Publicado: 27, julho 2016 às 9:11
Foto: Reprodução / Facebook
A bombeira Lilian Vilas Boas, de Curitiba, foi punida com oito dias de prisão por ter feito um ensaio fotográfico com parte dos seios à mostra.
A determinação dos superiores — ainda não cumprida porque Lilian recorre na Justiça Militar — foi dada porque ela teria violado regulamentos do Exército e da Polícia Militar (PM) do Paraná.
As imagens foram feitas em abril para o Projeto Velvet, que, segundo o idealizador, busca a valorização feminina. “A ideia é fortalecer a beleza natural da mulher e a liberdade de poder se mostrar”, diz o fotógrafo Arnaldo Belotto.
Poucos dias após o ensaio ser publicado, as fotos circularam pelo WhatsApp e chegaram a um grupo de agentes de segurança dos Jogos Olímpicos do Rio. Lá o material foi visto por policiais que levaram o caso à corporação. Belotto diz ter sido chamado duas vezes a depor. “Questionaram como tinha acontecido, se ela tinha pago, se sabia que as fotos iam pro ar. Acabamos expondo inclusive essa hipocrisia na questão dos mamilos: bombeiros homens tiram fotos sem camisa e não são punidos”, diz Belotto.
O fotógrafo conta que outra participante, da Polícia Civil do Paraná, também fez um ensaio para o site, e pediu a retirada das fotos dias depois com medo da repercussão.
A nota de punição da bombeira, que tem 32 anos de idade e quase três na corporação, foi assinada pela tenente Gisele Machado. De acordo com a comandante do subgrupamento onde a soldado está lotada, Lilian infringiu artigos do Regulamento de Ética da Polícia Militar, o Regime Disciplinar do Exército e o Código da PM. Segundo a punição, ela transgrediu incisos do regulamento da PM que falam em “nunca denegrir ou desgastar sua imagem”, “proceder sempre de maneira ilibada na vida pública e particular” e “evitar publicidade visando a própria promoção pessoal”.
Segundo a tenente Gisele Machado, embora as imagens não façam qualquer alusão à Corporação, a militar teria cometido uma transgressão considerada média. “No nosso regulamento, vai de transgressão leve a grave, chegando a exclusão”, diz.
Procurados, a PM e o Corpo de Bombeiros informaram que “farão a reavaliação [do caso] sob todas as óticas”, caso o recurso de Lilian chegue ao comando, que não pode “emitir juízo de valor prévio” antes disso. A prisão foi ordenada pelo 7° Grupamento de Bombeiros, que abrange 30 bairros da região norte de Curitiba e 13 municípios da região metropolitana.
A soldado Lilian não tem concedido entrevistas. Já a União dos Praças do Corpo de Bombeiros se manifestou a favor da militar, dizendo que houve equívoco porque todo servidor dos bombeiros, mesmo militar, tem o direito constitucional de se manifestar e que não houve exposição da Corporação.
A OAB Paraná também saiu em defesa da mulher e considera que a punição reflete o machismo e as relações desiguais de gênero presentes em toda a sociedade.
Condições para mulheres são alvo de críticas
Mulheres trabalham no Corpo de Bombeiros do Paraná há mais de uma década – a primeira turma entrou em 2005 – e são mais de cem, mas ainda sofrem com falta de estrutura exclusiva para elas, segundo agentes ouvidas pelo Metro Jornal.
Mulheres trabalham no Corpo de Bombeiros do Paraná há mais de uma década – a primeira turma entrou em 2005 – e são mais de cem, mas ainda sofrem com falta de estrutura exclusiva para elas, segundo agentes ouvidas pelo Metro Jornal.
“Onde eu trabalho não tem nem vestiário, nem alojamento e nem banheiro separado para mulher”, diz uma bombeira que trabalha na região metropolitana de Curitiba. Segundo ela, as companheiras se submetem a situações de constrangimento porque nem todos os quartéis têm dependências exclusivas.
No 1° Grupamento de Bombeiros, que atende a mais de 40 bairros da capital, apenas dois dos seis quartéis, de acordo com a bombeira, têm alojamentos femininos. Em outros locais, há casos em que as-bombeiras precisam fazer “adaptações”. “Ela dormia na sala de TV, em um colchão no chão ou no sofá, e quando ela precisava usar o banheiro e se trocar, pedia licença, fechava a porta e usava o mesmo banheiro que os homens”, diz a agente sobre uma colega do 1º GB.
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