Caso PC: júri reconhece duplo homicídio, mas absolve policiais militares
Por Redação/Cada Minuto
Após cinco dias, chegou ao fim, na noite desta sexta-feira (10), o julgamento do Caso PC Farias. Os militares Adeildo Costa, José Geraldo da Silva, Reinaldo Correia e Josemar Faustino foram absolvidos, por maioria de votos, pelas mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino. A decisão do conselho de sentença foi lida depois de uma reunião de duas horas dos jurados. “Esse júri foi de muita relevância para o estado de Alagoas e para a nação”, disse o juiz Maurício Breda no final do julgamento.
Ao ser anunciada a absolvição dos réus, os familiares, que fizeram uma corrente de oração momentos antes, comemoraram a decisão.
Durante a leitura da sentença, o magistrado relatou que os jurados decidiram pela anulação da tese de suicídio, apresentada pelas primeiras investigações e que ficou comprovado um crime de duplo homicídio ocorrido no dia 23 de junho de 1996, na casa de praia do empresário PC Farias.
Mesmo com a decisão, o Tribunal do Júri reconheceu que Adeildo e José Geraldo tinham o dever de garantir a segurança de PC. O Ministério Público terá o prazo de cinco dias para recorrer da sentença. Porém, o promotor Marcos Mousinho, não afirmou se irá recorrer, mas garantiu que as argumentações da acusação foram fundamentais para os jurados considerar o segundo laudo produzido, que apontava para o duplo homicídio.
Também muito emocionado, o advogado de defesa, José Fragoso afirmou que ele conseguiu prevalecer à verdade e “reparar o dano que a mídia causou”.
“É um alívio muito grande, mas nunca perdi a esperança. Meus amigos e minha família sempre acreditaram em mim e sempre tive a minha consciência tranquila de que nada tinha feito”, desabafou o militar Reinaldo Correia.
Contra Augusto Farias
Com os depoimentos dos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, o juiz Mauricio Breda determinou que fosse oferecida uma denúncia contra o ex-deputado Augusto Farias pelo crime corrupção ativa. Além disto, determinou que toda a gravação do júri fosse entregue ao Ministério Público para que os promotores fizessem uma “apreciação pelo crime em desfavor de Augusto Farias”.
Confira os melhores momentos do julgamento:
1º DIA DO JULGAMENTO:
O júri teve início na segunda-feira (06) com a escolha dos sete jurados para compor o Conselho de Sentença do júri popular. Foram escolhidos cinco homens e duas mulheres que durante os cinco dias do julgamento prestaram atenção a todos os depoimentos de testemunhas arroladas pela defesa dos réus e pela promotoria.
Queima do colchão
O primeiro a ser ouvido pelo juiz Maurício Brêda foi o jardineiro Leonino Tenório de Carvalho que, em depoimento, confirmou que trabalhava para a família há quase 20 anos. Ele afirmou que no dia do crime apenas ele, a esposa e os seguranças José Geraldo da Silva e Adeildo Costa dos Santos estavam no local, e que trabalhava de 7h às 17h. Leonino disse não recordar de detalhes no dia do crime.
O jardineiro afirmou desconhecer qualquer discussão entre PC Farias e Suzana Marcolino e ressaltou que mantinha contato apenas de trabalho com as vítimas. Leonino, o garçom e os seguranças foram as pessoas que arrombaram a janela do quarto e encontraram PC e a namorada mortos em cima da cama.
Leonino confirmou que chegaram a mexer no corpo de PC Farias e ao perceber que estava frio, um dos seguranças disse que “doutor Paulo César está morto”. No entanto, ele negou que tenham mexido no corpo de Suzana Marcolino.
Em depoimento, Leonino Carvalho afirmou que queimou o colchão do casal porque o local estava exalando odoro. No primeiro momento, Leonino afirmou que foi sua a ideia de pôr fogo no colchão e no travesseiro. Após ser questionado por juiz Maurício Breda, Leonino disse que foi a mando de Flávio (outro funcionário). Com a queima do colchão do casal, a reconstituição do crime foi feita com o colchão dos filhos de Paulo César Farias, que Leonino afirma ser menor que o colchão do casal.
Não viu discussões
Quem também prestou depoimento foi o garçom Genival da Silva França que durante três horas respondeu perguntas do magistrado. Foi ele quem serviu o jantar a PC Farias, o irmão Augusto Farias com a namorada Milane Valente e Suzana Marcolino.
Genival confirmou que na noite do dia 22 de junho, antes de PC e Suzana terem sido encontrados mortos, não presenciou nenhuma briga entre o casal. Ele, que hoje trabalha como vigilante, no entanto, afirmou que, em outras situações, se deparou com discussões entre os dois.
