Mulher lembra momentos de terror vividos com o Coronel Bilhante Ustra, homenageado por Bolsonaro. Amelinha Teles foi parar na ‘cadeira do dragão’. Nua, vomitada, urinada, Ustra ainda levou os filhos da vítima, de 4 e 5 anos, para assistir a mãe sendo torturada
Em seu voto a favor do impeachment no último
domingo, Jair Bolsonaro homenageou o Coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra, responsável por torturar centenas de mulheres na época da
ditadura. O torturador chegava a introduzir insetos e roedores nas
genitálias das vítimas
“Eu
fui espancada por ele [Coronel Ustra] ainda no pátio do Doi-Codi. Ele
me deu um safanão com as costas da mão, me jogando no chão, e gritando
‘sua terrorista’. E gritou de uma forma a chamar todos os demais
agentes, também torturadores, a me agarrarem e me arrastarem para uma
sala de tortura”.
Uma das milhares de vítimas da ditadura militar,
Amelinha Teles, descreveu assim seu encontro com Carlos Alberto
Brilhante Ustra, conhecido como “Coronel Ustra”, o primeiro militar
reconhecido pela Justiça como torturador na ditadura.
Ao programa Viva Maria, da Rádio Nacional da
Amazônia, Amelinha contou como era o homem admirado por Jair Bolsonaro
(PSC-RJ) e citado pelo parlamentar durante seu voto a favor do
impeachment de Dilma Rousseff, neste domingo (17), no plenário da Câmara
dos Deputados.
“Ele levar meus filhos para uma sala, onde eu me
encontrava na cadeira do dragão [instrumento de tortura utilizado na
ditadura militar parecido com uma cadeira em que a pessoa era colocada
sentada e tinha os pulsos amarrados e sofria choques em diversas com
fios elétricos atados em diversas partes do corpo] , nua, vomitada,
urinada, e ele leva meus filhos para dentro da sala? O que é isto? Para
mim, foi a pior tortura que eu passei. Meus filhos tinham 5 e 4 anos.
Foi a pior tortura que eu passei”, disse a ex-militante do PcdoB.
O militar lembrado pelo parlamentar foi
chefe-comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São
Paulo no período de 1970 a 1974. Em maio de 2013, ele compareceu à
sessão da Comissão Nacional da Verdade. Apesar do habeas corpus que lhe
permitia ficar em silêncio, Ustra respondeu a algumas perguntas. Na
oportunidade, negou que tivesse cometido qualquer crime durante seu
período no comando do Destacamento de Operações Internas paulista.
Em abril de 2015, a ministra do Supremo Tribunal
Federal (STF), Rosa Weber, suspendeu uma das ações penais contra Ustra
que tramitava na Justiça Federal em São Paulo. Atendendo a pedido feito
pela defesa do militar, a ministra disse, na decisão, que suspendeu a
ação pois era necessário aguardar o julgamento da Lei de Anistia pela
própria Corte. O militar morreu em 15 de outubro de 2015 no Hospital
Santa Helena, em Brasília. Ele tratava de um câncer.
Hoje, Amelinha integra a Comissão de Familiares de
Mortos e Desaparecidos Políticos e é assessora da Comissão da Verdade do
Estado de São Paulo Rubens Paiva. Para ela, a homenagem de Bolsonaro a
um de seus torturadores pode ser o resgate de uma das páginas mais
tristes da história do Brasil.
“O que significa essa declaração do deputado é que
ele quer que o Estado brasileiro continue a torturar e exterminar
pessoas que pensem diferente dele. Que democracia é essa que quer a
tortura, a repressão às pessoas que não concordam com suas ideias?”.
Marcelo Brandão, Agência Brasil
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/04/mulher-conta-o-que-viveu-nas-maos-do-cel-ustra-homenageado-por-bolsonaro.html
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