Lula diz que não apoia eleição indireta nem se Jobim for candidato
Após sondar ex-ministro sobre possibilidade, ex-presidente reitera que o PT está em campanha por diretas
Vera Rosa e Ricardo Galhardo, enviado especial, O Estado de S.Paulo
02 Junho 2017 | 15h03
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, 2, que nem mesmo se o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim (PMDB) for candidato em uma eleição indireta ao Palácio do Planalto apoiará o nome dele. Em reunião com 28 delegações estrangeiras que participam do 6.º Congresso Nacional do PT como observadores, Lula afirmou que o partido está em campanha por eleições diretas para substituir o presidente Michel Temer. A portas fechadas, repetiu que não respaldará um processo no qual votem apenas deputados e senadores.
“Estão falando aí que, se o Jobim participar, eu não poderia ser contra, mas sou contra eleger qualquer candidato em eleição indireta, até mesmo ele”, disse Lula. “Prefiro perder dez eleições diretas a ganhar uma indireta.”
Nos últimos dias, porém, o ex-presidente pediu a um interlocutor que sondasse Jobim - ministro em seu governo e também no de Dilma Rousseff -, com o objetivo de verificar se ele tinha interesse em se candidatar em eventual Colégio Eleitoral, caso Temer seja deposto. O Estado apurou que Lula recebeu resposta negativa.
Na reunião com os estrangeiros, Lula disse não entender o funcionamento dos mecanismos de colaboração entre a Justiça do Brasil e a dos EUA. “Como pode um empresário como o Joesley Batista fazer um acordo e ir morar nos EUA?”, protestou o ex-presidente. Na véspera, em discurso na abertura do congresso ao lado de Dilma, Lula havia chamado o dono da JBS de “canalha”.
Réu em cinco ações penais, três das quais no âmbito da Lava Jato, o petista não foi questionado sobre as acusações de corrupção das quais é alvo, mas abordou espontaneamente o assunto ao dizer que "a única coisa” que pode oferecer aos partidos amigos é sua inocência. Estavam presentes ali representantes de siglas da América Latina, Europa e África.
Lula repetiu que será candidato em 2018 e avisou que, se for impedido pela Justiça, pretende rodar o Brasil para criar uma frente de partidos de esquerda com o PT.
Indagado por um dos estrangeiros sobre qual seria o programa de governo para um eventual terceiro mandato, o ex-presidente defendeu sua administração. “Nas eleições, não vamos falar apenas em passado, mas é o passado que nos dará base para falar sobre o futuro”, afirmou ele.
CNBB. Na tentativa de obter apoio à campanha por "diretas já", Lula conversou na quinta-feira, 1, em Brasília, com a cúpula da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Foi uma visita de cortesia, mas muito produtiva”, disse o presidente eleito do PT de São Paulo, Luiz Marinho, que acompanhou Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho no encontro.
A entidade apoiou a greve geral de abril, emitiu nota criticando as reformas da lei trabalhista e da Previdência, mas tem mostrado resistência à “partidarização” do movimento por eleições diretas.
O 6.º Congresso Nacional do PT vai aprovar resolução política na qual manifesta “posição inegociável pelas Diretas Já e contra o golpe dentro do golpe”. Apesar de ter a intenção de voltar ao Planalto, Lula pediu aos participantes do encontro que não lancem o nome dele agora, sob o argumento de que deseja ampliar a adesão à campanha por eleições diretas e não quer constranger outros aliados de esquerda.
“Não haverá lançamento oficial, mas a plenária deixará claro que nosso candidato será Lula. A própria Dilma disse isso ontem (quinta, 1). Agora vamos para as ruas com a bandeira das 'diretas já', reforçando nossa relação com os movimentos sociais”, declarou o secretário-geral do PT, Romênio Pereira.
Embora o tema esteja na ordem do dia no debate do PT, Lula já admitiu em outras ocasiões, sob reserva, que a possibilidade de ocorrerem eleições diretas agora é remota. A bandeira serve, porém, para o PT calibrar o discurso de enfrentamento da crise e manter os militantes mobilizados contra Temer.
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