sente compelido a frequentar determinada área comercial por receber benesses, isso quebra o planejamento do superior da área. Sem falar que isso favorece a dinâmica da criminalidade. Ou seja, se sai pão quente da padaria às 15h e o policial vai para lá comer, os bandidos se aproveitam para atacar um ponto de ônibus a quatro quarteirões ou para agir na porta da escola.”
Repercussão
Leitores comentam no em.com.br
Além de despertar reação imediata do comando da Polícia Militar, a reportagem"Entre a cortesia e a coerção", publicada pelo Estado de Minas em sua edição de domingo, foi uma das mais comentadas do ano no Em.com. Confira manifestações de leitores:
Sou policial militar e sempre primo por minha conduta. Sei que acontece isso em vários locais, mas não somos todos assim. Sempre pago pelo que consumo e cobro isso dos que trabalham comigo.
Maria Aparecida Delogo
A questão de se beneficiar da farda é desvio de conduta e escorrega na ética. Já fui fiscal e jamais aceitei nem mesmo água sem pagar, para não criar esse tipo de vínculo ou privilégio.
Antônio Brito
Os comerciantes que adotam essa postura de fornecer alimentação de graça para alguns profissionais de segurança é que deveriam ser presos por corrupção. O incentivo muitas vezes parte deles mesmos.
Edvaldo Magela Fernandes
Não adianta que os PMs esperneiem, é notório que fazem uso dessas regalias. Os comerciantes se sentem
constrangidos em cobrar. A cúpula da PM é que tem que coibir essa prática, solicitando aos comerciantes
que denunciem.
Álvaro Falcão
Parabéns pela reportagem! Isso acontece em toda a cidade, mas por medo as pessoas ficam coagidas. Aqui no Prado isso é vergonhoso.
Júlio Oliveira
Enquanto isso as ruas estão infestadas de motoristas inabilitados, bêbados, sem cinto, motos sem retrovisores etc., e o valoroso PM filando lanche.
Valter Alves Silverio
Precisamos de mais reportagens assim. Isso no Rio de Janeiro é a chamada milícia, é uma vergonha essa atitude, igual é uma vergonha a PM e a Civil entrarem em casa de show, estádio de futebol na carteirada.
João Osni
Fico com vergonha. Como é que grupos de desalinhados, comedores de coxinhas e afins mancham a valorosa Polícia Militar de Minas Gerais! Francamente, um desaforo para a população e comerciantes!
Antônio Sousa
No meu bairro também é assim! Esses caras de pau entram, comem, se lambuzam e saem rindo da cara de todos nós! Segurança pública é para todos e não para os que se intimidam com a farda desses bandidos.
Karenina Lumertz
Isto é comum em boa parte da corporação, visto o cabo coxinha, o sargento empadinha ou o tenente cafezinho. Mas ainda há bons policiais que tiveram educação, principalmente em suas casas, para se tornarem antes de tudo homens e mulheres de verdade.
Robson Matias
É comum. Se o PM insistir em pagar, o dono do estabelecimento, além de não pegar o dinheiro, faz cara feia
e fica ofendido com o PM. É isso. Isso não é corrupção.
Carlos Bertoline
“Cortesia”, palavra que se emparelha a “corrupção”. Os consumidores, quando percebessem tal prática, deveriam deixar de comprar em tais estabelecimentos. Ou, quem for mais corajoso, converse com o militar (servidor público) e diga que essa prática é imoral, ilegal e antiética. O boicote é o melhor caminho.
Marcos Nunes
Conheço uma pessoa que denunciou, a Corregedoria puniu os PMs e o denunciante agora vive fugindo por receber constantes ameaças de morte dos que foram denunciados.
