PMs do Bope são acusados de agressão e destruição na Ladeira dos Tabajaras
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), considerado a tropa de elite da Polícia Militar, está sendo acusado de crimes que teriam sido cometidos durante uma ação na noite de domingo na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Durante uma reunião com o capitão Aslan Santos Orrico, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, na manhã desta segunda-feira, moradores denunciaram casos de tortura contra quem participava de uma festa com pagode na Rua Euclides da Rocha, roubo de dinheiro, celulares e bebidas alcoólicas de comerciantes que participavam do evento e destruição de equipamentos da banda.
Três pessoas foram baleadas durante a confusão, entre elas uma jovem identificada como Gabriele, de 23 anos, com um tiro na barriga, e Robson Jerônimo, de 18, com um tiro no pescoço. Os moradores também estavam revoltados com a morte de um cachorro, atropelado por um dos três blindados usados na operação.
Após a confusão, foram feitos vídeos para mostrar a destruição dentro de estabelecimentos comerciais e mostrar a movimentação dos policiais na favela. Numa das cenas, uma mulher grita ao passar ao lado de um dos PMs, que carrega uma arma nas mãos. Moradores relataram ao capitão Orrico que os agentes chegaram atirando e espancando quem encontravam pela frente.
O presidente da Associação de Moradores da comunidade, José Augusto Ribeiro, conhecido como Guga, e sua mulher, Vânia Ribeiro, diretora da entidade, denunciaram que os policiais invadiram lojas e espancaram as pessoas com cassetetes, garrafas e engradados de cerveja. Até equipamentos de som do grupo de pagode Pra Valer, contratado para o evento, foram quebrados. Um comerciante deu falta de R$ 4 mil do caixa da loja e de garrafas de uísque, entre outros objetos. Outro comerciante contou que policiais levaram quase todo o estoque de cerveja de uma geladeira.
— Havia mais de 200 pessoas na festa, incluindo mulheres e crianças, no momento em que os policiais do Bope chegaram atirando. Elas foram chamadas de piranhas, por estarem na rua aquela hora da noite. Isso é uma coisa que se faça? A quem devemos recorrer? Bateram muito, até em crianças. Meu filho de 15 anos estava na festa e me ligou chorando. A sorte dele foi que procurou refúgio na casa de uma moradora amiga. Mesmo assim os policiais ameaçaram invadir casas. Quem correu para dentro das lojas se deu mal. Eles entraram e bateram muito em todos. Corri para lá para proteger meu filho. E ainda descarreguei meu celular, ajudando mães que estavam com seus filhos lá também - contou Vânia Ribeiro.
Produtor do grupo Pra Valer, Luiz Carlos Fernandes Júnior disse que todos os instrumentos da banda foram destruídos pela PM:
— Estávamos com meia hora de show. Chegaram atirando e feriram três pessoas. Nos escondemos num comércio atrás do palco. Foi nossa sorte. Ficamos duas horas trancados lá dentro. Quando saíamos, lá pelas 3h, voltamos ao palco e vimos uma mulher, que estava pegando um carrinho de bebê jogado no chão, sendo ofendida por um PM. A confusão começou de novo e eles subiram no palco. Saímos novamente. Pouco depois, fomos recolher os instrumentos, mas vimos que rasgaram o cenário, quebraram o surdo, o tantan, a bateria, os cavaquinhos. Nosso notebook, que usamos para gravar músicas, sumiu. Calculo um prejuízo de R$ 25 mil. Ainda não nos reunimos para discutir o que fazer.
Um adolescente de 16 anos e a mãe, que participaram da reunião com o comandante da UPP, na quadra da escola de samba Villa Rica, contaram que a menina foi agredida com tapas no rosto por PMs. Outra jovem, de 19 anos, mostrou as marcas das agressões nas costas e na cabeça. Ela diz ter levado socos, tapas e uma coronhada de fuzil na cabeça.
O comandante Orrico disse que passaria as denúncias para a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) para que tomasse as providências cabíveis. Durante a reunião, ele disse aos moradores que o caso deveria ser investigado pela Corregedoria da PM. Por meio de nota, a Polícia Militar informou que a equipe da Corregedoria da PM tem buscado estar mais próxima à população, a fim construir relações de confiança para que os cidadãos se sintam seguros para denunciar eventuais crimes cometidos por policiais. Dois dos canais para recebimento de denúncias são o e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br e o WhastApp (21-97498-4593). Sobre a ação do Bope na comunidade a PM informou que 'logo após saída (do Bope) da comunidade, agentes da UPP foram informadas que três pessoas deram entrada no Hospital Miguel Couto".