PM que matou empresária trans de maneira covarde em suíte de
motel se apresenta com advogado. Polícia só passou a investigar o caso após
pressão do noticiário. Vídeo flagrou fuga desesperada do assassino
policial mata mulher trans manaus
Jeremias (esq) e Manuella Otto
com Amazônia Real
As imagens também mostram que ele tem uma tatuagem nas
costas, na região do omoplata direito. Sem conseguir abrir a porta da garagem
do motel, o homem usa o veículo e arromba a porta do estacionamento, deixando a
cena do crime brutal contra a atriz, produtora, empresária do ramo de animação
de festas infantis e ativista do movimento Trans, Manuella Otto, de 25 anos.
O homem que matou Manu, como era mais conhecida a defensora
dos direitos de pessoas travestis e transexuais do Amazonas, disparou dois
tiros contra ela, que não teve a chance de se defender: um disparo atingiu as
costas e atravessou o tórax; o outro o braço esquerdo, segundo o laudo do
Instituto Médico Legal (IML).
O homem em fuga foi identificado como sendo o soldado da
Policial Militar Jeremias da Costa Silva, que é lotado na 12ª Companhia
Interativa Comunitária (Cicon). O veículo usado na fuga é um Chevrolet Prisma,
de cor branca e placas PHJ-1418, de propriedade do soldado Jeremias.
A Polícia Militar do Amazonas informou que abriu um
Inquérito Policial Militar (IPM) para analisar o suposto envolvimento do
policial no crime de homicídio. A PM informou que ele estava afastado das
atividades policiais no dia do crime.
No fim da manhã da segunda-feira (15) de Carnaval, a
Delegacia de Homicídios informou que não tinha pistas do soldado Jeremias ou de
outros envolvidos no caso. “O crime foi no sábado, né? Ainda não chegou por
aqui. Quando chegarem as informações é que vão destacar alguém para investigar
o caso. Mas por enquanto o que tem sobre isso é o que saiu na mídia”, disse um
policial à agência de notícias Amazônia Real. Ele pediu para não ser
identificado, apesar de ser um agente público que está no cargo para esclarecer
crimes.
A revolta é grande entre as ativistas do movimento das
pessoas Trans e defensoras de direitos humanos. “A Manuella era uma atriz,
tinha uma companhia de entretenimento infantil. Era uma empresária, fazia
animações em festas infantis. Ela chegou a ser professora do Cláudio Santoro e
do Sesc. Então, estamos falando de uma pessoa que tinha uma carga de
conhecimento, experiência dentro do teatro, e ela teve a sua vida ceifada de
forma brutal. Aí tem um algoz que é um policial militar e o silêncio
ensurdecedor segurança pública do estado”, lamenta Michele Pires Lima, que faz
parte da diretoria da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros
A transativista Michele Pires Lima é historiadora e
mestranda na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Para ela, a morte de
Manuella Otto revela a vulnerabilidade da população transexual no Amazonas, no
que diz respeito à segurança. “O caso Manuella Otto é muito triste. A gente não
se sente segura e protegida pelos mecanismos de segurança pública. A gente está
à mercê. Aí a gente se pergunta, a quem recorrer?”, questiona.
Acompanhado de um advogado, Jeremias da Costa Silva se
apresentou na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) na
manhã de terça-feira (16).
“Ele não respondeu aos questionamentos da autoridade
policial, o que é direito dele. Há imagens que mostram um homem saindo do local
com uma camisa na cabeça, para dificultar sua identificação. Cabe a nós
angariar como provas necessárias para identificar esse homem ”, disse o
delegado Charles Araújo.
A morte de Manu aconteceu 15 dias após a data em que o mundo
comemorou a visibilidade trans, em 29 de janeiro. “O Brasil é o País que mais
mata pessoas trans, que mais mata travestis, mulheres trans e homens trans no
mundo. Então a gente não quer novamente que Manuela se torne uma estatística.
Queremos que haja justiça de alguma maneira”, cobrou a historiadora Michele
Lima.
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