Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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domingo, 25 de outubro de 2009

"Cadê a inteligência da polícia?"





25/10/2009 - 07h03
"Cadê a inteligência da polícia?", questionam moradores da Vila Cruzeiro (RJ)
As marcas de bala são a prova de que ali houve tiroteio, mas são poucos os que têm coragem de relatar o que viram nesta sexta-feira (24) durante confrontos entre traficantes e a polícia na Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro.



Famílias correm enquanto policiais e traficantes trocam tiros em plena luz do dia na Vila Cruzeiro na sexta (24); para moradores, falta planejamento à polícia nas operações nas favelas do Rio


A comunidade faz parte do Complexo do Alemão, mas ir até o local não é tarefa das mais fáceis, mesmo para o taxista carioca Marco Antonio, 51. Quando fica sabendo do destino da reportagem do UOL Notícias, toma um susto: "Menina, eu nunca peguei uma corrida pra lá. E está muito perigoso." Mas logo se prontifica, liga para um amigo que lhe diz o caminho por celular. E vamos.

A saída é de Copacabana, pelo túnel André Rebouças, que liga a zona sul à zona norte do Rio. A trilha sonora, "Águas de Março", de Tom Jobim. Só depois de uns 20 minutos é possível ver as primeiras favelas, mas nem sinal dos tiroteios que marcaram a semana. Mais de 40 morreram, entre policiais, moradores e traficantes.

Com a falta de sinalização, é preciso perguntar a um homem que passava vendendo algodão doce onde é vila que serviu de palco para os confrontos. "É seguindo muito, até lá na frente", responde. "Mas está havendo confronto mesmo?", reforça o taxista. "Tá havendo, mas hoje tá tranquilo", sorri o vendedor.

Tiros na Vila Cruzeiro atingem o ex-combatente, Brunio de Barros, 86, causado a revolta dos vizinhos. O militar da reserva do Exército foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, após ser baleado em um supermercado próximo à favela


Depois de uns 40 minutos, as ruas já começam a ficar mais estreitas e menos asfaltadas. Todas as vielas dão em morros, cada uma em uma comunidade. Na Vila Cruzeiro, a rotina começa a se normalizar, mas a feira semanal, que acontece aos sábados, está incompleta. Normalmente, ocupa toda a rua. Nesse dia, as barracas estão nas calçadas.

"É que o caveirão [o carro blindado das tropas de elite da polícia do Rio] vem aqui e derruba tudo. Os moradores que pagam por tudo isso", diz uma das vendedoras, que se recusa a afirmar que mora ali. Mas mora, segundo a amiga. "É difícil, a gente fica com receio", conta, se escondendo para não demonstrar que fala a uma jornalista.

Os moradores, ainda com medo, se recusam a falar. Mesmo sem câmera ou gravador, os garotos que cuidam da bicicletaria na entrada da favela dizem não saber de nada sobre os confrontos. Têm medo de que a polícia volte.

O primeiro a resolver falar, pouca coisa, é o senhor de 72 anos, sentado na barraquinha vendendo água e doces, com placa de preços escrita a giz na casa onde mora. Apesar de morar ali há "50 e tantos anos", prefere não ser identificado. "Aqui, quando não vem a polícia, é tranquilo", diz.



Helicóptero da PM sobrevoa o Complexo do Alemão, onde está a Vila Cruzeiro; segundo os moradores, conflitos no local são normais, mas o atual confronto chamou a atenção depois que um helicóptero semelhante foi abatido por bandidos


Já Nelson, 51 anos, todos eles vividos na comunidade, fala sem medo. "Já estamos acostumados [com tiroteios], mas essa história de que isso é uma guerra do tráfico, de um querendo tomar o morro do outro, é mentira. O que acontece é que a polícia resolveu interferir, e eles, aqui, já chegam atirando", critica.

Os confrontos começaram na madrugada do sábado (17). Segundo a polícia, em razão da disputa por pontos de venda de drogas entre traficantes do morro São João, no Engenho Novo, controlado pelo Comando Vermelho, que tentaram invadir o morro dos Macacos, em Vila Isabel, controlado pela ADA (Amigos dos Amigos).
Veja imagens do tiroteio na Vila Cruzeiro



Nelson, que é abordado a todo momento enquanto concede a entrevista, por gente que quer tirar dúvidas, ou simplesmente está curiosa de saber com quem ele fala, cita ainda o caso Afroreggae para defender que o problema dos atuais confrontos é o modo como a polícia age.

O líder do grupo morreu em um assalto, mas não foi socorrido por dois policiais militares, flagrados por câmeras de segurança liberando os assaltantes. Eles estão presos, pois também não prestaram socorro à vítima que, segundo um amigo, ainda estava com o coração batendo 50 minutos depois do crime.

"Eles [policiais] são piores que marginais. Há muita corrupção. Quando a polícia entrou aqui para prender o Elias Maluco, eles entraram sem dar nenhum tiro. Isso é coisa desse governador [Sérgio Cabral (PMDB)], que manda eles entrarem aqui desse jeito. Cadê a inteligência da polícia? Se eu tivesse um pedido, eu pediria para ele renunciar."

