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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Polícia decide solicitar apreensão de armas de PMs


Na foto, o coordenador-geral das UPPS, coronel Frederico Caldas, e o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, durante coletiva de imprensa Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

Na foto, o coordenador-geral das UPPS, coronel Frederico Caldas, e o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, durante coletiva de imprensaMARCELO PIU / AGÊNCIA O GLOBO

Que participaram de operação no Pavão-Pavãozinho

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RIO - Apesar de ainda não ter encontrado qualquer projétil no local em que estava o corpo do dançarino, Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, a Polícia Civil decidiu solicitar a apreensão das armas usadas pelos dez policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Pavão-Pavãozinho que participaram de operação na comunidade na noite de segunda-feira. A iniciativa visa a garantir que, na eventual descoberta da munição em novas perícias que serão feitas no local ainda esta semana, possa ser realizado o exame de confronto balístico que poderia determinar de que armamento saiu a bala que matou DG. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, já havia dito, no início da noite desta quarta-feira, em entrevista coletiva, que os dez policiais foram identificados e suas armas, "relacionadas".
Até então, a Delegacia de Homicídios (DH) optara por não solicitar a apreensão dessas armas porque o tiro que atingiu e matou o dançarino atravessou seu corpo, não havendo material para confronto balístico.
Na coletiva, o secretário disse, ainda, que falou com o chefe da Policia Civil, Fernando Veloso, que informou-lhe que o laudo cadavérico do dançarino "não permite falar em tortura". Beltrame não descarta a participação de PMs na morte de DG, mas afirma ser necessário apurar todas as hipóteses para esclarecer com transparência o que aconteceu com ele. As investigações serão conduzidas pela DH e pela 13ª DP (Ipanema). Beltrame contou que os dez PMs faziam parte de uma patrulha que na segunda-feira foi checar uma informação dada pelo Disque-Denúncia sobre o traficante Adauto do Nascimento Gonçalves, o Pitbull, apontado como chefe da quadrilha que atua na venda de drogas na região estaria na localidade conhecida como Estação 5. De acordo com Beltrame, eles foram recebidos a tiros e revidaram. O corpo de DG, ainda segundo ele, só foi encontrado pela polícia às 11h de terça-feira. O secretário afirmou que as ações ocorridas no Pavão-Pavãozinho - assim como no Alemão e no Jacaré - são orquestradas pela facção criminosa que está perdendo territórios. No caso da comunidade da Zona Sul, elas estariam sendo orquestradas pelo próprio Pitbull, que foi preso em 2009, fugiu em 2011 e estaria querendo "retomar seus negócios" lá.
- Beneficios judiciais precisam ser revistos para evitar o retorno às comunidades, como aconteceu com Pitbull - disse Beltrame.
Polícia confirma que tiro matou dançarino, mas não foi encontrado qualquer projétil no local
Segundo o delegado da 13ª DP, Gilberto da Cruz Ribeiro, - que com o titular da DH, Rivaldo Barbosa, voltou nesta quarta-feira ao Pavão-Pavãozinho, de onde saiu por volta das 17h30m - o tiro que atravessou o tórax de Douglas o matou. Ainda segundo ele, não foi encontrado nenhum projétil no corpo do dançarino, e nenhuma cápsula foi achada na creche em que seu corpo foi encontrado.
- Viemos apenas fazer o reconhecimento do local, para entender melhor o que aconteceu. Foi um tiro transfixante que matou o Douglas. Não achamos nenhuma cápsula de bala deflagrada no local. Já ouvi quatro policiais que participaram do confronto da operação. Ainda hoje, devo ouvir os outros seis policiais - disse Gilberto, que chegou às 16h30m desta quarta-feira ao Pavão-Pavãozinho e foi direto para a Creche Escola Lar de Pierina, onde foi encontrado o corpo do dançarino.
