Providência: PMs são flagrados alterando cena de crime
No vídeo, policial faz disparo e coloca arma na mão de adolescente morto em operação
RIO - Em um vídeo divulgado em redes sociais e que foi entregue pela Associação de Moradores do Morro da Providência à Polícia Militar, policiais militares aparecem mexendo no corpo de um adolescente de 17 anos, morto durante um confronto na manhã desta terça-feira na região.
Pelas imagens, é possível observar um grupo de quatro PMs em volta do corpo de Eduardo Felipe Santos Victor caído no chão, ensanguentado. Um deles faz um disparo, para simular um embate, e depois coloca a arma na mão da vítima, forjando um auto de resistência.
Os policiais envolvidos na alteração da cena do crime foram presos por fraude processual. Eles foram ouvidos na 4ª DP (Praça da República) e, em seguida, pela Divisão de Homicídios. Posteriormente, eles serão levados para a 8ª Delegacia Policial de Justiça Militar (DPJM), que ficará responsável pelas investigações. A apuração da morte de Eduardo ficará a cargo da Divisão de Homicídios (DH) da capital. Em nota, a Corregedoria da PM informou que determinou a abertura de um processo para avaliar se os PMs vão permanecer na corporação ou se serão expulsos, o que foi confirmado pelo porta-voz das UPPs, major Ivan Blaz. Segundo a Polícia Civil, a conduta dos cinco policiais serão analisadas separadamente. Dois deles já foram presos em flagrante pelo crime de fraude processual. A Divisão de Homicídios vai analisar a conduta dos outros três.
Já o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, repudiou, em nota, a ação dos PMs e determinou rigor nas investigações sobre o caso, "com punição exemplar dos responsáveis". Já o comando da Polícia Militar classificou como "gravíssima" a atitude dos policiais e afirmou que "não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta".
O deputado Marcelo Freixo (Psol), da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, disse que encaminhou ofício ao secretário de Segurança, pedindo que os policiais que aparecem no vídeo sejam identificados. Além disso, o parlamentar solicitou medidas de proteção à família do adolescente e às pessoas que filmaram a ação dos PMs.
MORADORES FAZEM MANIFESTAÇÃO NA CENTRAL
O clima é tenso no entorno do Morro da Providência, no Centro do Rio, desde a manhã desta terça-feira. Por volta das 20h30m, moradores do Morro da Providência fizeram protesto na porta da delegacia onde os PMs envolvidos foram ouvidos. Com gritos de "polícia assassina", eles tentaram impedir a saída de uma viatura da PM do local. Houve tumulto e os policiais lançaram bombas de efeito moral para dispersar os cerca de 50 moradores. O grupo chegou a queimar objetos e montou barricadas na via.
À tarde, traficantes teriam ordenado o fechamento do Terminal Rodoviário Américo Fontenelle, na região da Central do Brasil. Com isso, passageiros que aguardavam ônibus tiveram que deixar o local. A Coderte, que administra o teminal, no entanto, não confirma o fechamento do espaço. Segundo a empresa, houve um confronto entre PMs e manifestantes, "o que atrapalhou o embarque e desembarque de passageiros".
Mais cedo, moradores fizeram uma manifestação na Rua da América, que fica atrás da Central. Revoltados com a morte do adolescente, eles arremessaram pedras na direção dos policiais. A confusão assustou os motoristas que seguiam da Zona Portuária em direção ao Túnel Santa Bárbara.
FAMÍLIA NEGA ENVOLVIMENTO DE JOVEM COM TRÁFICO
De acordo com o comando da UPP da Providência, o confronto da manhã desta terça-feira aconteceu quando uma equipe que fazia patrulhamento na localidade conhecida como Pedra Lisa se deparou com criminosos armados, que dispararam contra os agentes. No confronto, Eduardo foi atingido e não resistiu aos ferimentos. Segundo a PM, o jovem era monitorado por envolvimento com o tráfico. Com ele, a polícia diz ter apreendido uma pistola calibre 9mm, munições e um rádio transmissor.
No Institiuto Médico-Legal (IML), parentes que aguardavam a liberação do corpo negaram que Eduardo tivesse qualquer envolvimento com o tráfico. Um tio do menino, que se identificou apenas como Leonardo, disse que Eduardo é estudante e mora na comunidade com a mãe e dois irmãos. O pai, que vive numa rua próxima, atualmente trabalha na obra do VLT. A família disse que ainda não viu o vídeo onde os PMs aparecem mexendo no corpo do jovem, mas contou que estuda se entrará na Justiça contra o estado. O enterro de Eduardo será nesta quarta-feira, no Cemitério São João Batista.
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