Ele contou que serviu o jantar por volta de 23 horas e que, cerca de uma hora e 30 minutos depois, o jantar havia acabado. Genival disse ao juiz que dormiu entre 02 horas e 02h30 e viu que Paulo César Farias estava acordado escutando música. Ele também afirmou que não escutou os disparos de arma de fogo.
2º DIA DO JULGAMENTO:
Entre as testemunhas arroladas para serem ouvidas no segundo dia do julgamento estavam o irmão de PC Farias, Augusto Farias, a ex-namorada dele, Milane Valente e a suposta amante do empresário assassinado, Cláudia Dantas. A última a ser ouvida pelo magistrado foi Ingrid Farias, filha de PC.
PC e Augusto: relação de cumplicidade
Milane Valente disse em júri que nos momentos em que esteve com Augusto na casa de PC para um jantar na noite do crime, Suzana chegou depois de todo mundo e que não se recordava de ter visto discussão entre o casal. Ela ainda afirmou que a relação de Augusto com Paulo César Farias era de cumplicidade. Milane Valente acrescentou que Augusto Farias considerava o irmão uma referência, apesar dos relatos de que o ex-deputado teria interesse na herança deixada pelo irmão assassinado.
A depoente relatou que a relação de PC com a namorada não era bem vista pela família e que o irmão de PC achava que Marcolino queria se beneficiar de alguma forma namorando com o empresário. “Augusto não tinha admiração por Suzana, apenas a tratava bem”, afirmou.
Suzana traía PC
Já Augusto Farias, durante o seu depoimento, disse que o irmão sabia que era traído por Suzana e que por este motivo, contratou detetives para investigar a namorada. Em vários momentos, ele disse que os militares julgados são inocentes e negou que tivesse alguma inimizade com Suzana Marcolino. Ele disse que a família não via com bons olhos o relacionamento, mas que ninguém nunca orientou Paulo César a terminar o relacionamento. O ex-parlamentar disse que sempre atribuíram a ele fatos que nem sempre considera serem verídicos.
Interrogado pelo juiz Maurício Brêda, Márcio Fernando Lessa, ex-assessor de Augusto Farias, afirmou que comentários da época afirmavam que Suzana Marcolino era garota de programa e teria sido apresentada ao Paulo César Farias por uma cafetina. Sobre as causas da morte de PC Farias e Suzana Marcolino, o ex-assessor disse que chegou a imaginar que o PC teria sido envenenado.
Compra da arma
Dona de uma churrascaria à época das mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, Mônica Calheiros vendeu à namorada de PC o revólver usada no crime. Ela contou que viu Suzana umas duas vezes em seu estabelecimento comercial, na cidade de Atalaia. Ela disse que uma prima de Suzana, Zélia Maciel, frequentava a churrascaria e um dia a telefonou perguntando se ela conhecia alguém que vendia armas.
Tentativas de suicídio
Josinaldo de França, o ex-garçom que trabalhou durante 10 meses, confirmou as versões de outras testemunhas de que após uma discussão, Suzana teria se jogado no mar da praia de Guaxuma e tentado suicídio. Porém, ao ser indagado pelo advogado de defesa, José Fragoso, se ele tinha conhecimento que Suzana tentou em outra vez se jogar de um veículo em movimento, o ex-funcionário de PC, confirmou que sim.
Jantar com Cláudia Dantas
A cozinheira Irene Maria França, que trabalhou para Paulo César Farias por nove anos também prestou depoimento à tarde. Ela ressaltou que o relacionamento entre os irmãos era bom e que a ex-esposa de PC, Elma Farias, nunca revelou ter alguma animosidade com o ex-cunhado, Augusto Farias. Após a prisão de PC “os irmãos frequentavam a casa”, disse Irene Maria.
Ao se referir a Cláudia Dantas, a cozinheira afirmou que chegou a preparar dois jantares para ela. Quanto às brigas do casal, Irene disse nunca ter presenciado nenhum desentendimento entre PC e Suzana. Sobre a inglesa Zara, com quem PC teria provavelmente algum relacionamento amoroso, era apenas uma amiga
Suposta amante
A empresária Cláudia Dantas revelou detalhes dos encontros que teve com Paulo César Farias e garantiu que nunca viu Suzana Marcolino, acrescentando que seu último contato com PC foi na noite anterior ao crime. Cláudia afirmou também que teve três encontros com Paulo César Farias e esteve na casa de praia de Guaxuma do ex-tesoureiro de Fernando Collor. A empresária disse que na primeira ocasião que jantou com PC ele contou do namoro com Suzana e da segunda vez, ele afirmou que acabaria o relacionamento.
