PM que disse ser vergonha não matar 3 pessoas em 5 anos de rua é preso administrativamente
07/07/15 Por Luís Adorno
Em áudio obtido com exclusividade pela Ponte, 1º tenente Guilherme Derrite, da Rota, fazia críticas ao comando da PM por transferir policiais com registro de “três eventos de morte”. Preso administrativamente, tenente foi liberado na noite do mesmo dia
O 1º tenente da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar)Guilherme Derrite que criticou, no domingo (5), o comando da PM (Polícia Militar), por transferir de batalhões policiais responsáveis por três ou mais mortes no Estado de São Paulo nos últimos cinco anos, foi preso administrativamente pela Corregedoria da corporação na tarde desta segunda-feira (6). À noite, o agente foi liberado. Derrite disse que “é vergonhoso” um policial não ter participação em pelo menos três mortes durante cinco anos.
O áudio foi obtido com exclusividade pela Ponte Jornalismo. O tenente é “padrinho de braçal” de Rafael Telhada, filho do deputado estadual Coronel Telhada (PSDB) e também 1º tenente da considerada tropa de elite da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, condenou a opinião do agente e disse que “vergonhoso é um cidadão ouvir uma frase dessa”. Um ofício foi feito pela Ouvidoria ao secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
“Porque pro camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter ma… três ocorrências, na minha opinião, é vergonhoso, né. Mas é a minha opinião, né”
Ouça a gravação
Procuradas, PM e SSP (Secretaria da Segurança Pública) não se manifestaramsobre a prisão administrativa de Guilherme Derrite. No domingo (5) e nesta segunda-feira (6), a Pasta e a corporação foram procuradas para se pronunciar sobre o áudio gravado pelo tenente. Até a conclusão desta reportagem, a Ponte não obteve nenhuma resposta. As duas instituições não informaram quantas pessoas Rafael Telhada e Guilherme Derrite mataram. Um pedido de entrevista com os policiais foi enviado, mas a solicitação também não foi atendida.
A gravação, feita neste domingo (5), foi divulgada em grupos do WhatsApp restrito a policiais militares. “A polícia tá, como sempre, né, querendo reduzir a letalidade policial. Então, os tenentes, principalmente os oficiais, mas sargentos, cabos e soldados que nos últimos cinco anos se envolveram em três ocorrências ou mais, que tenham resultado evento morte do criminoso, eles tão sendo movimentados”, explicou Derrite.
O áudio foi motivado pela transferência do tenente Telhada da Rota para o 2º Batalhão do Choque da PM. “E o Telhada se encaixa nessa lista aí [envolvimento em mais de três mortes nos últimos cinco anos]. Até eu, que tô fora da rua há dois anos, me encaixo. Porque pro camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter ma… três ocorrências, na minha opinião, é vergonhoso, né. Mas é a minha opinião, né”, afirmou.
“Quem vai pra cima, quem combate o crime, no Estado de São Paulo, onde o ladrão tá estourando caixa eletrônico toda madrugada, atirando em polícia… Mas esse daí é o reconhecimento que a gente tem por parte da nossa instituição. Esse é o grande reconhecimento. Tomar um pé na bunda”, justifica o 1º tenente da Rota. Sobre a transferência de Telhada, ele diz: “É meu amigo, é meu irmão, é meu afilhado de braçal. A gente fica triste, né. E principalmente por tudo o que o pai dele fez e continua fazendo pela Polícia Militar”.
Guilherme Derrite termina a gravação dizendo que “a frase é a seguinte: uma vez Rota, sempre Rota. Onde ele tiver, ele vai ser o tenente Telhada e vai desempenhar tudo o que ele for fazer de maneira sempre acima da média e excepcional, que ele é o cara.” Também ouça o áudio gravado pelo 1º tenente da Rota Guilherme Derrite, neste domingo (5), clicando aqui.
O ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, afirmou à Ponte que oficializou o caso ao Comando da Polícia Militar e aosecretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
“O que ele falou cabe, no mínimo, uma repreensão disciplinar. No mínimo do mínimo. Isso não condiz em nada com a conduta da PM. Vergonhoso é a gente ouvir isso de um tenente da Rota “, disse o ouvidor.
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