247 – A violenta repressão da Polícia Militar do Estado de São Paulo na região central da capital, na noite da quinta-feira 13, só encontra paralelo, como episódio histórico, na invasão da Pontifícia Universidade Católica, em 1977, pelas tropas do então secretário de Segurança Erasmo Dias da Silva, o Erasmão. Sob o comando dele, nada menos que 1,1 mil estudantes foram presos, impedidos assim, naquela ocasião, de refundar a União Nacional dos Estudantes.
Agora, houve 200 prisões, mas a violência foi muito maior. Disparando tiros de borracha na direção do rosto das pessoas – a repórter Giuliana Vallone, da Folha de S. Paulo, teve o olho atingido de forma proposital e, portanto, criminosa, enquanto desempenhava suas funções devidamente credenciada --, prendendo transeuntes que nada tinha a ver com o protesto, distribuindo cacetadas e soltando bombas de gás lacrimogênio, a Polícia Militar, mostram os resultados, foi desmedida na ação de acompanhamento e monitoramento ao protesto.
Pesquisa do instituto Datafolha, publicada hoje, mostra que 78% do público paulistano considera normais e democráticos protestos populares em torno de questões como o preço das passagens de ônibus. A PM, ficou claro, pensa diferente. Com sua estrutura que reproduz as patentes do Exército, a corporação ainda opera do mesmo modo que nos tempos do regime militar.
Seu papel orientador se reduz a zero nos momentos mais complexos para sobressair a face repressora desmedida, com o uso de armas, cachorros e equipamentos não em defesa da população, mas contra ela. Foi o que se viu ontem, quando todo o aparato policial foi despejado sobre uma passeata que se encaminhava pacífica, como mostraram ao vivo as emissoras de tevê, até que provocações de parte a parte degringolassem em cenas de barbárie.
Apesar de ter escrito em seu twitter, no dia 30 de maio deste ano, que "o respeito aos direitos humanos e civis é uma marca de São Paulo, um compromisso do Estado", o governador Geraldo Alckmin, na prática, mostrou que não sabe conviver com massas discordantes. A PM não "baixa o cacete", como se diz, sem que haja garantias superiores de que a ação deva se desenvolver na base da linha dura. Disciplinada, as tropas reagem a ordens, e ontem, como nos velhos tempos do coronel Erasmão, descer a borracha, dar tiros e espalhar o gás estava liberado.
A frase de Alckmin perdeu todo o sentido, quando a Polícia Militar sob suas ordens contribuiu para transformar o que ia sendo uma manifestação legítima num ato criminalizado. O tucano Alckmin pode não saber, mas manifestações de massa ocorrem em todas as grandes cidades do mundo, pelos mais variados motivos, e não necessariamente terminam em sangue. Foi tranquila, por exemplo, esta semana, a manifestação popular em
Istambul, na Praça
Taksim, contra a instalação de um projeto urbanístico. As autoridades, para evitar confronto, mandaram a forças policiais se retirarem. Antes, em manifestações anteriores, a violência dominara a cena.
Para administrar situações de potencial conflito criam-se protocolos de comportamento, que devem ser seguidos tanto pelos que protestam como pelas forças do Estado. Ao agir pela regras do passado ditatorial do Brasil, a PM mostrou seu verdadeiro caráter.
Para dar uma resposta à altura da barbárie cometida, Alckmin só tem um sinal a dar a tropa, no sentido de que não se pode agir dessa maneira outra vez: exonerar, de pronto, o comandante da PM. Se o coronel Benedito Roberto Meira tem o comando sobre a tropa, a orientação é errada – e por isso ele deve cair. Se a tropa agiu à revelia de suas ordens, pelo motivo contrário deve perder o posto.
Abaixo, dois exemplos da violência praticada pela PM em São Paulo nesta quinta-feira. O primeiro vídeo mostra policiais atacando a imprensa:
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