Cláudia disse, ao ser indagada, por Maurício Brêda que nunca recebeu ameaças após o crime. Ela contou ainda que quando foi intimada a depor, recebeu um telefonema de parentes de Paulo César que a indicaram um advogado para acompanhá-la na oitiva.
Somente ‘mais uma namorada’
A filha de Paulo César Farias, Ingrid Pereira Farias, revelou que conheceu Suzana no mês de abril de 1996, um mês antes de ela ter sido encontrada morta ao lado de PC. Sobre o relacionamento do pai com Suzana, Ingrid disse que Paulo César não comentava sua vida amorosa. Mas, ela afirmou que quando chegou a Maceió, dois dias antes do crime, PC confidenciou que queria terminar o namoro por conta do ciúme excessivo de Suzana.
3º DIA DO JULGAMENTO:
Entrando no terceiro dia do julgamento sobre as mortes de PC Farias e Suzana Marcolino, o juiz Maurício Brêda ouviu os depoimentos da irmã da vítima, Anna Luiza Marcolino, e também de Eônia Pereira, ex-cunhada do empresário assassinado em 1996, assim como a prima de Suzana, Zélia Maciel, quem intermediou a compra da arma. O médico-legista Badan Palhares e outros membros da equipe de perícia também prestaram esclarecimentos sobre o laudo que apontou para homicídio seguido de suicídio.
Os delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrades, responsáveis pela investigação na época do crime, também prestaram depoimento no Tribunal do Júri. Eles foram convocados por Brêda após serem denunciados por Augusto Farias por uma suposta tentativa de suborno para que o irmão da vítima incriminasse os seguranças
Arma e treinos
Ao juiz Maurício Brêda, a prima de Suzana, Zélia Maciel afirmou que foi ela quem fez o contato com Mônica, a dona da churrascaria, para comprar a arma para Suzana. Ela contou também que a prima chegou a fazer alguns treinos de tiro na casa de um amigo. Marcolino disse à Zélia que precisava de um revólver para sua segurança, já que morava em um local pouco habitado e por conta da hora que chegava em casa, queria ter uma defesa.
Zélia contou também que não sabia do relacionamento da prima com Paulo César Farias. Apesar de afirmar ser a pessoa que Suzana mais tinha proximidade, ela contou ao juiz que só tomou conhecimento do namoro um mês antes do crime e que conheceu PC durante um almoço.
Inveja de Augusto Farias
A ex-cunhada de PC Farias, Eônia Bezerra, confirmou que também não mantém uma relação amigável com Augusto por ele ter interesse de expulsar ela e os sobrinhos da mansão afirmando que ele iria ocupar o imóvel. Segundo Eônia, todos os irmãos Farias possuíam um certo interesse no dinheiro de PC, destacando o comportamento de Augusto, ao afirmar que ele tinha obsessão por tudo que Paulo Cesar tinha.
Ela também destacou que era Paulo César quem custeava boa parte dos gastos de todos os irmãos. Ela disse que por várias vezes chegou a presenciar PC pagando o aluguel da casa que o ex-deputado morava na época.
Após a morte de Suzana e PC, Eônia disse que a família Farias, e em especial Augusto, não tiveram interesse de considerar outras hipóteses para o crime. Ela contou também que o segurança Reinaldo começou a ter privilégios entre a família.
Suzana e Augusto: péssimo relacionamento
Anna Luíza Marcolino, irmã de Suzana, afirmou que a vítima não mantinha um bom relacionamento com Augusto Farias. Anna Luíz disse que até hoje não sabe o que aconteceu com o celular de Suzana após o crime.
Ela descartou brigas entre o casal e destacou que chegou a ser orientada por Gabriel Mousinho, primo de Augusto, para ser comedida em suas palavras durante uma entrevista que ela daria a um programa de TV. Anna Luíza disse também que soube da morte da irmã pela imprensa e que achou estranho quando foram entregues os pertences de Suzana à família e o celular dela não estar com os demais objetos.
4º DIA DO JULGAMENTO:
Peritos
Domingos Torquetto
O depoimento do perito gaúcho Domingos Torchetto, defendeu a tese de duplo homicídio e não homicídio seguido de suicídio, contestando o laudo elaborado por Badan Palhares e sua equipe.
Ao falar sobre a tese de duplo assassinato, Domingos Torchetto apresentou aos jurados detalhes de seu trabalho em Alagoas durante as investigações do caso. O perito disse que a missão de sua equipe foi analisar a arma e se havia resíduos metálicos de pólvora nas mãos de Suzana e PC Farias.
