Henrique Otávio de Oliveira Velozo é acusado de atirar e matar o campeão de jiu-jítsu; ele está no presídio da Polícia Militar Romão Gomes
Depois de atirar e matar o campeão mundial de jiu-jítsu
Leandro Lo Pereira do Nascimento, de 33 anos, na madrugada do último dia 7, o
policial militar Henrique Otávio de Oliveira Velozo foi a uma boate, consumiu
bebidas e saiu acompanhado de uma mulher, que levou a um motel da capital paulista.
As revelações são da Polícia Civil, que permitiu acesso a
imagens de câmeras de segurança mostrando a trajetória do policial após ter
atirado no lutador. Acusado de homicídio doloso, ele está preso no Presídio
Militar Romão Gomes.
O PM pode ser visto de boné preto na recepção de uma boate em Moema, na zona sul da capital, por volta das 3 horas, pouco depois de ter saído do clube Sírio, localizado a cerca de dois quilômetros. No local, conforme as comandas obtidas pela Polícia Civil, Velozo consumiu uma garrafa de uísque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin.
Ainda segundo a Polícia Civil, o casal seguiu para um motel em Pinheiros, onde chegou por volta das 5h40 e permaneceu cerca de 11 horas. O crime no Esporte Clube Sírio aconteceu por volta das 2 horas. Imagens do circuito interno mostram a movimentação no interior do clube quando teria ocorrido o disparo da arma de fogo. Houve correria do público em direção às saídas.
O advogado Cláudio Dalledone, que defende o policial militar Henrique Velozo, disse estranhar a divulgação pela imprensa de imagens do policial em casas noturnas, “supostamente” depois dos fatos.
“Estas imagens precisam ser juntadas aos autos para que a defesa possa fazer uma análise e, se necessário, até solicitar uma perícia. A defesa não vai permitir que se criem conclusões precipitadas, pré-julgamentos. É preciso ter cautela para que haja um julgamento justo. O policial Henrique Velozo se apresentou à Corregedoria da Polícia Militar após o crime e está à disposição das autoridades policiais”, afirmou em nota.
O advogado informou ainda que pediu à Polícia Civil que
realize exames complementares no corpo do lutador Leandro Lo. A petição foi
endereçada ao delegado do 16º Distrito Policial de São Paulo. Segundo ele, no
exame toxicológico solicitado pela investigação deve ser explicitado se a
vítima havia consumido drogas e hormônios.
“A defesa irá acompanhar de forma muito diligente todos os atos de investigação do inquérito policial e ainda realizar uma investigação defensiva para que nenhum factoide e nenhuma lenda assuma a direção deste caso criminal”, disse Dalledone.
A defesa pontua que o policial agiu de forma defensiva, após ser atacado pelo lutador, que estava na companhia de outros cinco lutadores.
Em outra petição, o advogado pediu a restituição do celular entregue à Polícia Civil pelo PM, alegando que o aparelho “está sendo ilegalmente acessado, modificado e bisbilhotado”.
Dalledone explicou que, ao se apresentar à corregedoria da Polícia Militar, Velozo entregou seu celular e a pistola Glock .380, arma particular registrada, bem como nove munições intactas. Segundo o defensor, a conta da rede social Instagram do policial foi invadida e modificada.
“A conta, que até então era fechada, foi ilegalmente aberta e para tudo e todos. Velozo possui duplo fator de autenticação, ou seja, para modificar qualquer detalhe em sua rede social, obrigatoriamente precisa do seu aparelho telefônico e do chip cadastrado (ambos foram entregues para a autoridade policial)”, alegou o advogado.
Família de Leandro
O advogado da família do lutador, Ivã Siqueira Júnior, lembrou que, via de regra, o inquérito policial é um documento público e pode ser acessado por qualquer cidadão.
“Em alguns casos, a autoridade policial ou a Justiça pode colocar sob sigilo para proteção de uma parte vulnerável, por exemplo, ou conforme a conveniência da investigação, mas até o momento isso não aconteceu no caso específico. Então qualquer pessoa, inclusive os jornalistas, podem ter acesso”, disse.
Conforme o advogado, os fatos novos divulgados pela imprensa não serão comentados pela família. “Por ora, até em respeito à família, que ainda está muito abalada com o que aconteceu, vamos só reforçar aquilo que já dissemos”.
Relembre o caso
De acordo com testemunhas, o lutador de jiu-jítsu estava com cinco amigos no clube, quando o policial, que também pratica artes marciais, se aproximou e começou uma provocação, pegando as bebidas que estavam na mesa. Leandro reagiu e pediu que ele deixasse o local.
Segundo o advogado, durante a discussão, o lutador foi “peitado” pelo PM, por isso o imobilizou com técnicas de jiu-jítsu. Após se afastar, o policial sacou a arma e atirou.
Ainda segundo Júnior, testemunhas relataram que o agressor teria chutado duas vezes a cabeça de Leandro, já caído. O atleta foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, no Jabaquara, na zona sul de São Paulo, mas não resistiu.
Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jítsu por oito vezes. A última conquista, na categoria meio-pesado, foi em 2022; a primeira, em 2012, na categoria peso-leve.
Procurada para comentar o assunto, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado disse que “policiais civis do 16°DP coletaram imagens do trajeto realizado pelo autor após o crime até o momento em que ele se entregou na corregedoria da Polícia Militar” e que testemunhas serão ouvidas.
PM será julgado como “assassino”, diz governador
Nesta segunda-feira (15), o governador Rodrigo Garcia (PSDB)
disse que “o PM será julgado como um assassino”. Garcia respondia a um apelo
feito em rede social pela mãe do lutador, Fátima Lo, que pedia a expulsão do
acusado dos quadros da PM.
“O policial está preso, já abrimos um procedimento disciplinar, o salário dele já está suspenso e não tenho nenhuma dúvida que vai terminar o processo disciplinar com a expulsão dele que não é policial, é assassino”, afirmou.
Henrique Velozo foi indiciado pela Polícia Civil pelo crime de homicídio doloso qualificado por motivo fútil, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que também afirmou que a Polícia Militar abriu uma apuração administrativa para investigar o caso.
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