Presos que denunciaram uma sessão de tortura dentro de um quartel do Exército no Rio afirmaram ontem, durante depoimento no Ministério Público Federal, terem sido ameaçados por militares no Complexo de Gericinó, onde estão detidos. As ameaças teriam sido feitas na quinta-feira passada, quando quatro integrantes do Exército foram ao presídio ouvir os detentos sobre as agressões denunciadas pelo EXTRA em novembro. Os presos também alegam que alguns trechos de seus relatos — justamente aqueles em que detalham as torturas sofridas — foram suprimidos da versão final dos depoimentos.
Ontem, três dos oito presos que denunciaram os militares foram ouvidos no MPF, no inquérito civil público instaurado pelo órgão para investigar o caso. Os depoimentos foram dados na presença de dois procuradores da República e um defensor público federal. Dois dos presos, um de 21 e outro de 20 anos, relataram terem recebido a visita de militares na cadeia na semana passada.
Os relatos dos dois são parecidos. Eles dizem ter sido levados a uma sala para serem ouvidos por quatro militares do Exército, que também investigam o caso. Antes dos depoimentos, entretanto, um dos homens teria intimidado os presos, ao dizer que eles deveriam ter cuidado com o que falassem.
— Ele disse exatamente isso antes de eu começar a falar: “Presta atenção no que você vai falar para não causar problema para você” — contou um dos presos, de 21 anos.
A Defensoria Pública não foi notificada sobre os depoimentos e não estava presente. Os presos não foram informados de que poderiam permanecer em silêncio.
Trechos do relato suprimido
O depoimento do jovem foi corroborado por outro preso, de 20 anos, preso em outra cadeia do complexo penitenciário. Ele diz que, após ser levado para a sala com os militares, um dos militares teria dito: “É melhor vocês falarem exatamente o que aconteceu, pode sobrar para vocês”.
Os dois jovens também acusam os militares de suprimir trechos da versão final de seus depoimentos. Um dos presos, que foi baleado nas costas no dia da operação, no Complexo da Penha, afirmou ao MPF que os feridos na ocasião não foram socorridos imediatamente pelos militares.
Após ter sido colocado num jipe do Exército junto de um adolescente — que havia sido ferido por estilhaços — e ao corpo de um homem que foi morto durante o tiroteio, o jovem diz ter levado choques elétricos e jatos de spray de pimenta no rosto. O preso também disse que, antes de levá-los ao Hospital Getúlio Vargas, vizinho à favela, os militares ficaram “dando voltas por 20 minutos” com o grupo, acusado de tráfico e porte de arma.
— Antes de nos levarem ao hospital, ficaram dando voltas com a gente. Nada disso foi colocado no depoimento que eles entregaram para eu ler no final. Ainda tive que assinar — disse o preso.
O adolescente também depôs ao MPF e confirmou as agressões. Ele foi o único dos três que ainda não foi ouvido pelos militares. Ao final dos relatos, o procurador Eduardo Benones enviou um ofício ao secretário de Administração Penitenciária pedindo que a integridade física dos presos seja resguardada. Procurado, o Comando Militar do Leste não respondeu o EXTRA.
Presos que denunciaram tortura em quartel dizem ter sido ameaçados por militares na cadeia
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