Sargento Regina tem 11 policiais ‘por fora’ em seu gabinete

Deu na Folha.com:
A vereadora de Natal (RN) e candidata a deputada estadual Sargento Regina (PDT) tem 11 policiais trabalhando “por fora” em seu gabinete na Câmara. Por estarem na ativa da PM, todos são impedidos de serem contratados formalmente no Legislativo.
Regina, que é parlamentar em primeiro mandato, foi flagrada em uma série de vídeos –divulgada na internet– explicando o pagamento aos PMs. Para ela, a divulgação teve interesses políticos.
Segundo a vereadora, os 11 policiais trabalham no gabinete em horários de folga –eles dão assistência em plenário, visitam os bairros, entre outras tarefas.
Os policiais são pagos por meio de uma “vaquinha” feita com o salário dos outros funcionários. Ou seja: em vez de receberem seu salário integral, eles “doam”, por comum acordo, parte de sua remuneração aos policiais.
Ex-policial militar, expulsa da corporação em 2007 por ter contraído dívidas, Regina diz ter sido eleita numa “campanha difícil”, e por isso se sentiu na obrigação de retribuir o apoio dos colegas.
“Meus companheiros [policiais militares] tiraram do bolso. Eu tinha o compromisso de ajudar essas pessoas”, afirmou a vereadora à Folha.
Após a campanha, ela afirma ter empregado as mulheres dos policiais que a ajudaram. “Inclusive chamaram meu gabinete de ‘clube da Luluzinha’. Mas a gente colocou para poder contemplar o companheiro.”
Regina afirma não ver nada de errado na contratação desses policiais. “Eu não estou dando dinheiro [a eles] porque eles me deram [durante a campanha]. Eu estou contribuindo porque eles estão dentro do meu gabinete”, diz. “Não são funcionários fantasmas. Não são contratados porque não pode.”
Segundo o comando da PM do Estado, é proibido o policial trabalhar em seus horários de folga.
O PDT-RN pediu esclarecimentos à vereadora sobre o caso e ainda vai decidir se abre um processo disciplinar contra a candidata.

A vereadora, o escândalo e a alegoria do “faz-de-conta”

Num único ato, o pano veio ao chão, a coxia iluminada trouxe à cena a trama armada às escuras, os atores — sem a proteção das máscaras — se mostraram como em verdade são: artistas mambembes num espetáculo tosco.
No palco, uma personagem caricata protagoniza um enredo sem pudor. Flagrada, tenta a última cartada para escapar da execração pública: dissimula. Farsa, truque e tragédia se misturam nessa história de escândalo, vergonha e mentira.
O episódio em questão é o caso da vereadora sargento Mary Regina (PDT), que desde a última sexta-feira (03) anda às voltas com a divulgação de 18 vídeos no Youtube, nos quais revela, em pormenores, o modus operandi da pequena política natalense.
Na série de gravações, a parlamentar conta com desenvoltura segredos até então inconfessos: a negociação para reeleger o colega vereador Dickson Nasser (PSB) para a Presidência da Câmara de Natal (o passe ficou acertado em R$ 10 mil); o esquema envolvendo os cargos comissionados a serviço do gabinete dela (a vereadora admite que fica com parte dos salários dos funcionários); as razões para apoiar a reeleição do senador José Agripino (a pedetista se refere ao democrata como “péssimo governador”, jura que o destesta, mas esclarece que só está interessada “no dinheiro dele” e no espaço na TV Tropical); o plano para conquistar uma vaga na Assembleia Legislativa (Regina explica que precisa de R$ 700 mil para bancar a campanha e comprar lideranças no interior); e os ataques aos companheiros da oposição (afirma que o vereador Raniere Barbosa enriqueceu ilicitamente às custas da Semsur e acusa o vereador George Câmara de manter 30 cargos comissionados no Governo do Estado).
Um dia após o estouro da bomba, a vereadora divulgou um nota de esclarecimento em seu blog, em que se esforça, sem sucesso, para justificar o injustificável. Regina assume que a imagem e a voz nas gravações são dela, mas se diz vítima de uma armação.
Para desviar o foco do escândalo, argumenta que estava “desarmada numa reunião entre amigos”, resume o problema à divulgação dos vídeos e, evocando a máxima existencialista de que “o inferno são os outros”, lamenta que “algumas pessoas” tenham agido “sem pensar no mal” que estavam causando à categoria dos policiais militares.
Na mesma nota, a vereadora nega ter recebido dinheiro de Dickson Nasser, chama Raniere Barbosa de “amigo”, afirma invejar “sadiamente” George Câmara, derrete-se em elogios a José Agripino — a quem antes qualificara de “péssimo governador” — e revela que foi “orientada” a criticar o democrata para “acalmar alguns ‘companheiros’ que desejavam vantagens pessoais”.
As justificativas da vereadora, além de surreais, soam como escárnio contra nossa cansada inteligência. Apesar da clareza das imagens, Regina imagina ser possível nos convencer do seu plano infantil para juntar os cacos da sua imagem.
Os vídeos, os desmentidos e a desfaçatez, somados, produzem a alegoria perfeita para o “faz-de-conta” em que se transformou a disputa pelo poder na terra de Cascudo. No final, fica sempre aquela sensação de que já vimos esse filme antes.