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domingo, 22 de outubro de 2017

Atirou pelas costas', diz passageiro sobre PM que o baleou em ônibus

06/08/2015 07h02 - Atualizado em 06/08/2015 09h08

Sobrevivente teve pulmão perfurado e perdeu parte de movimento do braço

Nilson Pinho Jr. diz que PM errou disparo e mentiu para não apanhar em SP.

Kleber TomazDo G1 São Paulo










Sobrevivente dos disparos do policial militar à paisana que reagiu a um arrastão dentro de um micro-ônibus na Zona Leste de São Paulo, o passageiro Nilson Ferreira de Pinho Junior, de 26 anos, ainda tenta entender por que foi baleado pelas costas (veja vídeo acima). Na terça-feira (4), ele teve alta médica do hospital onde estava internado desde o dia 24 de julho, quando teve o pulmão perfurado pelo cabo Flávio Castro.
Nilson Ferreira de Pinho Filho teve o pulmão perfurado e perdeu parte dos movimentos do braço direito. 'Atirou pelas costas', disse o passageiro a respeito do policial militar que o baleou (Foto: Rodrigo Gonzaga/ Divulgação)Nilson Ferreira de Pinho Filho teve pulmão perfurado
(Foto: Rodrigo Gonzaga/ Divulgação)
Os tiros do cabo da Polícia Militar (PM) acabaram matando o amigo de Nilson, Carlos Roberto Garcia de Aquino, de 29 anos, que também estava no veículo. 

Em entrevista ao G1, o policial militar de 47 anos, alegou que atirou em Nilson e em Carlos porque os confundiu com quatro assaltantes que roubaram os demais passageiros minutos antes dos disparos (assista vídeo abaixo).

Procurado pela equipe de reportagem para comentar as declarações do atirador, Nilson discordou da versão apresentada por Flávio. “Na minha opinião, eu acho que ele errou. Ele atirou pelas costas”, disse a vítima, que considerou o policial militar despreparado para a função. “Falou que atirou em bandido para não ser linchado pelos demais passageiros”.

Nilson e Carlos trabalhavam como motoristas de ônibus, mas na noite daquela sexta-feira de julho, estavam apenas pegando carona no coletivo, que era guiado por outro condutor. Eles também não usavam uniformes. Cerca de 20 pessoas estavam no veículo, que fazia a linha 3787 (Cidade Tiradentes-Metrô Itaquera), da companhia Pêssego Transportes.









O cabo fez três disparos. Carlos não resistiu ao ferimento e morreu ali mesmo, na Avenida Ragueb Chohfi, no Jardim Pedra Branca, em Cidade Tiradentes. Nilson teve o pulmão perfurado, e foi levado ao Hospital Municipal de Cidade Tiradentes, onde passou por cirurgia.
“É um choque que será difícil de superar. Meu colega infelizmente não sobreviveu. Tirou a vida do meu amigo”, disse Nilson sobre a perda de Carlos.
Além do pulmão perfurado, Nilson declarou que perdeu parte dos movimentos do braço direito. “Terei de procurar agora um outro médico para tentar recuperar o movimento. Sou motorista e dependo do meu corpo para trabalhar”, afirmou o sobrevivente, que está com a mulher grávida de três meses.

Apesar do trauma, Nilson ainda se lembra com detalhes do que aconteceu no mês pasado na Ragueb Chohfi.

“Eu estava dentro da lotação, sentado. Com uma blusa que escondia o uniforme. Meu amigo estava sem. Aí entraram quatro caras e começaram a fazer arrastão”, contou o passageiro. “Quando vimos que um dos bandidos não desceu e mesmo desarmado tentou pegar a bolsa de uma menina, eu e meu amigos fomos para cima dele e aí escutei os disparos”.
motorista Carlos Roberto Garcia de Aquino (Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)Motorista Carlos Roberto Garcia de Aquino
(Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)
Nilson contou ter achado que os tiros haviam sido dados pelos criminosos que estavam na rua, mas se enganou quando notou que sangrava. “Quando fui alvejado achei que fosse morrer”.

Em seguida, Nilson lembrou que o PM havia dito a ele e a Carlos, os dois baleados e caídos, que eles eram ladrões. “Respondi: ‘Nós não somos ladrão, não, somos trabalhadores’. ‘Por que está atirando em nós, somos trabalhadores’. Mas acho que ele falou que éramos bandidos porque percebeu que errou os tiros e nos acertou. O PM não queria apanhar dos demais passageiros”.

Para Nilson, por mais que o cabo tenha dito que queria se defender e proteger os passageiros, ele errou. “Vou procurar um advogado porque o que o PM fez não foi certo”.
Ele atirou pelas costas"
Nilson Pinho Jr., passageiro, sobre PM que o baleou
“Achei que o pessoal [Carlos e Nilson] também estava envolvido, peguei e efetuei os disparos”, rebateu Flávio, que estava à paisana, sem a farda da PM. “Foi uma fatalidade”.
Os quatro criminosos que entraram no veículo fugiram com dinheiro, relógios e celulares dos passageiros. Dois deles estavam armados.

Motoristas de ônibus da Zona Leste fizeram um protesto pedindo punição ao cabo, que chegou a ser preso por matar Carlos e ferir Nilson. O cabo ficou detido por três dias no Presídio Romão Gomes, da PM, na Zona Norte, até ser solto por decisão da Justiça após pedido de liberdade feito por sua defesa. Ele responderá ao inquérito criminal em liberdade.

O caso é investigado pelo 49º Distrito Policial (DP), São Mateus, como homicídio e lesão corporal culposos. Ou seja, para a Polícia Civil o cabo não teve intenção de matar ou machucar os dois passageiros que confundiu com ladrões.
Cabo Flávio Castro (Foto: Kleber Tomaz / G1)Cabo Flávio Castro declarou que confundiu passageiros com criminosos que faziam arrastão (Foto: Kleber Tomaz / G1)
Versão do policial
Segundo o policial militar, atirar foi a única alternativa que restou a ele para não correr o risco de ser morto pelos criminosos. “Inclusive levaram até o meu celular, né? Queriam voltar depois para pegar relógios. E eu, como sendo policial militar, estava armado, fiquei com medo de o cara voltar para sacar minha arma e me matar”.

Flávio só percebeu que as duas pessoas que havia baleado não eram assaltantes no momento em que os passageiros o avisaram. “Quando o pessoal falou, quando o pessoal falou lá, né? Não! Parece que é motorista, parece que é motorista. Então falei: 'vamos socorrer'”, disse o cabo.

Questionado se errou, o cabo concordou que falhou. “Ah, não posso... Não sei, acho que sim, né?", declarou Flávio, que, no entanto, se defende que tenha atirado para matar. “Estava querendo defender o cidadão. Acabou para mim”.
De acordo com o advogado João Carlos Campanini, que defende os interesses do cabo Flávio, seu cliente é tão vítima quanto os demais passageiros, inclusive os que baleou, que também foram vítimas dos assaltantes durante o arrastão ao ônibus.

"O que não pode é massacrar um pai de família, policial militar, que, infelizmente, por uma fatalidade, acabou errando, né? Acabou atirando em pessoas inocentes, querendo acertar. Ou seja: ele errou querendo acertar", concluiu o advogado.

Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), havia informado anteriormente que “todas as circunstâncias em que se deram os fatos estão sendo apurada
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