Adriana Fernandes
Marcos Vinícius Cruz
Pesquisador em Segurança da FJP
Planejamento fica prejudicado
“Ocorrem duas situações. Uma é a conivência do comerciante que fornece artigos para a polícia. Outra, o lojista se sente obrigado a dar refeições para não perder a segurança. É como a famosa carteirada. Uma questão institucional passa a ser pessoal. Os manuais de instituições policiais do mundo inteiro repudiam essa conduta. É uma questão que aflige organizações policiais do mundo inteiro e depende da socialização e do contexto social. Nos Estados Unidos, o debate aumentou em meados do século passado e as instituições resolveram isso com regras rígidas e maior conscientização da sociedade de que o policial não deve ser depositário desse tipo de regalias. A solução é a polícia dar condições salariais ou de outro tipo para que seus membros não precisem constranger a sociedade. O Estado já cobra da sociedade a subsistência de suas instituições. Quando o favorecimento ocorre, o cidadão é onerado duas vezes. Outro problema é que a segurança fica extremamente prejudicada. O policial tem um planejamento de modo a atender determinado tipo de ocorrência no território ao longo da jornada de trabalho. Se ele se sente compelido a frequentar determinada área comercial por receber benesses, isso quebra o planejamento do superior da área. Sem falar que isso favorece a dinâmica da criminalidade. Ou seja, se sai pão quente da padaria às 15h e o policial vai para lá comer, os bandidos se aproveitam para atacar um ponto de ônibus a quatro quarteirões ou para agir na porta da escola.”
Repercussão
Leitores comentam no em.com.br
Além de despertar reação imediata do comando da Polícia Militar, a reportagem"Entre a cortesia e a coerção", publicada pelo Estado de Minas em sua edição de domingo, foi uma das mais comentadas do ano no Em.com. Confira manifestações de leitores:
Sou policial militar e sempre primo por minha conduta. Sei que acontece isso em vários locais, mas não somos todos assim. Sempre pago pelo que consumo e cobro isso dos que trabalham comigo.
Maria Aparecida Delogo
A questão de se beneficiar da farda é desvio de conduta e escorrega na ética. Já fui fiscal e jamais aceitei nem mesmo água sem pagar, para não criar esse tipo de vínculo ou privilégio.
Antônio Brito
Os comerciantes que adotam essa postura de fornecer alimentação de graça para alguns profissionais de segurança é que deveriam ser presos por corrupção. O incentivo muitas vezes parte deles mesmos.
Edvaldo Magela Fernandes
Não adianta que os PMs esperneiem, é notório que fazem uso dessas regalias. Os comerciantes se sentem
constrangidos em cobrar. A cúpula da PM é que tem que coibir essa prática, solicitando aos comerciantes
que denunciem.
Álvaro Falcão
Parabéns pela reportagem! Isso acontece em toda a cidade, mas por medo as pessoas ficam coagidas. Aqui no Prado isso é vergonhoso.
Júlio Oliveira
Enquanto isso as ruas estão infestadas de motoristas inabilitados, bêbados, sem cinto, motos sem retrovisores etc., e o valoroso PM filando lanche.
Valter Alves Silverio
Precisamos de mais reportagens assim. Isso no Rio de Janeiro é a chamada milícia, é uma vergonha essa atitude, igual é uma vergonha a PM e a Civil entrarem em casa de show, estádio de futebol na carteirada.
João Osni
Fico com vergonha. Como é que grupos de desalinhados, comedores de coxinhas e afins mancham a valorosa Polícia Militar de Minas Gerais! Francamente, um desaforo para a população e comerciantes!
Antônio Sousa
No meu bairro também é assim! Esses caras de pau entram, comem, se lambuzam e saem rindo da cara de todos nós! Segurança pública é para todos e não para os que se intimidam com a farda desses bandidos.
Karenina Lumertz
Isto é comum em boa parte da corporação, visto o cabo coxinha, o sargento empadinha ou o tenente cafezinho. Mas ainda há bons policiais que tiveram educação, principalmente em suas casas, para se tornarem antes de tudo homens e mulheres de verdade.
Robson Matias
É comum. Se o PM insistir em pagar, o dono do estabelecimento, além de não pegar o dinheiro, faz cara feia
e fica ofendido com o PM. É isso. Isso não é corrupção.
Carlos Bertoline
“Cortesia”, palavra que se emparelha a “corrupção”. Os consumidores, quando percebessem tal prática, deveriam deixar de comprar em tais estabelecimentos. Ou, quem for mais corajoso, converse com o militar (servidor público) e diga que essa prática é imoral, ilegal e antiética. O boicote é o melhor caminho.
Marcos Nunes
Conheço uma pessoa que denunciou, a Corregedoria puniu os PMs e o denunciante agora vive fugindo por receber constantes ameaças de morte dos que foram denunciados.
Adriana Fernandes
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