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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

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PM cobra esclarecimentos sobre prisão de comandante que teria envolvimento com tráfico

Tenente-coronel do batalhão de São Gonçalo assumiu após a prisão de acusado de participar de execução de juíza

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Djalma Beltrami põe a mão na cabeça ao saber que seria preso ao chegar ao Batalhão de São Gonçalo
Djalma Beltrami põe a mão na cabeça ao saber que seria preso ao chegar ao Batalhão de São Gonçalo
RIO - A Polícia Militar divulgou nota, na noite desta segunda-feira, informando que não vai se posicionar sobre a prisão do tenente-coronel Djalma José Beltrami Teixeira, comandante do 7º Batalhão (São Gonçalo), até que sejam esclarecidas as circunstâncias e a motivação de sua prisão temporária. “A Corregedoria Interna da Corporação vai solicitar formalmente cópia da documentação e das gravações com as interceptações telefônicas veiculadas na mídia”, diz a nota. Djalma Beltrami foi preso na manhã desta segunda-feira, durante operação da Polícia Civil para cumprir mandados de prisão contra policiais militares e traficantes. Ele é um dos alvos da Operação Dezembro Negro, deflagrada nesta madrugada pela Delegacia de Homicídios de Niterói, com o apoio de outras unidades especializadas, da Corregedoria Geral Unificada (CGU) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual. Segundo o delegado Alan Luxardo, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, havia 11 mandados de prisão contra traficantes e 13 contra policiais militares. Ao todo, 11 PMs foram presos.
— Nós começamos essa investigação, há sete meses, para apurar crimes relacionados ao tráfico de drogas. No decorrer das investigações, descobrimos a participação de diversos policiais militares. Temos provas que o esquema funcionava depois da posse do comandante. Ele prestou depoimento e negou as acusações, alegando que não recebeu, em momento algum, dinheiro desse pacto. Temos material bastante contundente sobre o esquema de acordo — afirma o delegado.
O Ministério Público começou a investigar o tráfico de drogas na Região dos Lagos há sete meses, e descobriu que a droga que abastecia a região saía das favelas Parque União, Nova Holanda e Manguinhos, no Rio; ia para São Gonçalo, no Morro da Coruja, e de lá era enviada para São Pedro da Aldeia, que funcionaria como uma porta de entrada. Também foi detectado que policiais militares do batalhão de São Gonçalo estariam recebendo propinas semanais para deixar o tráfico de drogas funcionar livremente. De acordo com Luxardo, os PMs recebiam valores que chegavam a cerca de R$ 160 mil por mês. Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, foram flagradas conversas de PMs do 7º batalhão com traficantes. Em uma delas, um policial pedia R$ 10 mil para o "zero um", que é como é chamado o comandante do batalhão, e R$ 5 mil para cada um do Grupo de Apoio Tático (GAT) por semana. As patrulhas da PM são tratadas de "gêmeas”. O comandante Beltrami não aparece em nenhuma conversa gravada pela polícia.
Policial: “Só que também vai ter que levantar, aumentar aquele negócio, porque tem gente, rapaziada mais alta chegando. Vai ser tudo, tudo com a gente, entendeu? Vai ser tudo com este telefone que você tá falando aí. Tudo com o 'zero um', entendeu?”
Traficante: “Olha só, eu quero perder pra vocês, entendeu? E perder pro (sic) cara que assumiu agora, eu tenho condições de dar 10 para ele por semana, entendeu?”
Policial: “10 pra, pra (sic)... Tem que ser pra (sic) cada "gêmea", por final de semana”
Traficante: “Como é que vou dar 10 pra tu (sic)? E depois tem que dar tanto paras outras "gêmeas"? Tá louco, aí eu morro, fico na 'bola'. A boca não é minha, não, cara”.
Djalma Beltrami assumiu o batalhão há três meses, depois das denúncias da participação do então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira na morte da juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros, próximo à sua residência, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói.
