BOPE mata inocente “armado” com furadeira Cabo da tropa de elite confunde ferramenta com submetralhadora e atinge trabalhador no Andaraí
Ao confundir uma máquina de furar com submetralhadora, policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) matou, ontem de manhã, o supervisor de supermercado Hélio Barreira Ribeiro, de 46 anos. Ele foi atingido com tiro de fuzil que perfurou seu pulmão quando pregava a cortina no terraço de sua casa, no Andaraí. Há 12 anos na corporação e há dez na tropa de elite, o cabo Leonardo Albarello foi indiciado por homicídio doloso (com intenção), mas vai responder pelo crime em liberdade por ter se apresentado à 20ª DP (Vila Isabel).
A família de Hélio disse que, logo após o disparo, os policiais comemoraram ter acertado a vítima e seguiram até o terraço. A mulher do supervisor, Regina Ribeiro, que ajudava o marido a colocar a cortina, contou que foi xingada pelos PMs e obrigada a deitar no chão, com um fuzil apontado em sua direção. Mas ao verem a furadeira, os ‘caveiras’ perceberam o erro e levaram o baleado para o Hospital do Andaraí. Segundo vizinhos, ele já estava morto quando foi socorrido. A PM alega que Hélio ainda apresentava sinais vitais.
Eram 11h quando o casal, que mora na Rua Ferreira Pontes, acesso ao Morro do Andaraí, pregava lonas na fachada da casa, que serviriam de cortina para impedir a entrada do sol onde a família costumava se reunir para assistir TV. A cerca de 30 metros dali, uma equipe do Bope checava denúncia de que traficantes do Morro do Borel, na Tijuca — ocupado desde o dia 5 também pelo Bope — estariam coagindo moradores de uma vila. Horas antes, em outro acesso à favela, dois rapazes morreram em troca de tiros com policiais do 6º BPM (Tijuca).
Comemoração
Regina contou que, antes de subir na escada para furar a madeira onde pregaria a cortina, Hélio ainda disse: “Só falta eles acharem que estou com uma arma na mão”. A brincadeira virou tragédia. O tiro de fuzil 7.62 atingiu o braço esquerdo de Hélio, mas atravessou o pulmão e ainda acertou a cobertura do terraço. “Eles pegaram meu pai e jogaram no carro como se fosse um peso morto. E ainda comemoraram o tiro, dizendo que haviam acertado em um homem que estava com uma arma. Agora não precisa admitir que foi um erro”, revoltou-se Felipe Ribeiro, 23 anos, filho mais velho do supervisor.
O comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, disse que o cabo agiu corretamente e de acordo com o treinamento aplicado aos ‘caveiras’. Segundo ele, o policial teria mandado Hélio baixar o que pensava ser uma arma, antes de atirar, mas a vítima teria feito movimento brusco, como se fosse ‘disparar’ na direção dos policiais. Paulo Henrique frisou que Leonardo assumiu ter cometido o erro e está muito abalado. O fuzil utilizado pelo policial foi apreendido e encaminhado para perícia.
Policial fará avaliação psicológica
O tenente-coronel Paulo Henrique informou que, até o caso ir para a Justiça, o cabo Leonardo Albarello passará por uma avaliação psicológica para saber se terá condições de voltar a atuar em operações do Bope na rua ou se ficará restrito a serviços internos. Depois de prestar depoimento por mais de duas horas, o policial deixou a 20ª DP escoltado pelos colegas.
A delegada Leila Goulart, responsável pelo caso, disse que chamará vizinhos de Hélio, que presenciaram a ação do Bope, para prestar depoimento, e não descartou a possibilidade de fazer a reconstituição do crime. “O próximo passo é buscar mais testemunhas, além da esposa da vítima. Também poderemos convocar o policial novamente. Por enquanto, o inquérito vai apurar um homicídio doloso (com intenção), porque, embora tenha sido um erro admitido pelo policial, houve mesmo a intenção de matar”, explicou a delegada.
Viúva para PM: ‘Você matou meu marido’
A mulher do supervisor disse que foi humilhada pelo policial que atirou em seu marido. “Fiquei frente a frente com ele, que já estava em cima da laje em frente ao meu terraço. Comecei a gritar: ‘Você matou meu marido!’. E ele, do outro lado da rua, me mandou deitar no chão, me xingou e apontou a arma em minha direção, me ameaçando”, acusou Regina.
À tarde, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli estiveram no local de onde o cabo atirou e no terraço da casa da família Ribeiro. A furadeira foi levada pelos policiais para a delegacia.
Em entrevista coletiva, o comandante do Bope, Paulo Henrique Moraes, mostrou as fotos de uma máquina de furar, segundo ele, idêntica à que Hélio usava, e de uma submetralhadora. Depois, perguntou aos jornalistas se não seria possível confundi-las. Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que o governo vai oferecer assistência psicológica à família, cuidar do enterro de Hélio e iniciar os procedimentos legais para que a mulher e os dois filhos da vítima recebam pensão.
FONTE: O Dia
NOTA DO BLOG: A situação da segurança pública já está tão crítica, que vivemos numa eterna tensão. O ocorrido com o policial do BOPE, no Rio de Janeiro, foi uma fatalidade, já que é costumeiro eles invadirem favelas e serem recebidos a tiros. Vivemos sempre no limite. Se acertamos não somos reconhecidos, mas se erramos são nossos nomes que saem estampados nas primeiras páginas dos jornais. Se um bandido mata um policial, é “mais um policial morto” numa nota de jornal, não necessariamente na primeira página, mas no canto de uma página qualquer. Não justifico o erro do policial do BOPE, mas apelo à sociedade que também reconheça nossos acertos. Todos os dias defendemos e damos nossas vidas pela sociedade, que muitas vezes nos despreza. São inúmeros policiais mortos em combate ao crime, todos os anos que deveriam ser, no mínimo, reconhecidos como heróis e não tratados como apenas “mais um”.
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