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quinta-feira, 20 de março de 2014

Corrupção nas cadeias

20/04/2010 | 03h31

Corrupção nas cadeias: rotina de espancamentos faz preso cumprir pena em batalhão da BM

Homem foi torturado com choques elétricos, socos e pontapés por agentes penitenciários


Carlos Etchichury e Juliana Bublitz

Sem dinheiro para pagar pensão alimentícia, o padeiro desempregado Claudio Roberto Severo Spencer, pai de quatro filhos, foi condenado pela Justiça a dois meses de prisão, mas ficou apenas cinco dias no Presídio Estadual de São Gabriel.

Torturado com choques elétricos, socos e pontapés por agentes penitenciários, Spencer, 40 anos, cumpriu o resto da pena num hospital e no Batalhão da Brigada Militar – ambiente capaz de garantir a sua integridade física.

Em crise de abstinência de álcool, Spencer importunava companheiros de cela na madrugada de 30 de novembro. Para mostrar como o padeiro deveria se comportar, agentes penitenciários aplicaram-lhe um corretivo. Retiraram-no da cela, algemaram-no com as mãos para trás e o espancaram, até desfalecer. O parlatório, local escolhido para o martírio, era conhecido como “salinha da tortura”. O suplício imposto ao padeiro ganhou visibilidade porque a vítima não era um bandido.

– Os demais presos estavam revoltados porque quem apanhou é um pobre infeliz, conhecido na cidade, que não é bandido como eles, entende? Na prisão, existe uma cultura entre os próprios detentos de que bandido pode apanhar. Por isso que a gente não fica sabendo de nada. E incrível, mas é assim que funciona – conta a promotora de São Gabriel Ivana Battaglin, que gravou o depoimento de Spencer quando ele ainda estava no hospital, recuperando-se da surra.

Funcionária de um dos mais tradicionais restaurantes da cidade, Marlene Severo Spencer, 42 anos, irmã do padeiro, desabafa:

– Se fizeram isso com o meu irmão, imagina o que fazem com os outros presos. Queremos justiça.

Será difícil saber, com precisão, como eram tratados apenados em São Gabriel. Uma ex-detenta de 27 anos, que cumpriu pena no Presídio Estadual (há um anexo para mulheres), revelou a Zero Hora o que presenciou.

– Uma vez, há uns três anos, agentes pegaram um preso, conhecido meu, que tinha tentado fugir, e quase quebraram de tanto bater. Eles usavam um alicate. Um agente puxava a língua do cara e outro batia com a parte de fora de uma colher na língua esticada – conta a ex-apenada, em entrevista concedida na sede da promotoria da cidade.

Ao todo, além dos dois supostos agressores, outros quatro servidores da Susepe foram denunciados pelo crime de tortura, incluindo o diretor da prisão e o agente Alexandre Silveira, um reincidente.

Em 1º de junho passado, Silveira envolveu-se num episódio semelhante, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), quando agentes supostamente espancaram um preso. Após as agressões, Silveira foi transferido para São Gabriel.
Contraponto
O que diz Lúcio de Constantino, advogado de Alexandre Silveira
“Estamos numa área extremamente delicada, que é o sistema penitenciário. O nosso sistema, no Rio Grande do Sul, é um dos piores do país. O Estado cobra comportamento ético, com razão, mas não dá estruturas necessárias. É complexo buscar um elemento culpado quando o sistema como um todo está putrefato e ninguém toma providência. Quando vem uma denúncia de tortura praticada por agentes temos de buscar, primeiro, os responsáveis pela tortura do sistema como um todo”.

Comentar esta matériaCOMENTÁRIOS (1)

Liliza
Sou Agente Penitenciaria,estou me sentindo ofendida moralmente com essas materias da zero hora,fica parecendo que somos todos corruptos e torturadores.Agora somos nos os bandidos???Nao queremos corruptos em nosso meio,"temos que separar o joio do trigo".A maioria dos Agentes Penitenciarios sao trabalhadores honestos e guerreiros.Vcs deveriam fazer uma materia de 20 paginas sobre nossas condiçoes de trabalho e efetivo funcional,que e uma piada!!!!!!!!!!!!!
20/04/2010 | 12h22 Denunciar

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