Segundo o Ministério Público, a investigação, além das escutas telefônicas, também teve por base outras informações, como imagens de circuito interno de um posto de gasolina, e do GPS de duas viaturas do GAT. “No dia marcado entre os policiais e os traficantes para o pagamento da propina, provado por conversas interceptadas, os GPS das viaturas do GAT foram desligados e religados, simultaneamente. Cruzando-se a informação dos investigadores, que deslocados visualizaram a negociação, com as imagens do posto de gasolina e com os dados dos GPS, chegou-se à conclusão de que os militares que integravam aquelas guarnições negociaram e receberam o dinheiro sujo”, disse o Promotor de Justiça Tulio Caiban Bruno, segundo nota do MP.
Pezão diz que infelizmente teremos que passar por este processo
O vice-governador Luiz Fernando Pezão comentou a prisão do comandante, durante a inauguração de uma agência bancária na Vila Cruzeiro, na Zona Norte, na manhã desta segunda.
- Eu estava chegando aqui (à Vila Cruzeiro) quando eu soube. Isso é a própria polícia que está fazendo. São operações da própria área de segurança. Essas situações a gente vai ter mesmo que passar, e foi assim em diversos países do mundo. Na Colômbia, mais de 24 mil policiais foram presos ou mandados embora. A gente, infelizmente, vai ter que passar por esse processo. Mas isso é uma minoria da polícia. A polícia, hoje, já vai para um contingente de 50 mil, e isso é uma minoria. Se prenderam, é porque tinham indícios ou alguma razão para prendê-lo - afirmou Pezão, segundo o site G1. Ele acrescentou que não sabe se já há um substituto para assumir o comando do 7º BPM.
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, também falou sobre a prisão do comandante do batalhão de São Gonçalo:
— A Polícia Civil tem a obrigação de investigar delitos, seja ele cometido por cidadãos comuns, seja por corruptos, bandidos ou policiais. E isso está sendo feito - garante o secretário.
Desde o início da manhã, os agentes também estiveram no Morro da Coruja. Na chegada dos policiais à comunidade, houve troca de tiros, e um bandido morreu. Cerca de cem agentes participam da operação.
Beltrami chegou ao quartel às 8h25m, no banco do carona de um Gol prata. O tenente-coronel entrou na unidade, e logo em seguida um PM foi à porta do quartel para dizer que o oficial trocaria a farda. Às 9h05m, ele deixou o local acompanhado do corregedor da PM, num carro da Corregedoria Geral Unificada (CGU), escoltado por outros quatro veículos daquela unidade. Ele estava à paisana e parecia bastante agitado, gesticulando muito. Pouco antes de entrar no veículo, abaixou a cabeça, parecendo inconformado com a prisão. O tenente-coronel foi levado para a DH de Niterói, onde está prestando depoimento.
Cerca de 100 agentes da Polícia Civil, um helicóptero blindado e dois Promotores do Gaeco participam da operação.
Comandante também é árbitro de futebol
Como tenente-coronel do 14º BPM (Bangu), coordenou trocas na retomada do Complexo do Alemão, na Zona Norte, em novembro do ano passado.
Juiz de futebol, Beltrami se despediu dos gramados em maio deste ano, ao apitar a decisão do Troféu Carlos Alberto Torres entre Madureira e Boavista. Ele pertencia aos quadros da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) desde 1989 e da CBF desde 1995. Na ocasião, o árbitro recebeu uma placa da Ferj em agradecimento aos serviços prestados ao futebol.
Um dos jogos mais marcantes de sua carreira no futebol foi o duelo entre Náutico e Grêmio, em Recife, uma das decisões da Série B do Campeonato Brasileiro de 2005. Conhecida como "A Batalha dos Aflitos", a partida terminou com quatro jogadores gremistas e um do Náutico expulsos. Belatrami anotou dois pênaltis a favor do time pernambucano, que ainda assim conseguiu perder por 1 a 0.

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