O médico afirmou que seu laudo comprovou que a primeira perícia foi falha por constatar erroneamente vestígios de pólvora nas mãos de Suzana Marcolino. Nas mãos da vítima, foram encontrados alumínio, enxofre, cloro e potássio, e nenhuma dessas substâncias estava contida na pólvora da arma.
Daniel Muñoz
O segundo médico legista a prestar esclarecimentos sobre o laudo emitido pela equipe da Unicamp foi Daniel Munõz. A versão apresentada pelo perito reforça a tese apresentada por Domingos Torchetto, de que Suzana não se suicidou e depois matou PC. Ele defendeu que Suzana possivelmente teria tentado se defender do tiro por apresentar vestígios de resíduos nas mãos.
Ele reforçou afirmando que não havia possibilidade de Suzana ter atirado contra o próprio corpo. Para ele, a maior concentração de resíduo na palma da mão comprova que ela estaria com as mãos próximas da arma numa posição de defesa, reforçando duplo homicídio. “Se fosse tiro suicida, ela teria encostado a arma em uma região letal. O orifício jamais ficaria desta forma se ela tivesse encostado o revolver no corpo”, explicou.
José Lopes Silva
O médico legista, José Lopes Silva, que estava de plantão no dia 23 de junho de 1996, quando aconteceu o assassinato de Paulo César Farias e sua namorada Suzana Marcolino. Como estava de plantão no Instituto Médico Legal (IML) o médico recebeu os corpos de PC e Suzana realizando necropsia nos dois. “No corpo de Suzana foi encontrado um orifício de entrada e saída de projétil e no corpo de PC apenas um orifício de entrada”, afirmou o legista.
O médico legista foi enfático ao concluir que o caso se trata de homicídio seguido de suicídio.
Gerson Odilon Pereira
Outro perito ouvido foi Gerson Odilon Pereira, médico legista convocado para participar da perícia junto aos profissionais de Alagoas e dias depois junto à equipe de Campinas. O profissional lembrou que em reunião ficou decidido ir fazer uma visita ao local do crime junto à equipe de legistas vinda de Campinas.
Na época solicitamos um aparelho de raio X no IML para fazer o exame, momento esse único, uma vez que até hoje esse equipamento é inexistente no Instituto, falou Pereira.
Quanto à falta de projeção de sangue na arma o médico destacou a pressão negativa da caixa torácica e que o sangramento não acontece de forma imediata. Isso leva alguns segundos onde o orifício de saída projeta maior volume de sangue do que o de entrada, destacando que quando um projétil entra o diâmetro e menor do que quando sai”, afirmou o médico.
Depoimento dos réus
Os quatro militares Reinaldo Correia, Josimar Faustino Santos, Adeildo Costa dos Santos e José Geraldo da Silva negaram ter participação no crime. O primeiro a prestar depoimento foi Adeildo. Ele afirmou que trabalhou durante diversos anos para a família Farias, como segurança, mas que “após a morte de PC o militar não se recordava quanto tempo mais trabalhou para a família e que depois disso não manteve contato com eles. O militar afirmou desconhecer os motivos que teriam gerado a denúncia contra ele.
O segundo réu a prestar depoimento foi José Geraldo da Silva. O ex-segurança de Paulo César Farias contou que chegou a ser preso pela morte do patrão e de Suzana Marcolino. Perguntado pelo juiz Maurício Brêda se ele sabia o que aconteceu no quarto onde os corpos de PC e Suzana, José Geraldo disse não ter dúvidas de que ocorreu um assassinato seguido de suicídio.
Josimar Faustino dos Santos foi o terceiro réu ouvido pelo juiz Maurício Breda e negou sua participação nas mortes de PC Farias e Suzana Marcolino. Faustino, também conhecido como Dudu, disse que não trabalhava como segurança de PC e sim dos seus filhos, mas que no dia em que os corpos foram encontrados havia trocado de serviço com outro segurança.
O policial militar Reinaldo Correia (foto abaixo) foi o último acusado a prestar depoimento. Reinaldo contou ao juiz Maurício Brêda os detalhes do que aconteceu no dia 23 de junho, desde às 08h30, quando chegou à casa de Guaxuma, até o momento em que se deparou com o patrão e a namorada dele mortos.
Fotos: júri da morte de PC Farias - fotos em Alagoas - g1
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06/05/2013 13h27 - Atualizado em 10/05/2013 22h05
Fotos: júri da morte de PC Farias
Policiais acusados na morte do tesoureiro de Collor vão a júri popular em Maceió,
quase 17 anos após o crime.
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