RESUMO DA NOTÍCIA
- Justiça decide que acusado de matar jovem Guilherme vá a júri popular
- Cabe recurso à decisão, então não há data para julgamento
- Crime ocorreu na zona sul de São Paulo e causou revolta popular
A Justiça de São Paulo determinou hoje que o sargento da Polícia Militar Adriano Fernandes de Campos, 42, acusado do assassinato do adolescente negro Guilherme Silva Guedes, 15, vai a júri popular pelo crime, ocorrido na Vila Clara, zona sul de São Paulo, em junho do ano passado.
O sargento está preso preventivamente desde agosto, quando se tornou réu pela morte de Guilherme. Ainda não há data para o júri, porque cabe recurso da decisão. Sua prisão foi mantida.
O processo contra o ex-PM Gilberto Eric Rodrigues, acusado pelo MP (Ministério Público) de ser o parceiro do sargento no crime, foi desmembrado.
Rodrigues está foragido desde 2015, quando fugiu do presídio Romão Gomes, onde estava preso devido à acusação por uma chacina. A polícia investiga se o ex-PM foi o autor de mais de 70 homicídios.
Figura do PM inspira temor, diz juiz
De acordo com a decisão do juiz Luis Gustavo Esteves Ferreira, familiares de Guilherme, ao prestarem depoimento à Justiça, em janeiro deste ano, solicitaram que Adriano não estivesse presente na sala de audiência "em razão do temor que sua figura lhes inspira".
O juiz anotou como um dos motivos para a manutenção da prisão preventiva "o resguardo da integridade física e psicológica dos familiares da vítima, já tão abalada pelos fatos ocorridos".
À época, o caso de Guilherme provocou profunda indignação na Vila Clara, bairro pobre na região do Jabaquara. Apesar dos apelos da família para que não houvesse violência, moradores realizaram protestos em que houve depredação de ônibus. A PM reprimiu a manifestação com balas de borracha e gás lacrimogêneo.
Indenização
O defensor público Daniel Secco, que está ao lado da família de Guilherme no processo, disse que a "Defensoria Pública espera que o Estado cumpra sua obrigação de responsabilizar quem violou de maneira tão grave os direitos humanos de um adolescente". Secco acrescenta que o Estado deve indenizar os familiares de Guilherme.
A mãe de Guilherme, Joyce Silva, comemorou a decisão. "Esperamos que se faça justiça mesmo". Mas torce pela localização do outro suspeito. "Espero que o encontrem para que a gente possa ficar sossegada, pois não sabemos o risco que nós e outras famílias corremos com ele na rua", disse.
Motivo torpe e meio cruel
Adriano e Rodrigues são acusados pelo MP de homicídio qualificado por motivo torpe e emprego de meio cruel que impossibilitou a defesa da vítima.
Segundo a investigação da Polícia Civil, Guilherme foi sequestrado próximo de sua casa e levado para um local na divisa de São Paulo com Diadema, onde seu corpo foi abandonado. Ele foi morto a tiros e, antes, foi atingido por um tiro não letal na boca.
Foi decisiva para o caso a investigação feita pela família, que localizou um vídeo em que Adriano e Gilberto aparecem perto de uma viela na Vila Clara, local onde Guilherme foi visto pela última vez com vida.
A defesa de Adriano, durante o interrogatório do acusado, em janeiro, admitiu que é o sargento que aparece no vídeo, mas que o policial nega participação no crime. "É ele no vídeo, mas ele não abordou Guilherme", disse o advogado Mauro Ribas, que, com Renato Soares, defende o policial.
Adriano é sócio de uma empresa de zeladoria que era responsável, na prática, pela segurança de um terreno da empreiteira Globalsan, conhecido na Vila Clara, como "terreno da Sabesp". O terreno é vizinho a um atacadista, onde moradores do bairro pegavam comida jogada fora por ter perdido a validade, segundo o UOL apurou.
Segundo a defesa de Adriano, furtos eram praticados no terreno. Mas os advogados dizem que Guilherme não teria participação nesses crimes.
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