De acordo com laudo do Instituto Médico-Legal (IML), a morte de Douglas foi causada por uma “hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar, proveniente de ferimento transfixante do tórax”. As circunstâncias da morte, diz a polícia, ainda estão sendo investigadas.
Mais cedo, após o depoimento da mãe de Douglas, Maria de Fátima Silva, na 13ª DP, o advogado dela, Rodrigo Mondego, já tinha dito que peritos indicavam ser grande a chance de Douglas ter sido ferido à bala.
— Disseram que é grande a probabilidade, eu diria 99% de chance, de Douglas ter levado um tiro — afirmou ele, na ocasião.
Nesta terça-feira, porém, um outro laudo, o preliminar do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), afirmava que não haveria marcas de tiro no corpo de Douglas. Nessa perícia, feita na Creche Escola Lar de Pierina, no Pavão-Pavãozinho, local em que o corpo foi encontrado, também foi constatado que havia um rastro de sangue entre o muro onde, supostamente, o dançarino do “Esquenta” da TV Globo teria caído, até o pátio da creche.
Segundo amigos, o dançarino estaria participando de um churrasco na laje de um prédio de três andares quando, por volta de 1h de terça-feira, bandidos e policiais da UPP que faziam uma ronda começaram um tiroteio. Para sair da linha de tiro, Douglas e um outro rapaz teriam se lançado no ar,a fim de tentar alcançar o telhado de um outro imóvel, cerca de dois metros à frente. Segundo eles, o outro rapaz conseguiu escapar ileso, mas Douglas teria batido com as costelas em um muro divisório e caído cerca de 15 metros, nos fundos da creche vizinha. Eles não sabem dizer se Douglas teria sido atingido no momento do salto.
Clima ainda é de rovolta na comunidade
Na comunidade, um dia depois do protesto pela morte do dançarino, o clima ainda é de revolta nesta quarta-feira. E muitos moradores reclamam da ação dos policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
— Isso que aconteceu com o Douglas já estava anunciado. Nove em cada dez jovens já foram esculachados aqui — disse uma mulher que não quis se identificar, temendo represálias.
Já outra moradora, Maria Cristina dos Santos, de 54 anos, nascida e criada no morro, contou que um de seus três filhos, um jovem de 20 anos, funcionário de uma lanchonete, teve que sair da favela porque um policial da UPP o ameaçou de morte.
— Meu filho estaria morto se não tivesse ido embora há um mês e meio. Eu não quis que ele ficasse aqui. Prefiro ele longe do que morto — afirmou ela, muito revoltada. — Meu sobrinho, ontem à noite, levou três pancadas de fuzil na costela.
Em seguida, o jovem de 15 anos apareceu mancando e reclamando de muita dor.
— Quase todos os meus amigos já levaram tapa na cara de PM. Basta estarmos parados conversando para eles nos tratarem como bandidos — disse o adolescente.
Outro jovem, de 20 anos e que trabalha como DJ, tinha no bolso esta tarde um registro de ocorrência feito na manhã desta terça-feira. Ele conta que ele e seu irmão foram abordados na segunda-feira por quatro policiais da UPP. Segundo o jovem, um dos PMs o xingou durante a revista.
— Respondi que ele não poderia dizer aquilo. Ele deu dois tiros na parede perto do meu ouvido. Achei que fosse ficar surdo — lembra o DJ, dizendo que chegou a ir à sede da UPP, onde disseram que nada poderia ser feito.
Mãe de Douglas diz que filho sofreu tortura
Na delegacia, Maria de Fátima fez um apelo para que moradores do Pavão-Pavãozinho que tenham visto seu filho sendo espancado e torturado tomem coragem e prestem depoimento na 13ª DP (Ipanema). Ela disse ter ficado impressionada como estava machucado, com os lábios roxos e um corte no supercílio. E pediu explicações sobre a morte de Douglas.
— Durante toda a madrugada, vizinhos viram o entra e sai de policiais militares de uma creche que estava fechada. Alguns usavam luvas cirúrgicas. Por que só às 11h que a perícia foi chamada? — questionou ela, que voltou a lembrar que o corpo e os documentos de seu filho estavam molhados.


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