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quinta-feira, 17 de julho de 2014

MG: julgado por outra morte, Bola diz que não erraria tiros

06 de novembro de 2012 • 20h54 • atualizado às 21h37

Ney Rubens


Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, é julgado no Fórum de Contagem (MG)
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra




Direto de Belo Horizonte

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, reconheceu durante depoimento no Fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta terça-feira, ser um especialista em armas e tiros, mas negou ser "um especialista em matar", como disse o delegado Edson Moreira também durante depoimento nesta terça-feira. Moreira foi arrolado como testemunha pela defesa do ex-policial, que é julgado pela morte do comerciante e carcereiro Rogério Martins Novelo, em maio de 2000. Bola também responde, junto com o goleiro Bruno Fernandes de Souza, pelo desaparecimento de Eliza Samudio.
Durante o depoimento, ele respondeu dezenas de perguntas sobre armas e suas especificidades. Os questionamentos foram feitos por um dos seus três advogados, Ércio Quaresma, que também exibiu ao réu e ao conselho de sentença um vídeo com fotos de armamentos e imagens de treinamentos aplicados por Marcos Aparecido dos Santos a policiais civis.
Os cursos, como o próprio Bola descreveu, eram aplicados no sítio que ele tinha em Esmeraldas, onde eram treinados também cães. "Este grupo que eu treinei, a BBC de Londres (emissora de TV) chegou a vir aqui em Belo Horizonte para fazer uma reportagem com ele", explicou, dizendo que entre os policiais que foram treinados por ele estavam ex-integrantes do Grupo de Resposta Especial da Polícia Civil (GRE), extinto em 2010 após os treinamentos clandestinos terem sido descobertos.
Bola também respondeu perguntas sobre as habilidades que tem no disparo com pistolas, revólveres, espingardas e fuzis. "Com um fuzil, a 50 m de distância, o meu índice de acerto é 97%. Com luneta é 100%", disse. Enquanto perguntava, o advogado Ércio Quaresma fazia simulações de distância e alvos onde Marcos Aparecido dos Santos acertaria caso precisasse. "Nessa distância não tem erro, o tiro acerta no triângulo, sem dar tempo para a pessoa reagir", disse, fazendo o gesto com as mãos mostrando que triângulo é o ponto do rosto de uma pessoa que fica entre os olhos e o nariz. Ao demonstrar as habilidades de Bola com armamentos e tiros, a defesa queria mostrar que ele não erraria os tiros disparados contra a vítima, portanto não seria o autor do crime porque o suspeito não acertou todos os disparos.
Os advogados alegam que Marcio Aparecido dos Santos foi apontado como o autor do assassinato erroneamente pela irmã da vítima, por meio de um retrato-falado: "Dada a sua destreza, a 1 m de distância da vítima, se você estivesse no lugar do atirador, você erraria e acertaria as costas do cidadão?", perguntou Quaresma. "Eu o acertaria na cabeça. Para ter certeza que ele morreu, descarregaria a arma na cabeça dele", respondeu Bola.
Bate-boca entre juíza e advogados
Durante o depoimento de Bola, a juíza Marixa Fabiane e os advogados discutiram por cerca de dez minutos. A magistrada não queria autorizar que fossem exibidos vídeos também para o conselho de sentença, o que, para ela, atrasaria o depoimento do réu e não estaria no momento correto.
Os advogados não concordaram e Quaresma ameaçou abandonar o júri. Segundo ele a magistrada estaria cerceando o direito de defesa do réu: "O réu está tendo todo o direito de se defender, os senhores é que estão querendo transformar aqui em um circo", respondeu a magistrada.
Quaresma rebateu dizendo que "não era palhaço", como teria insinuado a juíza, que voltou a rebater o defensor: "Cuidado com as palavras com o senhor se dirige à presidência desse júri", repreendeu. Depois da intervenção do advogado Fernando Magalhães, a magistrada autorizou que os jurados também assistissem aos vídeos e fotos.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.




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