Série de filmagens feita por Dona Vitória, na janela de casa, nos anos 2000, levou à investigação que prendeu mais de 30 pessoas
atualizado 27/02/2023 11:12
A idosa que ficou conhecida como Dona Vitória, após uma série de filmagens que resultou em investigações criminais no Rio de Janeiro, morreu nessa quinta-feira (23/2), aos 97 anos. Vivendo há quase 20 anos no anonimato, por questões de segurança, ela também teve o nome revelado: Joana Zeferino da Paz.
Joana era alagoana, mas morreu na Bahia.
O caso foi revelado em 2005, pelo jornal Extra. Joana morava em um apartamento na Praça Vereador Rocha Leão, de fundos, que dava para a Ladeira dos Tabajaras. Pela janela, começou a ver a movimentação de traficantes em uma boca de fumo.
Gravações
Conforme foi apurado à época, a idosa entrou com uma ação contra o Estado em razão da desvalorização de seu imóvel, local onde ela morou por 36 anos. As filmagens seriam, inicialmente, para desmentir a alegação, dentro da ação judicial, de um coronel da PM, que disse que a moradora mentia sobre a existência do tráfico, que seria combatido pelo batalhão.
Por isso, Joana decidiu comprar uma câmera de filmar e gravar as cenas que via cotidianamente. As fitas, que mostravam as negociações e movimentações do tráfico de drogas, foram entregues à Polícia Civil, que deu início à investigação.
Além dos traficantes, foram condenados policiais militares por omissão e pelo recebimento de propinas para fazer vista grossa para o crime organizado.
Joana morreu na Bahia, após 17 anos vivendo sob um anonimato forçado, por questões de segurança.
Em seu testemunho publicado no Jornal Extra, Fábio Gusmão, que fez a reportagem na época e seguiu acompanhando o caso, conta que Joana deixou o imóvel onde viveu por 36 anos para ingressar no Programa de Proteção à Testemunha.
Começou ali uma vida de “privações, angústia, desapego e resiliência”. “O seu desejo, há anos, era ter o reconhecimento público”, escreveu Gusmão.
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