Mortes causadas pela polícia atingem maior número em 11 anos em SP
Bom Dia Brasil mapeou regiões com mortes provocadas por policiais e descobriu que elas ocorrem na maior parte nas periferias.
11/02/2015 08h33 - Atualizado em 11/02/2015 08h33
As mortes provocadas pela polícia de São Pauloatingiram o maior número da última década. E já respondem por 30% dos homicídios na maior cidade do país. A produção do Bom Dia Brasil mapeou todas regiões com mortes provocadas por policiais e descobriu que elas ocorrem na maior parte nas periferias.
A Secretaria de Segurança Pública diz que o número de confrontos com suspeitos também aumentou. Mas reconhece que investiga alguns casos em que a polícia matou suspeitos já dominados e desarmados.
Ser policial é uma atividade de risco. A responsabilidade de cuidar da nossa segurança inclui o confronto com bandidos. Nessas situações extremas policiais morrem, e matam. Mas no último ano, o resultado desses confrontos chamou a atenção. Em 2014, a polícia matou 343 pessoas na cidade de São Paulo. Esse é o maior número dos últimos 11 anos.
Bom Dia Brasil: A polícia de São Paulo mata demais?
Samira Bueno: Sim, mata. Se a gente for pensar em qualquer critério de nível internacional de uso da força ela preenche todos os requisitos como polícia que abusa do uso da força letal.
Samira Bueno: Sim, mata. Se a gente for pensar em qualquer critério de nível internacional de uso da força ela preenche todos os requisitos como polícia que abusa do uso da força letal.
O Bom Dia Brasil somou o número de mortes provocadas intencionalmente em homicídios dolosos, latrocínios e intervenções policiais na cidade de São Paulo. Foram 1.691 mortes no ano passado, 20% delas provocadas pela polícia, um recorde.
O número é ainda mais alarmante se compararmos o total de homicídios com número de mortos pela polícia. Os homicídios caíram 55%, na última década. Já as mortes em decorrência de intervenção policial atingiram o seu maior número em 2014. Os 343 mortos equivalem a 29% das vítimas de homicídio.
O Bom Dia Brasil teve acesso a Boletins de Ocorrência de 330 dessas 343 mortes. É nas periferias que a polícia mata mais. Na Zona Leste aconteceram 46% das mortes decorrentes de intervenção policial. E algumas áreas tem uma concentração assustadora de mortes.
A rua Jandiroba fica em São Miguel Paulista, extremo da Zona Leste da cidade de São Paulo. Em 8 de abril do ano passado, um homem foi morto e outros dois feridos pela polícia. De acordo com o Boletim de Ocorrência, isso aconteceu depois de uma perseguição e de uma troca de tiros. Nos seis dias seguintes, outros três homens seriam mortos em um raio de menos de dois quilômetros, depois de ações da polícia.
Não muito longe dali, no Itaim Paulista, oito pessoas foram mortas no ano passado em um raio de dois quilômetros. Em Itaquera, quatro mortos em 20 dias, em um raio de dois quilômetros.
E em Sapopemba, a polícia matou três pessoas em um raio de um quilômetro, no mês de março.
E em Sapopemba, a polícia matou três pessoas em um raio de um quilômetro, no mês de março.
O novo secretário de Segurança de São Paulo assumiu no dia 1° de janeiro. E não vê erro no procedimento da polícia. “Outros números devem ser considerados. Não só esses dois números isolados. Se nós pegamos 2014 em relação a 2013, nós tivemos também quase o dobro de confrontos entre bandidos e policiais. Ou seja, mais conflito, mais troca de tiros, isso acaba resultando em mais mortes dos dois lados”, explica Alexandre de Moraes.
Mas o aumento no número de mortos foi só de um lado. No ano passado oito PMs morreram em serviço em São Paulo. Foi o menor número desde 2009. Para cada PM morto quase 42 pessoas foram mortas em ações policiais.
“Se essas situações acontecem em situação de confronto, como normalmente os Boletins de Ocorrência indicam, você supõe que os policiais também saiam feridos ou percam a sua vida. Quando só morre de um lado, nos faz pensar que existe algo errado em relação ao uso da força”, analisa Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os Boletins de Ocorrência contam, de forma quase unanime, a versão dos confrontos.
Com os suspeitos sempre armados atirando antes. Foi isso que disseram os primeiros policiais que atenderam uma ocorrência em um prédio e que terminou com a morte de dois pichadores, em julho do ano passado. Mas é o depoimento de outros dois PMs que pode elucidar o caso.
Com os suspeitos sempre armados atirando antes. Foi isso que disseram os primeiros policiais que atenderam uma ocorrência em um prédio e que terminou com a morte de dois pichadores, em julho do ano passado. Mas é o depoimento de outros dois PMs que pode elucidar o caso.
Eles chegaram um pouco depois. Encontraram o primeiro grupo de policiais e os dois pichadores “rendidos, com as mãos para trás e deitados com os rostos voltados para o chão, ainda vivos”, disseram em depoimento.
Como a situação estava dominada os dois policiais foram embora. Pelo rádio, souberam do tiroteio no prédio e da morte dos pichadores. A mãe de Alex, um dos pichadores mortos em julho, não defende o comportamento o filho. Mas, condena o comportamento dos policiais. “Ele estava errado pichando, estragando as paredes dos outros. Mas não era motivo para polícia, que defende a gente, matar. Por que não deram uma voz de prisão?, indaga mãe de Alex, Mara Dalla Vecchia.
“O que vem se desenhando nesse caso é uma execução. É uma execução e depois forjar a cena de crime, inclusive colocando arma na mão das vítimas. Nós não podemos comparar ou tomar como exemplo criminosos de farda, que eventualmente pratiquem crimes com toda corporação de 96 mil homens”, afirma o secretário da Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes.
Os três policiais que estavam na cena do crime já foram afastados e devem ser expulsos. De 2011 a 2014, mais de 1,7 mil policiais foram demitidos no estado de São Paulo. O secretário de segurança quer diminuir o número de mortos em confronto. “Com mais treinamento policial, com mais intensidade policial, com mais investigação da Polícia Civil, é para evitar tantos confrontos.
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