FORÇAS ARMADAS
Tenente-coronel diz que desconhecia conteúdo de malas embarcadas em avião
Oficial suspeito de tráfico depõe a CPI
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Em depoimento de quatro horas na CPI do Narcotráfico, o tenente-coronel da Aeronáutica Paulo Sérgio Pereira de Oliveira afirmou que é possível que aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) estejam sendo usados para transportar drogas do Brasil para a Europa.
Até agora, Oliveira é o único militar preso após a descoberta em 19 de abril de 32,9 kg de cocaína em avião da FAB que saíra do Rio de Janeiro com destino à França, onde iria buscar peças de um caça Mirage que haviam sido reformadas.
A droga estava em duas malas que Oliveira havia entregue à tripulação na Base Aérea do Galeão e foi descoberta quando o avião fez escala em Recife. O destino das malas com cocaína eram as Ilhas Canárias (Espanha), onde o avião faria escala para reabastecer antes de seguir para a França.
Oliveira afirmou que a tripulação do Hércules C-130 desconhecia o conteúdo das malas e que é prática comum pilotos da FAB transportarem malas e pacotes de colegas sem saber o que está dentro.
"Fazem por amizade, por delicadeza, desde que a coisa não seja grande", disse.
Hoje, a CPI ouve o ministro Walter Bräuer (Aeronáutica) para saber quais medidas estão sendo tomadas para evitar que episódios como esse voltem a ocorrer.
Cachaça
O tenente-coronel negou que soubesse que as malas carregavam cocaína. "Achei que tinham cachaça, feijão, café, essas coisas." A droga seria recebida em Las Palmas (Ilhas Canárias) pelo irmão de Oliveira, Luiz César, e uma pessoa chamada Roberto Zau. Ambos estão foragidos.
Segundo Oliveira, ele entregou as malas à tripulação para fazer um favor a um amigo, o tenente-coronel da reserva da Aeronáutica Washington Vieira da Silva, que também está foragido e é suspeito de participar de uma quadrilha internacional de narcotráfico.
"Desde janeiro, o Washington vinha me pedindo para que mandasse umas malas para um amigo dele em Las Palmas (Ilhas Canárias), o Roberto (Zau). Ele sabia que eu havia mandado encomendas para meu irmão duas vezes e insistiu para que fizesse o mesmo para Roberto."
Segundo Oliveira, Luiz César se divide entre Niterói (RJ), onde trabalha em uma casa noturna, e em Las Palmas. Na Espanha, conheceu e ficou amigo de Roberto Zau.
Em 14 de abril -cinco dias antes de a droga ser embarcada no avião da FAB- os dois saíram do Rio de Janeiro em vôo comercial com destino à Portugal, de onde seguiram para Las Palmas.
Texto Anterior: Palestra na Folha traz Celso Furtado
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Folha de S.Paulo - Oficial suspeito de tráfico depõe a CPI - 06/05/1999
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