Oficial da Marinha pode estar envolvido no sumiço de 17 crianças no Rio
Há quase 10 anos, a Polícia Civil tenta desvendar o que pode ser um dos crimes mais misteriosos do Rio de Janeiro: o desaparecimento de 17 crianças, sendo 16 meninas e um menino. Segundo as investigações, o oficial de máquinas da Marinha Mercante, Fernando Marinho de Melo, de 57 anos, pode estar por trás de todos os sumiços. Ele foi apresentado na tarde desta terça-feira (14), após se entregar à polícia na segunda (13).
Dessas 17 crianças, a polícia conseguiu confirmar que Fernando é responsável por oito desaparecimentos: Michele Santana de Araújo, 9 anos; Thaís Lima Barros, 9 anos; Caroline Menezes Cardoso, 8 anos; Larissa Gonçalves Santos, 11 anos; Andréia Ferreira da Mota e Flávio Lucas da Silva Pereira Venceslau, que não tiveram as idades reveladas; Karolayne Rodrigues de Oliveira Caldas, 11 anos; e Samanta Costa de Carvalho, de 14 anos. No entanto, os agentes envolvidos nas investigações ainda não conseguiram provar a participação do oficial nos outros sumiços.
A Polícia Civil anunciou hoje que vai solicitar ao Instituto Médico Legal (IML) a identificação de todos os corpos de crianças desaparecidas entre 2002 e 2009 e confrontar as ossadas para saber se Fernando é responsável pelas mortes. As linhas de investigações do caso são assassinato, tráfico de pessoas e exploração sexual.
Segundo a Polícia Civil, uma mulher está sendo identificada como cúmplice dele e pode ser presa a qualquer momento. Esta seria a pessoa que facilitaria os crimes cometidos por Fernando. Há informações não confirmadas de que o oficial pode ter dopado as crianças e as colocado dentro de navios.
De acordo com a polícia, o primeiro caso de desaparecimento ocorreu em 2002, e o último, no ano de 2009. Fernando teria preferência por crianças com idades entre 8 e 13 anos. Ele agiu principalmente nas zonas norte e oeste, São Gonçalo e até em Angra dos Reis, na Costa Verde.
O acusado chegou a ser condenado por apenas um crime, o de Larissa Gonçalves dos Santos, que na época tinha 11 anos e morava na Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na zona norte. Segundo os agentes, em 2008, o homem entrou na casa da criança, que estava sozinha com os irmãos, e fingiu ser um técnico de manutenção de televisão. Ele pegou a criança e a colocou dentro de um táxi, com destino à Uruguaiana, no Centro do Rio. A partir daí, a polícia não sabe o que ele fez com a menina.
Por este crime, em 2013, Fernando foi condenado a quatro anos de prisão por furto qualificado, sequestro e cárcere privado. Porém, a defesa do acusado recorreu ao Ministério Público e o processo foi encaminhado à segunda instância. Em dezembro de 2013, o MP deu o caso como transitado em julgado (quando não é permitido mais entrar com recursos) e aumentou a pena de Fernando para sete anos. No entanto, ele cumpriu somente medidas socioeducativas e nunca chegou a ficar preso. Após a condenação, o MP criticou a polícia por considerar que a corporação não poderia ter demorado tanto na elucidação do crime.
As outras crianças que também podem ter sido levadas por Fernando são Ingrid Vanessa Cunha Pitanga, de 10 anos; Luana Carolina de Almeida, de 10 anos; Roseanna Aparecida Alves, de 11 anos; Amanda do Nascimento Gonçalo, de 9 anos; Yasmin Pereira da Rosa, de 10 anos; Jéssica da Costa Faria, de 11 anos; Dyanna Soares da Conceição; e Larissa Andrade de Souza, de 9 anos.
Em entrevista, o suspeito negou participação nos crimes e afirmou que tem provas de sua inocência. Ele classificou as acusações como “grande covardia” e citou ainda que há um “crime político”, já que a deputada federal Andreia Zito decidiu criar, em âmbito nacional, a CPI das Crianças Desaparecidas, a partir do caso registrado no Rio de Janeiro. Ele disse também que nunca viu Larissa e que, como “pai de família” e homem que serve ao país há 32 anos, não poderia ter praticado os crimes. “Quem fez isso é um monstro”, afirmou Fernando.
Já a família do oficial de máquinas alegou que, no dia do desaparecimento de Larissa, ele estava trabalhando embarcado na Marinha. Porém, segundo os policiais, as versões dadas pelos familiares do oficial são contraditórias. Ora, eles dizem que Fernando estaria embarcado na época de um determinado desaparecimento, ora afirmam que ele estava em Cabo Frio, na Região dos Lagos, na casa de parentes.
A chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, mandou dar atenção especial ao caso dos desaparecimentos envolvendo o oficial. Todas as famílias e as partes envolvidas no caso já foram ouvidas. No entanto, as investigações vão continuar. Segundo determinação de Martha Rocha, os delegados designados para o caso são Patricia Aguiar (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – DPCA); Marcello Braga Nunes (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima – DCAV); e Ellen Souto e Gilbert Stivanello (Divisão de Homicídios).
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