Nelson também reclama da falta de investimentos na comunidade e diz que, com os confrontos, seu filho não teve aulas, e a escola foi fechada. "O governo tem que mostrar serviço investindo aqui. Trabalhar pelos pobres. Seria bem melhor. Porque se eles não investem, vem o tráfico e faz o papel da polícia."
Governo "não dará trégua"

Para tentar controlar as ações dos traficantes, 10 detentos supostos líderes do tráfico no Rio foram transferidos ontem para a penitenciária federal de Campo Grande (MS). Segundo o governador Sérgio Cabral (PMDB), a troca mostra que o Estado não dará "trégua" para a criminalidade



Saindo da favela, crianças começam a cantar o hino ao traficante apontado como líder do morro, chamando-o de "imperador". É Fabiano Atanásio da Silva, o FB, por quem a polícia oferece uma recompensa de R$ 5.000. Seria ele o responsável pela invasão ao morro dos Macacos.

O apelido também é de outro representante da favela, o jogador Adriano. Dado como desaparecido, ele havia abandonado o Internazionale de Milão e a seleção brasileira para voltar às raízes na Vila Cruzeiro.

Nesse momento, Nelson lembra outro caso emblemático ocorrido lá, o desaparecimento do jornalista Tim Lopes, em junho de 2002 -aprisionado pelo grupo comandado pelo traficante Elias Maluco. "Esse lugar ficou marcado, é perseguido por esse episódio, mas eu gosto de morar aqui. É o meu lar", finaliza.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/10/25/ult5772u5794.jhtm
23/10/2009 - 11h26
Cabral exonera porta-voz da PM do Rio após declarações; 3 são feridos em tiroteio na Vila Cruzeiro.
O governador Sérgio Cabral mandou exonerar nesta sexta-feira (23) o relações-públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, major Oderlei Santos. O pedido foi feito ao comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, depois que Santos minimizou, em entrevista ontem à imprensa, a ação dos policias militares que liberaram os assassinos do coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva.

Santos havia dito que os PMs não podiam "ser chamados de criminosos" e se referiu ao episódio como "desvio de conduta". O governador afirmou hoje que o major se comportou como advogado dos policiais e que este não era o seu papel.

O capitão Denis Leonard Nogueira Bizarro e o cabo Marcos de Oliveira Salles são suspeitos de omitir socorro e ficar com os pertences que haviam sido roubados de Evandro da Silva, morto na madrugada de domingo (18) durante um assalto.

O governador pode pedir a exoneração imediata, porque se trata de um cargo de confiança. De acordo com a PM, o relações-públicas é indicado pelo comandante-geral da corporação.

Já os policiais militares são profissionais de carreira e devem passar por processo administrativo antes de serem exonerados. Por enquanto, os dois PMs flagrados nas imagens do assalto cumprem prisão disciplinar por 72 horas, desde a noite de quarta-feira.

Operações continuam nos morros
Na manhã desta sexta-feira, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estão no Morro do Juramento e policiais do 16º Batalhão estão na Vila Cruzeiro, na zona norte, em mais um dia de operações nas favelas do Rio de Janeiro.
Até o momento, três pessoas feridas na Vila Cruzeiro deram entrada no hospital Getúlio Vargas, na Penha. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio, Expedito José Rodrigues, 57, deu entrada no hospital Getúlio Vargas por volta das 10h após ser ferido superficialmente na perna direita. Ele já teve alta. Bruno de Barros, 86, foi ferido de raspão por um tiro na altura do tórax e recebeu um curativo. E Severino Marcelino dos Santos, 51, foi atingido por um tiro no rosto e deve ir para cirurgia.

Seis corpos com vários tiros foram encontrados por policiais em um matagal na favela do Fumacê, em Realengo, zona oeste. A perícia da Polícia Civil também está no local. Ainda não há informações dos autores do crime ou nomes das vítimas.

Um princípio de incêndio atingiu um apartamento no início da tarde na região da Penha, próximo a área dos confrontos. O incêndio pode ter sido causado por uma bala que atingiu o local.

O último balanço divulgado pela corporação informa que até o momento 41 pessoas foram presas e 33 mortas em confrontos entre traficantes e policiais. De acordo com a PM, 27 eram criminosos, três eram inocentes e três eram policiais. Ao todo, 31 armas e cinco granadas foram apreendidas e cinco carros foram recuperados.

O objetivo das ações é localizar e prender traficantes envolvidos nos ataques ocorridos no último fim de semana no morro dos Macacos, quando um helicóptero da polícia foi abatido por traficantes, causando a morte de três policiais.

A cúpula da Segurança Pública do Rio definiu como prioridade a captura do traficante Fabiano Atanázio, o "FB". Apontado como chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, ele teria liderado no sábado a invasão ao morro, dominado pela quadrilha Amigos dos Amigos.

O Disque Denúncia aumentou de R$ 2.000 para R$ 5.000 a recompensa por informações que levem à captura de "FB".
Menino observa arma de policial durante operação na favela de Parada de Lucas, no Rio
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/10/23/ult5772u5782.jhtm

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